À primeira vista o filme de Denis Villeneuve pode até
parecer mais uma ficção científica hollywoodiana sobre uma invasão alienígena ao
planeta terra. No entanto, o longa é muito mais do que isso, é uma obra
carregada de suspense, poesia e questões filosóficas. Portanto, o filme não é
indicado para quem esteja a fim de um blockbuster pipoca sobre aliens, como
Independence Day e afins. A Chegada se destina aos apreciadores de uma boa
ficção científica, que se baseia em conceitos científicos e filosóficos para
criar uma trama interessantíssima.
O longa narra a chegada de ETs em diversas partes do mundo,
e conta como os humanos entram em contato com eles para entenderem qual a real intenção
dos alienígenas pousarem na terra. Para compreender os visitantes
interplanetários, o exército dos EUA convoca a linguista e professora
universitária Dra. Louise Banks (Amy Adams) para desvendar a língua dos aliens.
Basicamente o filme todo se mantém na linguista tentando se comunicar com os
ETs ao mesmo tempo em que vai compreendendo o código de linguagem dos mesmos.
O começo do filme é um pouco lento e exige a atenção do
expectador. No entanto, conforme a história vai se desenvolvendo Villeneuve
consegue a total atenção do público através de uma atmosfera de suspense muito
bem orquestrada. O diretor se mostra mais uma vez um bom construtor de tensão e
suspense que instigam a plateia, assim como já demostrou em seus trabalhos
anteriores O Homem Duplicado e pincipalmente em Os Suspeitos.
Além do suspense, Villeneuve trabalha muito bem com a
construção das imagens do filme (fotografia belíssima) e com a própria
estrutura do roteiro. O tema central de A Chegada é a linguagem, e como ela
está ligada com a cultura e com o modo de pensar dos falantes. E o interessante
é que Villeneuve usa do próprio tema da linguagem na sua obra em si, através da
estrutura do roteiro não linear que se relaciona com a língua dos ETs, o
diretor usa a metalinguagem de forma muito inteligente.
Ainda sobre a abordagem do tema da linguagem, o filme se
baseia na teoria linguística de Sapir-Whorf que resumidamente diz que o idioma
e o modo de pensar estão interligados, um afeta o outro. É interessante notar
que se pensarmos bem isso faz todo o sentido, visto que o sotaque, a entonação,
a fonética e a escrita de uma língua dizem muito sobre o povo que a fala. Pegue
o Alemão por exemplo, é um idioma que soa mais “agressivo e rude”, assim como
os seus falantes que tem um modo de pensar mais rígido e disciplinado. O Italiano
por sua vez é uma língua mais “cantada”, que traduz bem o caráter mais aberto e
indisciplinado dos seus nativos. Portanto,
segundo a teoria de Sapir-Whorf , para aprender verdadeiramente um idioma você
precisa compreender a cultura que o fala, aprender a pensar como quem o fala.
Só quando a Dra. Banks começa a compreender o modo de
pensar dos alienígenas é que ela consegue entender realmente o seu idioma. No
filme essa teoria é elevada até a última potência, e quando a Dra. Banks “fica
fluente” no idioma extraterrestre ela passa a compreender o mundo assim como
eles, ocasionando no plot twist do longa.
Apesar do plot twist ser muito bom, o filme acaba pecando
um pouco justamente nele. Primeiro que para um telespectador mais atento a
charada já pode ser “matada” parcialmente no meio do longa, devido as pistas
que o diretor dá que deixam bem claro o que está por vir. Segundo que após revelação
total do plot twist, que é muito bem-feita e emocionante, o filme tenta deixar
ainda mais claro o que aconteceu, já está estaria de bom tamanho a explicação
sutil, mas o diretor insiste em deixar ainda mais evidente. É um excesso que
pode incomodar o expectador mais perspicaz, mas que não chega a tirar o brilho
do filme.
Por fim, outro ponto que o longa exagera um pouco é no
melodrama. Como dito no primeiro parágrafo o filme é bem poético, tanto nas
belas imagens quanto na história em si. No entanto, há alguns momentos em que
essa poesia é extrapolada para o campo do melodrama, especialmente na parte final
do longa.
Quanto as atuações, as mesmas são impecáveis, ninguém fica
abaixo da média. Amy Adams, como de costume dá um show, com uma interpretação
ao mesmo tempo forte e contida ela carrega o filme quase que sozinha apesar do
elenco de apoio também estar muito bem. Jeremy Renner e Forest Whitaker,
cumprem bem o seus papeis de dar suporte a protagonista.
Por fim, A Chegada é um filme diferente do habitual. É uma
obra que mescla Syfy com suspense e com uma boa reflexão filosófica. É, portanto,
apesar dos seus excessos, um filme que merece ser visto, discutido e pensado.
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