MINDHUNTER
Por si só, apenas o fato de ter como produtor e diretor
David Fincher já é motivo suficiente para atrair os holofotes para Mindhunter.
Mas a série não é apenas mais uma obra do diretor de Clube da Luta e Seven, é
definitivamente um dos seus melhores trabalhos. O cineasta brinda novamente o
público da Netflix com mais uma produção original do mesmo calibre da sua série
anterior no serviço de streaming, House of Cards.
Mas por que a série é tão boa assim? o que a torna uma obra
de destaque em meio a uma cinebiografia tão rica quanto a do diretor?
Primeiramente, porque a premissa do seriado é extremamente interessante. A
história gira em torno de Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt
MacCallany), dois agentes do FBI que decidem entrevistar vários serial killers
em penitenciárias de segurança máxima ao redor dos EUA para tentar entender
melhor porque eles fazem o que fazem, traçando um perfil psicológico dos
mesmos, e assim podendo prevenir futuros crimes e desvendar os que estão em
curso.

Além da premissa interessante o do fato de ser uma história
real, a qualidade técnica da produção da Netflix é incrível. Há um bom tempo
que as séries de tv, ou streaming no caso, utilizam bastante da linguagem cinematográfica,
e contam com produções milionárias. Foi se o tempo que os seriados tinham uma
qualidade muito inferior ao cinema. No entanto, falando em termos técnicos como
direção e fotografia, o que é mostrado em Mindhunter é realmente impressionante,
não existe diferença alguma entre os grandes filmes do Fincher e Mindhunter.


Há apenas um fator que pode desagradar uma parte do
público. Apesar de ser uma série que fala sobre serial killers, não é mostrado nenhum
assassinato. Com exceção de uma cena de suicídio logo no primeiro episódio, não
é mostrada nenhuma violência gráfica, apenas psicológica. Isso pode pesar
negativamente para quem está esperando uma série policial clássica, com
perseguições, tiros, e assassinatos. No entanto, como o próprio título do
seriado diz, os agentes Holden e Tench são Mind Hunters, o embate está no campo
da mente e não no físico. Portanto, essa uma série que preza bastante pelos
diálogos e pela linguagem cinematográfica para fazer a história andar.

NOTA:
9,1
3%
Primeira série brasileira da Netflix, 3% se passa em um futuro distópico onde a população é dividida entre o povo que mora no continente (na pobreza absoluta) e a elite que mora no Maralto (na riqueza, com abundância de recursos). Quando completam 20 anos todos os moradores do continente têm direito a prestar uma prova de admissão para morar no Maralto, exame conhecido como “O Processo”. Neste processo seletivo os participantes são avaliados nos mais diversos quesitos, como inteligência, força física e liderança. No entanto, a prova só admite 3 % do total dos participantes, e quem não passa na prova não pode voltar a participar nunca mais, ficando condenado a pobreza.

A principal crítica de 3% é uma clara alusão ao processo do vestibular, e o seu sistema “meritocrático”. A série questiona até que ponto essa meritocracia é de fato verdadeira, se realmente é levado em conta apenas o mérito puro e simples nesses tipos de processos seletivos. No seriado, os avaliadores do Processo permitem que alguns candidatos trapaceiem e que usem de jogo sujo em algumas provas, mostrando que não é apenas o mérito que está em jogo nessa avaliação. Assim como o vestibular que se vende como um processo meritocrático, mas que não considera as diferenças entre estudantes de escola pública e particular.

Os grandes pontos negativos da série com certeza são o elenco de apoio e os diálogos. Ao contrário do elenco principal que conta com atores muito bons como Bianca Comparato (A Menina sem Qualidades) e João Miguel (Estômago), o elenco de apoio é composto por atores que beiram o amadorismo, em parte pela falta de expressão e em parte principalmente pela baixa qualidade dos diálogos. Os diálogos são muitas vezes excessivamente explicativos, ao invés de mostrar com ações o que os personagens estão sentindo, os roteiristas tentam explica-las através dos diálogos. Por exemplo: O personagem diz em voz alta que está muito triste com determinada situação, ao invés de apenas ser mostrada a sua expressão de tristeza. Nesse ponto, alguns dos diálogos da série lembram muito os diálogos de novelas, altamente explicativos para garantir que o telespectador entenda o que está acontecendo.

Por fim, apesar de algumas falhas, 3% é um vento novo muito bem-vinda a produção do audiovisual brasileiro. Num país conhecido pela qualidade dos seus filmes mais cults, mas que ainda peca no cinema mais comercial, a série representa algo novo e de qualidade (caso contrário a Netflix não teria acreditado no projeto). Primeiro porque 3% é uma série nacional, tipo de produção bem escassa no Brasil, realidade que finalmente está mudando devido a lei de incentivo as produções de audiovisual brasileiro que renderam outras belas produções como Magnífica 70 e O Negócio. Segundo porque trata de um gênero pouquíssimo abordado nas produções tupiniquins, Ficção Científica e Distopia.

--------------------------------------------------------------------------------------------------
Black Mirror
Black Mirror
Lançada no final de 2011, Black Mirror é uma série britânica de ficção científica que trata do impacto negativo da tecnologia na vida das pessoas. O seriado tem ao todo 3 temporadas, sendo a última produzida pela Netflix.




Como prova da grande qualidade da série, Black Mirror foi reconhecida internacionalmente, tendo recebido em 2012 o Emmy de melhor mini série de TV.
--------------------------------------------------------------------------------------------------
Game Of Thrones: 6° Temporada (Com Spoilers)
A 6° temporada de Game of Thrones pode ser considerada como umas melhores, se não for a melhor temporada da série até agora. A temporada já começou emocionante, se diferenciando das anteriores que só “esquentaram” nos 2 últimos episódios. Logo nos primeiros episódios já houveram vários acontecimentos chocantes e emocionantes, como o a volta de Jon Snow e o “Hold the Door”. Apesar de uma relativa queda de emoção na metade da temporada, o sexto ano de GOT terminou de maneira épica, prometendo uma grande 7° temporada.


Enquanto isso em Correrrio aconteceu o cerco Frey/Lannister ao castelo dos Tully. Este arco, apesar de secundário, serviu para mostrar a fraqueza da família Frey, que renegada historicamente, só consegue poder através do auxílio de casas maiores, que a ajudam exclusivamente em virtude da sua posição geográfica estratégica. Nessa temporada essa pequenez dos Frey foi mostrada quando Jaime Lannister conseguiu resolver um conflito que parecia distante de um desfecho apenas usando a inteligência, coisa que falta em abundância nos membros da família Frey. De quebra, ainda tivemos no último episódio a vingança de Arya Stark quanto ao casamento vermelho. A garota não teve uma grande trama nessa temporada, como muito se esperou, no entanto, a vingança contra Walder Frey no final acabou compensando e muito.

A única decepção da série foi novamente o núcleo de Dorne. O assassinato do príncipe Dorian foi uma cena um tanto quanto esquisita, que soou um tanto forçada, assim como o assassinato de Myrcela e Tristan na temporada anterior. Ellaria Sand, bem como as víboras são personagens fracas, sem profundidade alguma e sem nenhum carisma, muito diferente dos livros, em que cada uma possui uma personalidade própria e interessante.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Skins
Skins é uma série escrita por Bryan Elsley e James Britain, e conta a história de uma turma de adolescentes britânicos durante os últimos anos do colegial. A série foi exibida entre 2007 e 2013, e teve 7 temporadas. A cada 2 temporadas há um grupo de garotos/as diferentes, sendo que o programa teve ao todo 3 diferentes elencos, além de uma última temporada que conta a história de alguns personagens antigos já mais velhos.

O roteiro é muito bom e consegue se aprofundar em todos os personagens da série. Isso porque cada episódio tem foco em um determinado personagem. Assim ficamos conhecendo melhor sobre as motivações de cada um e consequentemente é criada uma empatia com o expectador. Sendo que um personagem que à primeira vista é cruel ou antipático, se torna mais compreendido e até amado pela audiência na medida em que é desenvolvido em seus capítulos próprios. Essa sacada dos roteiristas é muito boa, pois torna a trama e os personagens muito verossímeis, uma vez que na vida real a sua percepção sobre qualquer pessoa varia muito de acordo com o nível de intimidade que você tem com ela.

Vale ressaltar alguns personagens de destaque na série. Como por exemplo o delinquente Cook, que tem duas faces muito distintas, sendo que o personagem alterna muito entre momentos de extrema raiva e violência, ao mesmo tempo em que possui um lado mais brincalhão e amigo. Outro personagem muito dualista é Tony, um garoto popular adorado pelos amigos, pelas garotas e professores, mas que esconde uma certa insatisfação com esse mundo perfeito. Falando sobre as personagens femininas, Effy e Franky são na minha opinião os destaques da série. Ambas sofrem de sérios conflitos internos, enquanto Effy apesar de ser bonita e popular tem problemas para expressar os seus sentimentos e possui dificuldade de se relacionar com as pessoas, Franky gosta de se vestir como homem e é muito introspectiva devido ao bullying que sofre na escola.
Resumindo, Skins é uma série muito bem escrita, com personagens interessantíssimos e grandes atuações. O programa tem um grande nível de realismo ao abordar o cotidiano dos adolescentes, e por conta disso possui uma história muito pesada, o que pode ser um problema para que tem o “estômago fraco” e se impressiona facilmente. No entanto, se você gosta dessa abordagem mais densa e profunda Skins é sem dúvida uma excelente pedida.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Vikings: 4° Temporada (1° Parte)
A 4° temporada de Vikings apresentou uma grande mudança em relação as temporadas anteriores. Se nos três primeiros anos tivemos entre 9 e 10 episódios por temporada, agora temos 20 capítulos divididos em duas partes com 10 episódios cada, sendo que a 1° parte acabou de ser exibida, enquanto a 2° parte só vai ao ar no fim do ano. Mas qual é a diferença entre uma temporada ter 10 ou 20 capítulos? A questão é que é difícil manter um bom ritmo narrativo na trama com tantos episódios, sem falar que é complicado criar dois clímax bons para cada parte da temporada. Infelizmente a 1° parte da 4° temporada de Vikings não foi uma exceção à regra, arrastada e com muita “encheção de linguiça” a primeira metade da nova temporada foi uma decepção.

Falando ainda sobre a luta final, ela falhou totalmente em entregar um grande clímax para essa 1° parte da 4° temporada. Primeiro que não foi uma batalha lá muito emocionante, segundo porque não cumpriu o que o final da 3° temporada prometeu, o embate definitivo entre os irmãos Ragnar e Rollo, que acabou sendo postergado para a segunda parte da temporada. Esse aliás, é um problema diretamente ligado com a extensão no número de episódios e com a divisão da temporada. Como fazer um clímax decente sendo que a série ainda tem ainda mais 10 episódios? Fica bem difícil, especialmente porque você não pode definir muitas coisas, ou então matar personagens importantes ainda na 1° parte sem acabar comprometendo a 2° parte.

Quanto aos personagens antigos, vale o mesmo dos novos, tirando um ou outro. Ragnar por exemplo, estava meio deslocado mesmo sendo o protagonista. Dá até para entender que o personagem estava desmotivado após alguns incidentes da 3° temporada e por isso não foi aquele Ragnar destemido que conhecemos, mas mesmo assim o protagonista foi mal aproveitado pelos roteiristas. Quanto aos personagens secundários, também existem alguns que estão deslocados da trama. Por exemplo o misterioso Harbard, que além de ser na minha opinião um personagem chato, tem sempre as mesmas cenas repetitivas e que não se entrelaçam com a trama principal. Porém, em relação a esses personagens “avulsos”, a série acertou em matar alguns que se arrastavam a tempos, que não revelarei os nomes para evitar spoilers.

Aliás, os núcleos de Wessex e de Paris foram os destaques dessa 1° parte da 4° temporada. Enquanto o núcleo principal dos vikings ficou devendo, o mesmo não se pode dizer dos núcleos da Inglaterra e da França. Em Wessex e em Paris vimos duas boas tramas políticas recheadas de personagens e situações interessantes.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Six Feet Under
Six Feet Under é uma série criada por Alan Ball, e conta a história da família Fisher que possui uma funerária. À primeira vista a trama pode até parecer bem simples, mas esse é apenas o pano de fundo para uma história muito mais complexa, que envolve além do tema central que é como as pessoas encaram a morte, outros temas como homossexualismo, infidelidade, religião, depressão, família, entre outros. A série teve uma boa recepção por parte da crítica e ao longo de suas cinco temporadas recebeu vários prêmios, incluindo nove Emmys e três Globos de Ouro.


Outro aspecto bem interessante da série é que apesar de morto, o pai da família Fisher sempre tem uma importante participação na série. Ele aparece para os membros da família Fisher como uma espécie de manifestação do inconsciente deles, conversando com eles sobre os seus conflitos internos e sobre as consequências de sua morte. Os diálogos entre os membros da família e o Sr. Fisher são muito bons, e revelam muito sobre a personalidade dos personagens.


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Better Call Saul: 2 Temporada (Sem Spoilers)
Vince Gilligan mostra novamente que é mestre em desenvolver personagens. Assim como fez em Breaking Bad, em Better Call Saul ele faz isso muito bem. A narrativa lenta é necessária para desenvolver e contar a origem dos protagonistas Jimmy e Mike. No entanto, senti falta de um pouco mais de ação, de grandes acontecimentos, mas o ritmo lento é compreensível para o desenrolar da trama. Nesta 2° temporada vemos um embrião do Saul Goodman e do Mike que conhecemos em Breaking Bad. Ambos tentam ir contra a sua natureza, mas vão aos poucos a incorporando. Tudo leva a crer que na 3° temporada serão mostrados o Saul picareta e o Mike bad ass que nos acostumamos a ver em Breaking Bad.

Se na 1° temporada vimos um Jimmy McGill que começa malandro e depois vai tentando se ajustar a sociedade, na 2° temporada temos o caminho inverso. Tirando a recaída do hotel nos primeiros episódios, o protagonista começa essa temporada com o emprego dos sonhos de qualquer advogado, e ele realmente tenta se encaixar na sua vida “certinha”, mas algo está errado, ele não quer viver assim, essa não é sua natureza. Aos poucos o expectador vai percebendo o surgimento do Saul Goodman, o episódio 7 mostra bem isso, quando o personagem aparece pela primeira vez usando os seus característicos trajes sociais coloridos e extravagantes.

O arco do personagem Mike tem uma estrutura parecida com a de Jimmy. Assim como o protagonista, Mike também tem uma natureza que ele tenta renegar, mas vai aos poucos a assumindo de vez. Se no caso de Jimmy a essência do personagem é a malandragem, no caso de Mike o seu talento é como criminoso. Apesar do personagem tentar se adaptar a uma vida pacata como avô e com um emprego comum, ele aos poucos vai deixando o seu “lado negro” transparecer cada vez mais. Ele pode até dar a desculpa que está fazendo tudo isso pela família, mas a verdade é que Mike sente um certo prazer fazendo estas atividades criminosas. Vemos uma semelhança com o personagem Walter White de Breaking Bad, que sempre falava que fabricava droga para ganhar dinheiro e que pararia quando ganhasse uma certa quantia, mas que na verdade estava envolvido com aquilo por uma mera razão de vaidade.
Os personagens secundários também foram bem desenvolvidos nessa temporada. Com destaque para Kim Wexler e Charles McGill, que tem as suas motivações mais transparecidas nesta 2° temporada. A primeira gosta de " brincar" de malandra às vezes, (como vemos na cena do golpe no hotel) talvez seja por isso que ela se sinta atraída por Jimmy, no entanto ela se mantém fiel aos seus princípios morais mesmo estando com junto com ele. Charles por sua vez, apesar de ser bem-sucedido profissionalmente sente uma inveja doentia do irmão, e faz de tudo para atrapalhá-lo. No último episódio é mostrado claramente o motivo de toda essa inveja.

Outro ponto que a série continua competente é na inserção de personagens do universo de Breaking Bad. Se na primeira temporada o traficante Tuco foi apresentado, no segundo ano da série fomos introduzidos ao tio do criminoso, o grande Hector Salamanca. A tendência é que cada vez mais esses personagens de Breaking Bad aparecam na série (Vince Gilligan disse que a dupla Walter White e Jesse Pinkman pode aparecer em algum momento na série).
Quanto ao roteiro, direção e fotografia, a série continua muito boa. O roteiro é muito bem amarrado, não existem grandes reviravoltas, mas os personagens são bem trabalhados. O visual continua muito bom, a fotografia é belíssima, principalmente as cenas no deserto, e o ar setentista da séria continua muito bem afiado (a vinheta de abertura, o figurino e a caracterização de Jimmy dão essa cara charmosa dos anos 70)

Por fim, se faltou ação nessa temporada sobrou desenvolvimento dos personagens. Tudo leva a crer que uma vez estabelecida a origem dos protagonistas, na 3° temporada teremos a consolidação do Saul e do Mike de Breaking Bad. Sem tanta necessidade de focar nos dramas dos mesmos, a ação e os grandes acontecimentos devem predominar nas próximas temporadas, assim como ocorreu na série que deu origem ao Spin Off.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Lançada em 1999, Sopranos mostra de uma forma totalmente diferente o cotidiano da máfia italiana nos EUA. Ao contrário da maioria dos filmes do gênero, a série trata do tema com um nível de realismo jamais visto antes, apresentando mafiosos incrivelmente humanos, com fraquezas e dramas pessoais. Quebrando de certa a forma aquela imagem estereotipada do gangster durão e sem sentimentos.
Além dos personagens mais humanos, a série também apresenta uma rotina do mafioso mais próxima da do cidadão comum. Depois de um dia duro de “trabalho” os mafiosos têm de encarar problemas familiares, problemas com os vizinhos e com os amigos. Fazendo o expectador se identificar com os problemas universais dos personagens, independente da questão da máfia.
Um bom exemplo é do personagem principal, Tony Soprano. Mesmo sendo um membro de destaque na organização criminosa, o protagonista sofre com constantes ataques de pânico e passa a se consultar com uma psiquiatra para resolver o problema. Essa é a grande sacada da série, mostrar que mafiosos também são humanos, quebrar estereótipos, e assim desenvolver personagens interessantíssimos.

As conversas entre Tony a sua psiquiatra, Doutora Melfi, são um show à parte. Os diálogos entre os dois são muito bons, e revelam muito sobre o protagonista que tem muitas facetas. As vezes o expectador pensa que ele é um monstro, outras tantas ele aparenta ter boas razões para fazer o que faz, e em outras aparenta ser apenas um pai de família lutando para prover sua prole. O fato é que Tony é tudo isso e mais um pouco, afinal ele é humano.
Além de servir para contar um pouco mais sobre o personagem, as sessões também servem para inserir o expectador no mundo da máfia. Ainda que de forma disfarçada e usando metáforas, Tony acaba contando alguns detalhes da sua organização criminosa para a psiquiatra. Tornando as conversas entre os dois um interessante recurso narrativo dos roteiristas para explicar melhor a trama e a personalidade do protagonista para o expectador.
Pena que as conversas entre Tony e Melfi foram deixadas um pouco de lado no decorrer da série. Uma vez que as motivações do protagonista já foram apresentadas, assim como o mundo da máfia, talvez os roteiristas não julgaram ser mais tão importante mostrar as consultas. Uma pena porque eram cenas muito interessantes e divertidas.
Porém, a série tem muitas outras coisas boas além das conversas de Tony com a sua psiquiatra. O realismo dos personagens, como já citado acima é muito interessante. As relações familiares têm muito peso na trama, visto que a família é importantíssima na cultura italiana. E a série consegue mostrar brilhantemente essas relações, marido e mulher, pai e filho(a), irmão e irmão, e mãe e filho(a). Está última com grande destaque, visto que a relação de Tony com a mãe, Lívia, tem grande importância na construção do personagem principal. Grande parte da personalidade do protagonista é explicada pela relação com mãe, que apesar de ser exagerada e melodramática como as “típicas mães italianas”, parece não se importar muito com o filho. Quebrando o estereótipo de mãe italiana super protetora e carinhosa.
Falando ainda sobre estereótipos do povo italiano, Sopranos trabalha muito bem com isso, seja desconstruindo-os, seja brincando com eles. Ao mesmo tempo em que são apresentados personagens que são a encarnação da caricatura do ítalo americano, como o consigliere de Tony, Silvio Dante, e a própria mãe do protagonista Livia. Também são mostrados ítalo americanos médicos, como a Dra Melfi e o Dr Cusamano, universitários como a filha de Tony, Meadow, além de policiais, padres, advogados, etc. Ou seja, não existe na série o tradicional “tipo italiano”.

O que os roteiristas fazem muito bem, é desconstruir o estereótipo do “Carcamano” nos personagens mais caricatos e ao mesmo tempo mostrar que há um pouco de “ carcamano” nos personagens menos caricatos. Há por exemplo uma cena em que a Dra Melfi (que também é ítalo americana) discute com a família e amigos sobre a imagem dos italianos como mafiosos nos EUA, e defende o seu paciente Tony Soprano, dizendo que eles são italianos assim como ele. Ou seja, é mostrado que mesmo os italianos mais “ajustados a sociedade” também tem em algum grau uma identificação com a cultura e o imaginário ítalo americano, formado pela culinária, música e tradições em geral, assim como também é formado pelos filmes de mafiosos como O Poderoso Chefão e Bons Companheiros.
Aliás, as referências a filmes de máfia são muito bem colocadas na série. Sendo que os próprios personagens brincam com essa caricatura do italiano nos filmes. O personagem Silvio Dante por exemplo, está sempre imitando Don Corleone e citando frases de O Poderoso Chefão e outros filmes de máfia.
Assim como a hilária atuação de Steven Van Zandt como Silvio Dante, as interpretações são excelentes. James Gondolfini que vive Tony Soprano consegue equilibrar muito bem uma atuação mais contida, com momentos de explosão e raiva, dando um verdadeiro show de interpretação. Além do protagonista, outros atores têm grande destaque na série, como a louca mãe de Tony, Livia, interpretada por Nancy Marchand e o tio que disputa o poder com o Tony, Corrado Soprano, vivivo por Dominic Chianese. Ainda na família do protagonista, sua mulher Carmela, Edie Falco, e os seus filhos, o problemático AJ, Robert Iler, e a estudiosa Meadow, Jamie – Lynn Sinlgler, enriquecem muito a trama familiar.

Há ainda grandes personagens, como o sobrinho de Tony, Christopher Moltisanti, Michael Imperioli, os mafiosos psicóticos e sem limites, Paulie Gualtiere, Tony Sirico, e Ralph Cifaretto, Joe Pantoliano. Além do cozinheiro amigo de Tony, o engraçado e atrapalhado Artie Bucco, John Vertimiglia, e a já citada Dra Melfi, Lorraine Bracco. Sem falar de outros tantos personagens marcantes com atuações sensacionais.
Tanta qualidade fez de Sopranos uma das séries mais aclamadas da história pela crítica especializada. Sendo que em 2013 foi considerada como a série mais bem escrita de todos os tempos pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA (Writers Guild of America). Sem falar nos inúmeros prêmios vencidos, como por exemplo incríveis 18 Emmys e 5 Globos de Ouro.
Portanto, Sopranos se destina a todos que gostem de uma boa história sobre máfia, de uma boa história sobre família, de uma boa história pessoas, de uma boa história.....
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
The River
A série começa quando Dr. Emmet Cole, famoso explorador e apresentador de um
programa sobre natureza selvagem (espécie de Richard Rasmussem ou Steve Irwin) se perde em uma aventura na floresta amazônica. Depois de 6 meses de desaparecimento, seu filho Lincoln decide partir em uma missão nos confins da Amazônia em busca do pai. Mas o detalhe é que ele partirá acompanhada de uma equipe de TV que irá documentar a busca para transformá-la em um programa televisivo. No entanto, Lincoln e seu grupo vão descobrindo aos poucos que o desaparecimento do Dr. Emmet está ligado a acontecimentos misteriosos e sobrenaturais da floresta.
A premissa misteriosa e mágica já torna a série interessante. Some ainda o fato de ser produzida por Steven Spielberg, e também ser um found footage (quando o filme é filmado como documentário, como por exemplo Bruxa de Blair). Este último recurso é usado de uma forma muito inteligente na série. Como na história o grupo de cinegrafistas está fazendo um documentário sobre a busca ao Dr. Emmet, faz todo o sentido o diretor mostrar The River também como se fosse um documentário. É uma metalinguagem muito interessante, que aumenta o suspense e o terror da série.

No entanto, The River não se prende apenas ao terror e ao suspense. Ao mesmo tempo que tentam desvendar os mistérios da floresta e encontrar o explorador, os personagens também tem que lidar com os seus conflitos pessoais e resolver problemas de relacionamento com os outros membros do grupo. Lincoln por exemplo, tem problemas com o pai que ele está procurando. Percebe-se neste ponto uma certa semelhança com o seriado Lost, que também se construiu em torno do mistério, dos conflitos internos dos personagens e das dificuldades da convivência em grupo. No entanto, é bom frisar que apesar de ser uma boa série, The River não chega nem perto da complexidade dos personagens de Lost, que são muito mais interessantes.
Esse é um ponto que a série fica devendo um pouco. Apesar dessa questão interessante do autoconhecimento a partir da busca pelo desconhecido, alguns personagens não são bem desenvolvidos, tornando-os pouco interessantes. Fica evidente que o ponto forte de The River é o suspense e o terror, talvez por isso não tenham se preocupado tanto com os personagens.
Outro ponto negativo que sofreu muitas críticas foi o fato dos nativos da floresta amazônica falarem espanhol, sendo que a história se passa na região da Amazônia que fica no Brasil. Soma-se ainda o fato que os índios parecem praticar cultos africanos e não os realizados pelos verdadeiros índios daquela região. Os americanos mostram mais uma vez que ou não conhecem nada da cultura latino-americana ou então não fazem questão nenhuma de conhecer.

Tirando as falhas citadas acima The River é sim uma boa série. É competente no que se propõe, que é transportar o expectador para aquele mundo misterioso, sobrenatural e aterrorizante. No entanto, apesar de receber boas críticas nos EUA a série foi cancelada logo na primeira temporada devido à baixa audiência. Chegou a correr um boato que a Netflix tinha interesse de produzir uma nova temporada, mas as negociações acabaram não indo para frente.
Se podemos tirar algum pró desse cancelamento, é que para quem ainda não conhece The River e tem vontade de assistir, não irá gastar muito tempo. Além de possuir apenas uma temporada a série tem só 8 episódios. Dá para ver tranquilamente em um final de semana. Portanto, se você gosta de supense e terror não deixe de conferir a série!
Demolidor : 2° Temporada (SEM SPOLIERS)
Depois de uma 1° temporada aclamada pelo público e pela crítica, era difícil que a série mantivesse o alto nível na 2° temporada. No entanto, a nova temporada de Demolidor conseguiu não só manter a qualidade do primeiro ano como também melhorá-la em alguns aspectos.
O visual sombrio e soturno do 1° ano da série continua na 2° temporada. A quem diga que as cenas escuras atrapalham na hora das cenas de luta, mas em minha opinião só ajudam a ambientar melhor o expectador, afinal o personagem é um herói que vive nas sombras. Falando sobre as cenas de luta, as coreografias de combate e a direção das mesmas continuam muito boas. Com destaque para a sensacional cena filmada em plano sequência no 3° episódio, quando o Demolidor enfrenta vários motociclistas na escada de um prédio. Sendo que para mim essa cena consegue o feito de superar a cena do corredor na 1° temporada.

A grande novidade dessa temporada foi a inserção de novos personagens bastante conhecidos do universo do Demolidor nas HQs, Justiceiro e Elektra. Tais personagens se encaixaram muito bem na história, e dividiram muito bem a cena com o protagonista, algumas vezes até roubando a cena. O Justiceiro, por exemplo, foi muito bem interpretado por Jon Bernthal, que parece ter nascido para o papel. O ator faz muito bem esse papel de cara durão, bruto e bad ass, assim como já havia demonstrado ao viver Shane em Walking Dead. Já Elektra foi muito bem vivida pela atriz Elodie Young, que faz uma personagem infinitamente mais interessante que a Elektra de Jenifer Garner no filme Demolidor: O homem sem medo. Na série o seus lados sensual e assassina são muito mais abordados, se assemelhando mais a personagem dos quadrinhos.
A relação desses dois personagens com Matt Murdock foi para mim o ponto alto dessa temporada. O embate das duas visões de como combater o crime foi muito interessante. De um lado o Demolidor com os seus valores cristãos que não o permitem matar os inimigos, e de outro lado Justiceiro e Elektra com os seus métodos “pouco ortodoxos” de acabar com os adversários. O conflito interno do protagonista sobre usar a violência para combater o crime que foi muito bem trabalhado na 1° temporada, foi amplificado nessa nova temporada com esses personagens que têm visões totalmente opostas a dele.
Falando ainda sobre a trama, percebe-se que cada vez mais são incluídos elementos de um aspecto mais místico do Demolidor. Esse universo mais mágico parece que terá cada vez mais espaço na história, o que pode ser um ponto negativo para quem gosta de histórias mais realistas.
Quanto as semelhanças com as HQs, as referências e o fã service continuam em voga na 2° temporada. Especialmente no episódio final em qual são dadas várias pistas sobre o que virá a seguir na série. No entanto, essas referências conhecidas só pelos leitores não atrapalham de forma nenhuma a experiência do expectador que não conhece as revistas. Demolidor continua atingindo a difícil proeza de agradar tanto o grande público quanto os fãs de quadrinhos.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Californication
Californication conta a história do escritor nova-iorquino Hank Moody, que se muda com a mulher e filha para Los Angeles após o sucesso do seu livro que vai virar filme. No entanto, a mudança de cidade gera para o protagonista problemas familiares e de bloqueio criativo. É nesse contexto que se desenvolvem as 7 temporadas dessa sensacional série, vencedora de 2 Emmys de fotografia e 1 Globo de Ouro de melhor ator de comédia para David Duchovny.
Primeiramente é bom falar que o nome Californication não é por acaso. Como já dito acima a história se passa em LA, Califórnia, e possui muitas cenas de FORNICATION. Sim, a série tem muito sexo e não é recomendada para quem tem restrições quanto a isso. O personagem Hank Moody aparece quase que em todos os episódios transando com uma mulher diferente, sem falar dos outros personagens que tem uma vida sexual digamos que bem ativa.
A tentação do sexo fácil e o deslumbramento com o sucesso de escritor fazem o protagonista entrar em uma derrocada familiar e profissional. Sua mulher o abandona e o seu próximo livro tarda em não sair, levando Moody a se afundar no sexo e na bebida para esquecer os seus problemas.

Essa transição entre comédia e drama é a principal qualidade da série. No mesmo episódio o expectador pode ir da gargalhada ao choro. Essa passagem do engraçado para o triste ocorre de maneira muito sutil, sendo que mesmo nas cenas de humor se percebe um pouco de drama e vice e versa.

Outro fator de destaque da série é a fotografia, ganhadora de 2 prêmios Emmy. As belas tomadas das praias californianas são um show a parte. Cumprindo bem o seu papel de ambientar o expectador nesse mundo paradisíaco e louco da Califórnia.

Confira o trailer da série:
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
House of Cards - 4° Temporada (SPOILERS)
Pode se
separar a 4° temporada de House of Cards em duas partes: Antes de Frank ser
baleado e depois de Frank ser baleado. Na primeira parte Frank tem de lidar com
uma batalha em duas frentes. De um lado sua oponente do partido Democrata nas
primárias para presidente, Heather Dumbar, de outro lado sua insatisfeita e
perigosa esposa Claire. Já na segunda parte da trama, Underwood tem de enfrentar
o forte candidato republicano, Will Conway, na disputa pela presidência.

Depois de
quase morrer, Frank passa a reconsiderar o seu confronto com a esposa. Percebe
que tem muito mais a ganhar com ela a seu lado e decide apoiar as ambições
políticas da mesma, ao mesmo tempo em que ela volta a ajudá-lo na corrida presidencial.
Desse momento em diante o embate de Underwood agora é contra o candidato
republicano Will Conway. O oponente é o típico modelo do ideal de homem
americano: branco, de boa aparência, veterano de guerra e com uma linda
família. À primeira vista o oposto de Frank, mas ao longo dos episódios se
percebe que os dois tem muita coisa em comum, como por exemplo, a sede
irrefreável pelo poder. Os melhores momentos desse embate ocorrem quando ambos
ficam cara a cara, e podemos perceber claramente que apesar das diferenças
partidárias os dois têm muito em comum no que diz respeito ao modus operandi de se fazer política.
Apesar da
semelhança relativa a como agem nos bastidores, Frank e Conway se diferenciam
em relação a como lidam com os eleitores. Enquanto o democrata é mais
tradicional, o republicano é mais moderno e usa bastante as redes sociais para
interagir com o público. Os roteiristas, aliás, usam bastante de temas que
estão em voga no mundo da política: Redes sociais na campanha, Estado Islâmico
e vigilância através de sites de busca online são alguns assuntos abordados. Esse é um dos
principais pontos positivos dessa temporada, usar temas que estão
nos noticiários da vida real e adaptá-los à trama, tornando-a ainda mais
verossímil.
Outro ponto
positivo dessa temporada são as alucinações de Frank quando esteve em coma. Os
fantasmas do passado e do presente se reúnem para atormentá-lo. A cena que
melhor sintetiza isso é quando a falecida Zoe Barnes aparece para ele vestida e
com o mesmo corte de cabelo de Claire. Mostrando que ainda existe a ameaça de
uma mulher acabar com ele.
Falando em
Zoe, essa 4° temporada não teve coadjuvantes tão fortes como ela e Peter Russo.
No entanto, alguns personagens merecem destaque como o próprio Conway já citado
acima. Outra que está bem é mãe de Claire, interpretada muito bem por Ellen
Burstyn. Com destaque para as cenas que tira a peruca e quando conta que tem
câncer para a filha. Outro personagem de destaque é Tom Yates, que após a morte
de Meetchum
passa a ocupar o papel de “3° integrante” na relação do casal
presidencial. Por fim, outro coadjuvante que se destaca é Douglas Stamper, que
apesar de aparecer menos do que nas últimas temporadas, continua sofrendo
internamente pelos seus atos inescrupulosos. Se anteriormente sua maneira de
tentar se redimir para si próprio era tentando amar Rachel, agora seu objeto de
redenção é a viúva de Moretti, o homem que morreu para salvar a vida de Frank.
Por fim, o
final foi alucinante. Para resolver os seus problemas internos, Underwood apela
para a saída favorita de 10 entre 10 presidentes americanos. Declara guerra
contra um inimigo externo para enfraquecer os internos. Fica no ar o suspense
para saber o que essa guerra ao terror de Frank reserva para a 5° temporada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário