Séries


MINDHUNTER


Por si só, apenas o fato de ter como produtor e diretor David Fincher já é motivo suficiente para atrair os holofotes para Mindhunter. Mas a série não é apenas mais uma obra do diretor de Clube da Luta e Seven, é definitivamente um dos seus melhores trabalhos. O cineasta brinda novamente o público da Netflix com mais uma produção original do mesmo calibre da sua série anterior no serviço de streaming, House of Cards.
Mas por que a série é tão boa assim? o que a torna uma obra de destaque em meio a uma cinebiografia tão rica quanto a do diretor? Primeiramente, porque a premissa do seriado é extremamente interessante. A história gira em torno de Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt MacCallany), dois agentes do FBI que decidem entrevistar vários serial killers em penitenciárias de segurança máxima ao redor dos EUA para tentar entender melhor porque eles fazem o que fazem, traçando um perfil psicológico dos mesmos, e assim podendo prevenir futuros crimes e desvendar os que estão em curso.
Some ainda o fato que os acontecimentos mostrados em Mindhunter são baseados em fatos. A série muda o nome dos personagens reais, mas a história é uma adaptação do livro “Mind Hunter: Inside the FBI´s Elite Serial Crime Unit” escrito pelos próprios agentes que inspiraram os protagonistas do seriado. Esses agentes reais do FBI praticamente criaram a psicologia forense de hoje em dia, sendo pioneiros na criação de perfis psicológicos de criminosos para auxiliar a resolução de casos enigmáticos para a polícia comum.
Além da premissa interessante o do fato de ser uma história real, a qualidade técnica da produção da Netflix é incrível. Há um bom tempo que as séries de tv, ou streaming no caso, utilizam bastante da linguagem cinematográfica, e contam com produções milionárias. Foi se o tempo que os seriados tinham uma qualidade muito inferior ao cinema. No entanto, falando em termos técnicos como direção e fotografia, o que é mostrado em Mindhunter é realmente impressionante, não existe diferença alguma entre os grandes filmes do Fincher e Mindhunter.
Devido ao diretor também ser produtor da série ao lado da atriz Charlize Teron, por questões de tempo não foi possível que Fincher dirigisse todos os episódios dessa primeira temporada. Porém, ele dirige boa parte, 4 episódios de um total de 10 dessa temporada. Os 2 primeiros e os 2 últimos, os mais importantes e cruciais para o sucesso de um seriado. E mesmo nos episódios que não são dirigidos por ele, é possível verificar a assinatura visual do cineasta. Esse é um dos pontos altos da série, os enquadramentos simétricos e a fotografia escura característica do diretor estão presentes na série. Para quem é acostumado com a estética dos filmes de Fincher, vai identificar vários pontos semelhantes com obras como A Rede Social, Seven e Garota Exemplar por exemplo.
Outro ponto de destaque são as atuações que são impressionantes. Apesar de todo o elenco estar muito bem, a que se exaltar duas interpretações em particular. A de Jonathan Groff como o agente Holden Ford e Cameron Britton como o serial killer Edmund Kemper. O investigador do FBI passa por uma grande alteração de personalidade ao longo da série. Começando bem inseguro e receoso nas entrevistas com assassinos e depois vai se transformando ao longo dos episódios, se tornando cada vez mais seguro, arrogante e até mesmo flertando com uma certa identificação e admiração a esses criminosos. O trabalho de transformação na interpretação de Groff é gradual e muito bem dosado para o público não estranhar uma mudança muito repentina. Enquanto que Britton tem uma atuação bem impactante devido a frieza que transmite para o seu personagem, que descreve assassinatos, mutilações e estupros que praticou no passado como se fossem uma simples ida na padaria. No entanto, o ator consegue ao mesmo tempo passar uma certa simpatia para o serial killer, conferindo uma aura de mistério sobre a personalidade do serial killer, ao mesmo tempo em que faz com que o público se compadeça com um assassino tão cruel.
Há apenas um fator que pode desagradar uma parte do público. Apesar de ser uma série que fala sobre serial killers, não é mostrado nenhum assassinato. Com exceção de uma cena de suicídio logo no primeiro episódio, não é mostrada nenhuma violência gráfica, apenas psicológica. Isso pode pesar negativamente para quem está esperando uma série policial clássica, com perseguições, tiros, e assassinatos. No entanto, como o próprio título do seriado diz, os agentes Holden e Tench são Mind Hunters, o embate está no campo da mente e não no físico. Portanto, essa uma série que preza bastante pelos diálogos e pela linguagem cinematográfica para fazer a história andar.
Por fim, as expectativas para a segunda temporada (já renovada pela Netflix) são as melhores possíveis. A série deixa muitos ganchos para a próxima temporada que deixaram o público bastante instigado. Tem um acontecimento com um dos protagonistas no último episódio que gera muita curiosidade para saber como as coisas vão seguir na próxima temporada, e principalmente como esse personagem vai lidar com essa situação daqui para frente. Há também um personagem misterioso no qual é revelada pouquíssima coisa, mas tudo indica que ele desempenhará um papel importante na segunda temporada. Fica a torcida para que essas expectativas sejam atendidas, se assim for Mindhunter tem tudo para se consolidar como uma das melhores séries da atualidade.

NOTA: 9,1







3%


Primeira série brasileira da Netflix, 3% se passa em um futuro distópico onde a população é dividida entre o povo que mora no continente (na pobreza absoluta) e a elite que mora no Maralto (na riqueza, com abundância de recursos). Quando completam 20 anos todos os moradores do continente têm direito a prestar uma prova de admissão para morar no Maralto, exame conhecido como “O Processo”. Neste processo seletivo os participantes são avaliados nos mais diversos quesitos, como inteligência, força física e liderança. No entanto, a prova só admite 3 % do total dos participantes, e quem não passa na prova não pode voltar a participar nunca mais, ficando condenado a pobreza.

É com essa trama que a série dirigida por Pedro Aguilera é apresentada ao público. À primeira vista a série parece cair no clichê que se tornou o gênero de distopias adolescentes como Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runer. Em parte 3% é sim muito parecida com essas produções norte americanas, no entanto, não deixa de lado a crítica social de pano de fundo ao entretenimento, assim as primeiras distopias da literatura e do cinema como 1984, Admirável Mundo Novo e Metrópoles. É claro que 3% não chega aos pés desses clássicos, no entanto, bebe muito da fonte deles no que tange a temática da luta de classes e do governo totalitário.

A principal crítica de 3% é uma clara alusão ao processo do vestibular, e o seu sistema “meritocrático”.  A série questiona até que ponto essa meritocracia é de fato verdadeira, se realmente é levado em conta apenas o mérito puro e simples nesses tipos de processos seletivos. No seriado, os avaliadores do Processo permitem que alguns candidatos trapaceiem e que usem de jogo sujo em algumas provas, mostrando que não é apenas o mérito que está em jogo nessa avaliação. Assim como o vestibular que se vende como um processo meritocrático, mas que não considera as diferenças entre estudantes de escola pública e particular.

 O ponto forte da série é que ela é muito instigante, cada episódio deixa ganchos  que fazem com que o telespectador queira maratonar 3%. A trama é muito boa, e consegue cumprir muito bem o papel que um bom roteiro de seriado deve ter, despertar a curiosidade da audiência para saber logo o que acontece no episódio seguinte e fazer com que o expectador assista a vários capítulos em sequência, mantendo o interesse na série. No entanto, apesar do roteiro da história em si ser muito bem construído e instigante, alguns diálogos da série deixam muito a desejar, abusando de explicações desnecessárias e tornando algumas falas um tanto quanto toscas.

Os grandes pontos negativos da série com certeza são o elenco de apoio e os diálogos. Ao contrário do elenco principal que conta com atores muito bons como Bianca Comparato (A Menina sem Qualidades) e João Miguel (Estômago), o elenco de apoio é composto por atores que beiram o amadorismo, em parte pela falta de expressão e em parte principalmente pela baixa qualidade dos diálogos. Os diálogos são muitas vezes excessivamente explicativos, ao invés de mostrar com ações o que os personagens estão sentindo, os roteiristas tentam explica-las através dos diálogos. Por exemplo: O personagem diz em voz alta que está muito triste com determinada situação, ao invés de apenas ser mostrada a sua expressão de tristeza. Nesse ponto, alguns dos diálogos da série lembram muito os diálogos de novelas, altamente explicativos para garantir que o telespectador entenda o que está acontecendo.

Sobre as atuações do elenco principal, estas são muito boas, especialmente as de Bianca Comparato no papel de Michele e de João Miguel no papel de Ezequiel. Bianca trabalhou em diversas novelas da Globo, mas apesar disso tem um estilo de atuação bem cinematográfica, trabalhando muito bem com as expressões, sobretudo as expressões mais contidas. Enquanto que João Miguel, que já tem uma carreira maior no cinema, dá um verdadeiro show como avaliador do Processo, com uma interpretação que possui várias camadas, o ator vai da frieza ao desespero, mostrando bem toda a complexidade desse que de fato é personagem mais interessante da série.

Por fim, apesar de algumas falhas, 3% é um vento novo muito bem-vinda a produção do audiovisual brasileiro. Num país conhecido pela qualidade dos seus filmes mais cults, mas que ainda peca no cinema mais comercial, a série representa algo novo e de qualidade (caso contrário a Netflix não teria acreditado no projeto). Primeiro porque 3% é uma série nacional, tipo de produção bem escassa no Brasil, realidade que finalmente está mudando devido a lei de incentivo as produções de audiovisual brasileiro que renderam outras belas produções como Magnífica 70 e O Negócio. Segundo porque trata de um gênero pouquíssimo abordado nas produções tupiniquins, Ficção Científica e Distopia.

Concluindo, 3% é indicado tanto para os fãs de distopias adolescentes, quanto para os fãs das distopias mais hardcore, como 1984 e Admiravél Mundo Novo. Em maior grau aos fãs das distopias adolescentes, mas há na série elementos que também cativarão fãs menos radicais das distopias antigas. É uma série muito fácil de maratonar para os expectadores que tem essa prática, principalmente devido a sua narrativa rápida e instigante. Por fim, para quem quer ver uma produção brasileira de qualidade e diferente do habitual, 3% é uma excelente pedida!

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                  Black Mirror



Lançada no final de 2011, Black Mirror é uma série britânica de ficção científica que trata do impacto negativo da tecnologia na vida das pessoas. O seriado tem ao todo 3 temporadas, sendo a última produzida pela Netflix. 

A série se assemelha bastante à Além da Imaginação, devido a ser uma antologia (cada episódio possui uma história independente dos demais, com enredo e personagens diferentes), mas a principal semelhança vem do fato de ambas terem roteiros perturbadores e com finais inesperados e chocantes. Apesar de serem parecidas nesses aspectos, Black Mirror se diferencia pela temática central. Enquanto que em Além da Imaginação o que causava medo no expectador eram os eventos paranormais e místicos, na série britânica o que causa medo é a tecnologia, algo bem mais próximo de nós. E é por essa razão que Black Mirror é tão chocante e perturbadora, porque é muito real, não está muito longe da realidade da audiência.

Apesar de ser uma ficção, não é uma ficção muito fantasiosa se analisarmos com cuidado.  Afinal de contas, a tecnologia já domina a vida de boa parte da população mundial. Quem hoje em dia não usa celular, internet, redes sociais? Devido a essa presença massiva da tecnologia em nossas vidas acabamos nos tornando dependente delas. Não que a tecnologia não seja uma coisa boa, pelo contrário, nos ajuda bastante. Porém essa dependência dela é prejudicial, é como um vício, não dá para viver sem hoje em dia. Além disso, a tecnologia acaba moldando o nosso comportamento, nos tornando mais ansiosos e imediatistas, acarretando em problemas sérios.

Pegando carona no papel crucial que a tecnologia tem atualmente, Black Mirror explora até onde ela pode nos levar.  O grande mérito da série é fazer as pessoas refletirem sobre como são afetadas pelo ESPELHO NEGRO das telas dos celulares, computadores, tablets e televisões (por isso o nome Black Mirror). Cada episódio traz à tona um debate mais interessante que o outro a respeito da tecnologia: Como as redes sociais são usadas para encenarmos uma vida perfeita. Como a sociedade gosta de assistir a espetáculos, mesmo que sejam macabros e de mau gosto. Como a tecnologia afeta os relacionamentos amorosos. Entre outros tantos temas interessantíssimos.

Por fim, Black Mirror é uma série que definitivamente deve ser vista por todo mundo. Agradará desde quem gosta de um simples suspense com bons plot twists, até um expectador mais exigente que gosta de refletir e debater temas mais profundos. A série entretém na mesma medida que faz pensar. Apesar de serem histórias diferentes em cada episódio, Black Mirror consegue o incrível feito de manter o altíssimo nível em todas as temporadas, algo raro até em séries não antológicas. Existe alguns episódios que ficam um pouco abaixo da média, mas que mesmo assim são muito bons quando comparados a maioria dos seriados que estão em produção atualmente.


Como prova da grande qualidade da série, Black Mirror foi reconhecida internacionalmente, tendo recebido em 2012 o Emmy de melhor mini série de TV.






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Game Of Thrones: 6° Temporada  (Com Spoilers)

A 6° temporada de Game of Thrones pode ser considerada como umas melhores, se não for a melhor temporada da série até agora. A temporada já começou emocionante, se diferenciando das anteriores que só “esquentaram” nos 2 últimos episódios. Logo nos primeiros episódios já houveram vários acontecimentos chocantes e emocionantes, como o a volta de Jon Snow e o “Hold the Door”. Apesar de uma relativa queda de emoção na metade da temporada, o sexto ano de GOT terminou de maneira épica, prometendo uma grande 7° temporada.

Praticamente todos os núcleos foram bem trabalhados, desde o Norte até Meeren. O Norte voltou a ter destaque, sendo que foi na região que ocorreu a grande batalha dessa temporada, além disso Jon Snow e Sansa estiveram muito bem. Sendo que Sansa teve uma grande evolução enquanto personagem, deixando de vez de ser aquela menina mimada para se tornar uma mulher forte. Já o bastardo voltou do mundo dos mortos mais frio e desesperançoso do que nunca, mas aos poucos foi voltando a ser aquele Jon amável e valente. Bran também evolui bastante sua importância na trama, adquirindo um status poderoso que deverá ser decisivo tanto na batalha pelo trono de ferro, quanto para a luta contra os caminhantes brancos. Apesar do grande destaque dos irmãos Stark, a grande surpresa positiva do elenco do Norte ficou por conta da Lady  Mormont. Com uma atuação impressionante para uma criança, que passou ao mesmo tempo a força e o carisma da personagem, a garota deu um show de interpretação.

Em Meeren, Daenerys consolidou de vez a sua força como conquistadora, adquirindo um grande exército e prometendo grandes emoções na sua empreitada em Westeros na próxima temporada, as cenas em que ela sai ilesa do fogo e quando derrota os Filhos da Harpia são dois dos pontos altos dessa temporada. Mas assim como todo(a) grande governante (a),  Daenerys necessita de um grande conselheiro para ajudá-la nas horas mais difíceis. E esse homem de confiança definitivamente é o “duende”, Tyrion se mostrou de grande ajuda para a rainha dos dragões, conquistando de vez a confiança dela, ao mesmo tempo em que como de costume arrancava boas risadas do público.

Enquanto isso em Correrrio aconteceu o cerco Frey/Lannister ao castelo dos Tully. Este arco, apesar de secundário, serviu para mostrar a fraqueza da família Frey, que renegada historicamente, só consegue poder através do auxílio de casas maiores, que a ajudam exclusivamente em virtude da sua posição geográfica estratégica. Nessa temporada essa pequenez dos Frey foi mostrada quando Jaime Lannister conseguiu resolver um conflito que parecia distante de um desfecho apenas usando a inteligência, coisa que falta em abundância nos membros da família Frey. De quebra, ainda tivemos no último episódio a vingança de Arya Stark quanto ao casamento vermelho. A garota não teve uma grande trama nessa temporada, como muito se esperou, no entanto, a vingança contra Walder Frey no final acabou compensando e muito.

Enquanto isso, em Porto Real a cada episódio a tensão entre o Alto Pardal e Cersei se intensificava cada vez mais. Estava claro que o desfecho desse embate iria ser trágico para um dos lados, e essa expectativa acabou se confirmando no último episódio. Cersei se mostrou mais maquiavélica do que nunca, e conseguiu sua almejada vingança em proporções épicas. A atriz como de costume teve uma interpretação sensacional, sua frieza e ambição são de impressionar. Fica no ar a expectativa para um possível embate entre as mulheres mais poderosos da série, Cersei x Daenerys.

A única decepção da série foi novamente o núcleo de Dorne. O assassinato do príncipe Dorian foi uma cena um tanto quanto esquisita, que soou um tanto forçada, assim como o assassinato de Myrcela e Tristan na temporada anterior. Ellaria Sand, bem como as víboras são personagens fracas, sem profundidade alguma e sem nenhum carisma, muito diferente dos livros, em que cada uma possui uma personalidade própria e interessante.

Resumindo, a 6° temporada de Game Of Thrones caprichou no que a série se notabilizou por fazer de melhor: intrigas de poder, grandes batalhas, personagens interessantíssimos e acontecimentos e mortes chocantes. Esses elementos sobraram no sexto ano da série.  A temporada conseguiu manter alto nível de impacto durante quase todos os episódios, e teve um dos melhores season finales da história, com uma alta dose de “momentos uau!. Fica no ar a expectativa de uma 7° temporada memorável e grandiosa, com grandes embates pelo trono de ferro e contra os caminhantes brancos.




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Skins



Skins é uma série escrita por Bryan Elsley e James Britain, e conta a história de uma turma de adolescentes britânicos durante os últimos anos do colegial. A série foi exibida entre 2007 e 2013, e teve 7 temporadas. A cada 2 temporadas há um grupo de garotos/as diferentes, sendo que o programa teve ao todo 3 diferentes elencos, além de uma última temporada que conta a história de alguns personagens antigos já mais velhos.

À primeira vista pode até parecer uma espécie de “malhação britânica”, mas a série inglesa vai muito além da superficialidade da produção brasileira, abordando temas complexos e polêmicos como: uso de drogas, sexo, violência, morte, problemas familiares, transtornos mentais, homossexualismo e androginia. Skins trabalha todos esses temas pesados muito bem, com um nível incrível de realismo de uma forma extremamente impactante.

 O roteiro é muito bom e consegue se aprofundar em todos os personagens da série. Isso porque cada episódio tem foco em um determinado personagem. Assim ficamos conhecendo melhor sobre as motivações de cada um e consequentemente é criada uma empatia com o expectador. Sendo que um personagem que à primeira vista é cruel ou antipático, se torna mais compreendido e até amado pela audiência na medida em que é desenvolvido em seus capítulos próprios. Essa sacada dos roteiristas é muito boa, pois torna a trama e os personagens muito verossímeis, uma vez que na vida real a sua percepção sobre qualquer pessoa varia muito de acordo com o nível de intimidade que você tem com ela.

É também interessante como Skins desconstrói uma série de estereótipos de adolescentes, como: o cara popular, a patricinha, o nerd, o bad boy, a esquisita, o gay/lésbica. Com o desenrolar da trama a série vai se aprofundando cada vez mais nos personagens, e o cara que parecia ser apenas um bad boy se mostra um grande amigo, com conflitos internos e sentimentos reprimidos, em outras palavras, uma pessoa de verdade com fraquezas e qualidades. As atuações são muito boas e ajudam ainda mais a criar uma identificação com os personagens. Os atores têm interpretações muito próximas de como é na realidade o comportamento de um adolescente de classe média.

Vale ressaltar alguns personagens de destaque na série. Como por exemplo o delinquente Cook, que tem duas faces muito distintas, sendo que o personagem alterna muito entre momentos de extrema raiva e violência, ao mesmo tempo em que possui um lado mais brincalhão e amigo. Outro personagem muito dualista é Tony, um garoto popular adorado pelos amigos, pelas garotas e professores, mas que esconde uma certa insatisfação com esse mundo perfeito. Falando sobre as personagens femininas, Effy e Franky são na minha opinião os destaques da série. Ambas sofrem de sérios conflitos internos, enquanto Effy apesar de ser bonita e popular tem problemas para expressar os seus sentimentos e possui dificuldade de se relacionar com as pessoas, Franky gosta de se vestir como homem e é muito introspectiva devido ao bullying que sofre na escola.
 
Resumindo, Skins é uma série muito bem escrita, com personagens interessantíssimos e grandes atuações. O programa tem um grande nível de realismo ao abordar o cotidiano dos adolescentes, e por conta disso possui uma história muito pesada, o que pode ser um problema para que tem o “estômago fraco” e se impressiona facilmente. No entanto, se você gosta dessa abordagem mais densa e profunda Skins é sem dúvida uma excelente pedida.






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Vikings: 4° Temporada (1° Parte)


A 4° temporada de Vikings apresentou uma grande mudança em relação as temporadas anteriores. Se nos três primeiros anos tivemos entre 9 e 10 episódios por temporada, agora temos 20 capítulos divididos em duas partes com 10 episódios cada, sendo que a 1° parte acabou de ser exibida, enquanto a 2° parte só vai ao ar no fim do ano. Mas qual é a diferença entre uma temporada ter 10 ou 20 capítulos? A questão é que é difícil manter um bom ritmo narrativo na trama com tantos episódios, sem falar que é complicado criar dois clímax bons para cada parte da temporada. Infelizmente a 1° parte da 4° temporada de Vikings não foi uma exceção à regra, arrastada e com muita “encheção de linguiça” a primeira metade da nova temporada foi uma decepção.

A trama dessa 1° parte da 4° temporada foi muito fraca, sem grandes acontecimentos. O expectador viu três núcleos de personagens que tiveram pouca interação entre si. Os vikings, os franceses e os ingleses tiveram histórias quase que independentes um do outro, com exceção para um breve contato dos Vikings com os Parisienses em duas curtas batalhas. As lutas por sinal, foi um outro ponto que a série deixou a desejar. Enquanto que nas 3 primeiras temporadas tivemos cenas de batalha sensacionais, o mesmo não se pode dizer dessa 1° parte da nova temporada, sendo que a luta que em tese seria a principal, no último episódio, foi apenas mediana quando comparada ao padrão que Vikings estabeleceu ao longo dos anos.

Falando ainda sobre a luta final, ela falhou totalmente em entregar um grande clímax para essa 1° parte da 4° temporada. Primeiro que não foi uma batalha lá muito emocionante, segundo porque não cumpriu o que o final da 3° temporada prometeu, o embate definitivo entre os irmãos Ragnar e Rollo, que acabou sendo postergado para a segunda parte da temporada. Esse aliás, é um problema diretamente ligado com a extensão no número de episódios e com a divisão da temporada. Como fazer um clímax decente sendo que a série ainda tem ainda mais 10 episódios? Fica bem difícil, especialmente porque você não pode definir muitas coisas, ou então matar personagens importantes ainda na 1° parte sem acabar comprometendo a 2° parte.

Outro ponto negativo foi o arco da maioria dos personagens. Foram inseridos alguns novos personagens que na minha opinião são pouco interessantes e não acrescentaram em quase nada para a trama. Como por exemplo o rei viking Harald e o seu irmão, que não interferiram em praticamente nada na história. A esperança é que eles tenham um papel maior na 2° parte. Outro exemplo é a escrava chinesa Yudu, que apesar de ser relativamente interessante não disse muito a que veio, exceto em uma pequena parte na interação dela com Ragnar, mas no geral foi apenas um personagem avulso.

Quanto aos personagens antigos, vale o mesmo dos novos, tirando um ou outro. Ragnar por exemplo, estava meio deslocado mesmo sendo o protagonista. Dá até para entender que o personagem estava desmotivado após alguns incidentes da 3° temporada e por isso não foi aquele Ragnar destemido que conhecemos, mas mesmo assim o protagonista foi mal aproveitado pelos roteiristas. Quanto aos personagens secundários, também existem alguns que estão deslocados da trama. Por exemplo o misterioso Harbard, que além de ser na minha opinião um personagem chato, tem sempre as mesmas cenas repetitivas e que não se entrelaçam com a trama principal. Porém, em relação a esses personagens “avulsos”, a série acertou em matar alguns que se arrastavam a tempos, que não revelarei os nomes para evitar spoilers.

Falando ainda sobre o arco dos personagens, há algumas exceções que a série acertou. O principal foi sem dúvida o desenvolvimento do Bjorn nessa 1° metade, o personagem ficou mais forte e ganhou muita importância na história. Sendo que há grandes chances de ele inclusive assumir como protagonista futuramente, visto que Ragnar vem perdendo espaço gradativamente, na medida em que Bjorn cresce na trama. Outro que esteve muito bem nessa 1° parte da 4° temporada foi Rollo, que ganhou grande importância ao assumir de vez o papel de antagonista. Sem falar que foi muito engraçado ver o brutamontes se esforçando para se adaptar a língua e os costumes da corte francesa. Por fim, outros dois personagens que tiveram um bom destaque foram o rei de Wessex, Ecbert e a sua nora. Enquanto o primeiro mostrou ainda mais o seu lado manipulador, a segunda ganhou um certo empoderamento e se tornou uma personagem mais interessante.

Aliás, os núcleos de Wessex e de Paris foram os destaques dessa 1° parte da 4° temporada. Enquanto o núcleo principal dos vikings ficou devendo, o mesmo não se pode dizer dos núcleos da Inglaterra e da França. Em Wessex e em Paris vimos duas boas tramas políticas recheadas de personagens e situações interessantes.


Por fim, apesar da grande quantidade de falhas nessa 1° parte da 4° temporada, há ainda alguns motivos para se ter esperança na 2° metade. Primeiro, porque o tão esperado duelo final entre os irmãos Ragnar e Rollo foi prorrogado e tudo leva a crer que os roteiristas seguraram esse “grande clímax” para os próximos 10 episódios. Segundo, porque após um salto no tempo na narrativa fomos apresentados aos irmãos mais novos de Bjorn já adolescentes, aparentando que eles terão grande participação nessa 2° parte, sem falar que o Ivar parece ser um personagem bem interessante. Fica então a nossa torcida para que a série retome o caminho da essência que a fez um sucesso!





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Six Feet Under


Six Feet Under é uma série criada por Alan Ball, e conta a história da família Fisher que possui uma funerária. À primeira vista a trama pode até parecer bem simples, mas esse é apenas o pano de fundo para uma história muito mais complexa, que envolve além do tema central que é como as pessoas encaram a morte, outros temas como homossexualismo, infidelidade, religião, depressão, família, entre outros. A série teve uma boa recepção por parte da crítica e ao longo de suas cinco temporadas recebeu vários prêmios, incluindo nove Emmys e três Globos de Ouro.

A história tem início quando o pai, Nathaniel Fisher, morre em um acidente de carro e os Fishers se veem sem o chefe de família e fundador da funerária. O filho mais velho de Nathaniel, Nate, que tinha problemas com o pai e morava em outra cidade, volta para casa depois de muitos anos para o funeral do pai. A volta para casa em uma situação tão extrema faz Nate repensar a sua vida e resolver assumir o negócio da família junto com o irmão David, um competente agente funerário e homossexual reprimido, interpretado brilhantemente por Michael C. Hall, do seriado Dexter. Além de ter que lidar com a administração da funerária, Nate também tem de lidar com os outros membros de sua família, a sua mãe Ruth, uma devotada mulher do lar frustrada com a sua vida, e sua irmã mais nova Claire, uma garota sem muito rumo na vida que ele mal conhece. Há ainda outros personagens muito interessantes na série, como a namorada problemática de Nate, Brenda, e o seu irmão psicótico, Billy, além do carismático empregado da família, Rico, e do namorado de David, Keith, um policial negro gay.

Cada episódio da série sempre começa com uma morte e a posterior chegada do cadáver a funerária da família. O interessante é que os irmãos Fisher sempre acabam se identificando de alguma forma com os mortos, e essa relação entre vivos e mortos é muito bem trabalhada no seriado. Há por exemplo, um episódio que a funerária recebe o corpo de um gay que morreu espancado por um grupo de homofóbicos e David acaba ficando com mais medo ainda de se assumir homossexual. Sempre há um paralelo entre o morto do episódio e os personagens vivos.

Outro aspecto bem interessante da série é que apesar de morto, o pai da família Fisher sempre tem uma importante participação na série. Ele aparece para os membros da família Fisher como uma espécie de manifestação do inconsciente deles, conversando com eles sobre os seus conflitos internos e sobre as consequências de sua morte. Os diálogos entre os membros da família e o Sr. Fisher são muito bons, e revelam muito sobre a personalidade dos personagens.

Apesar da série se concentrar nos irmãos Nate e David, as tramas dos personagens secundários também são muito boas. Basicamente todos os personagens da série são muito bem desenvolvidos e possuem um arco completo. A Sra. Fisher, Ruth, começa o seriado como uma ressentida dona de casa, passa por diversas descobertas e transformações e termina a história bem diferente. A filha mais nova da família, Claire, também tem uma trama muito boa, desde o começo em que era uma garota que não sabia o que queria da vida, até o fim da série quando se transforma em uma promissora artista. Até mesmo o empregado da funerária, Rico tem um arco bem trabalhado, ele possui a sua própria história com os seus problemas familiares e também tem uma boa participação no desenvolver da trama principal. Assim como o namorado de Dave, Keith, que a série também mostra os seus problemas com sua família, além da sua relação com o protagonista. Outros personagens como Brenda e Billy também são muito bem trabalhados.

A originalidade de usar um tema tão pesado quanto a morte como pano de fundo para diversos outros temas interessantes, fazem de Six Feet Under uma das melhores séries da história. Some ainda o fato da série ter personagens extremamente reais, repletos de conflitos internos. Temos, portanto, um prato cheio para quem gosta de uma grande história, com uma bela dose de carga dramática.




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Better Call Saul: 2 Temporada (Sem Spoilers)


Vince Gilligan mostra novamente que é mestre em desenvolver personagens. Assim como fez em Breaking Bad, em Better Call Saul ele faz isso muito bem. A narrativa lenta é necessária para desenvolver e contar a origem dos protagonistas Jimmy e Mike. No entanto, senti falta de um pouco mais de ação, de grandes acontecimentos, mas o ritmo lento é compreensível para o desenrolar da trama. Nesta 2° temporada vemos um embrião do Saul Goodman e do Mike que conhecemos em Breaking Bad. Ambos tentam ir contra a sua natureza, mas vão aos poucos a incorporando. Tudo leva a crer que na 3° temporada serão mostrados o Saul picareta e o Mike bad ass que nos acostumamos a ver em Breaking Bad.


Se na 1° temporada vimos um Jimmy McGill que começa malandro e depois vai tentando se ajustar a sociedade, na 2° temporada temos o caminho inverso. Tirando a recaída do hotel nos primeiros episódios, o protagonista começa essa temporada com o emprego dos sonhos de qualquer advogado, e ele realmente tenta se encaixar na sua vida “certinha”, mas algo está errado, ele não quer viver assim, essa não é sua natureza. Aos poucos o expectador vai percebendo o surgimento do Saul Goodman, o episódio 7 mostra bem isso, quando o personagem aparece pela primeira vez usando os seus característicos trajes sociais coloridos e extravagantes.


O arco do personagem Mike tem uma estrutura parecida com a de Jimmy. Assim como o protagonista, Mike também tem uma natureza que ele tenta renegar, mas vai aos poucos a assumindo de vez. Se no caso de Jimmy a essência do personagem é a malandragem, no caso de Mike o seu talento é como criminoso. Apesar do personagem tentar se adaptar a uma vida pacata como avô e com um emprego comum, ele aos poucos vai deixando o seu “lado negro” transparecer cada vez mais. Ele pode até dar a desculpa que está fazendo tudo isso pela família, mas a verdade é que Mike sente um certo prazer fazendo estas atividades criminosas. Vemos uma semelhança com o personagem Walter White de Breaking Bad, que sempre falava que fabricava droga para ganhar dinheiro e que pararia quando ganhasse uma certa quantia, mas que na verdade estava envolvido com aquilo por uma mera razão de vaidade.

Os personagens secundários também foram bem desenvolvidos nessa temporada. Com destaque para Kim Wexler e Charles McGill, que tem as suas motivações mais transparecidas nesta 2° temporada. A primeira gosta de " brincar" de malandra às vezes, (como vemos na cena do golpe no hotel) talvez seja por isso que ela se sinta atraída por Jimmy, no entanto ela se mantém fiel aos seus princípios morais mesmo estando com junto com ele. Charles por sua vez, apesar de ser bem-sucedido profissionalmente sente uma inveja doentia do irmão, e faz de tudo para atrapalhá-lo. No último episódio é mostrado claramente o motivo de toda essa inveja.


Outro ponto que a série continua competente é na inserção de personagens do universo de Breaking Bad. Se na primeira temporada o traficante Tuco foi apresentado, no segundo ano da série fomos introduzidos ao tio do criminoso, o grande Hector Salamanca. A tendência é que cada vez mais esses personagens de Breaking Bad aparecam na série (Vince Gilligan disse que a dupla Walter White e Jesse Pinkman pode aparecer em algum momento na série).

Quanto ao roteiro, direção e fotografia, a série continua muito boa. O roteiro é muito bem amarrado, não existem grandes reviravoltas, mas os personagens são bem trabalhados. O visual continua muito bom, a fotografia é belíssima, principalmente as cenas no deserto, e o ar setentista da séria continua muito bem afiado (a vinheta de abertura, o figurino e a caracterização de Jimmy dão essa cara charmosa dos anos 70)


Por fim, se faltou ação nessa temporada sobrou desenvolvimento dos personagens. Tudo leva a crer que uma vez estabelecida a origem dos protagonistas, na 3° temporada teremos a consolidação do Saul e do Mike de Breaking Bad. Sem tanta necessidade de focar nos dramas dos mesmos, a ação e os grandes acontecimentos devem predominar nas próximas temporadas, assim como ocorreu na série que deu origem ao Spin Off.






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Lançada em 1999, Sopranos mostra de uma forma totalmente diferente o cotidiano da máfia italiana nos EUA. Ao contrário da maioria dos filmes do gênero, a série trata do tema com um nível de realismo jamais visto antes, apresentando mafiosos incrivelmente humanos, com fraquezas e dramas pessoais. Quebrando de certa a forma aquela imagem estereotipada do gangster durão e sem sentimentos.

Além dos personagens mais humanos, a série também apresenta uma rotina do mafioso mais próxima da do cidadão comum. Depois de um dia duro de “trabalho” os mafiosos têm de encarar problemas familiares, problemas com os vizinhos e com os amigos. Fazendo o expectador se identificar com os problemas universais dos personagens, independente da questão da máfia.

Um bom exemplo é do personagem principal, Tony Soprano. Mesmo sendo um membro de destaque na organização criminosa, o protagonista sofre com constantes ataques de pânico e passa a se consultar com uma psiquiatra para resolver o problema. Essa é a grande sacada da série, mostrar que mafiosos também são humanos, quebrar estereótipos, e assim desenvolver personagens interessantíssimos.


As conversas entre Tony a sua psiquiatra, Doutora Melfi, são um show à parte. Os diálogos entre os dois são muito bons, e revelam muito sobre o protagonista que tem muitas facetas. As vezes o expectador pensa que ele é um monstro, outras tantas ele aparenta ter boas razões para fazer o que faz, e em outras aparenta ser apenas um pai de família lutando para prover sua prole. O fato é que Tony é tudo isso e mais um pouco, afinal ele é humano.

Além de servir para contar um pouco mais sobre o personagem, as sessões também servem para inserir o expectador no mundo da máfia. Ainda que de forma disfarçada e usando metáforas, Tony acaba contando alguns detalhes da sua organização criminosa para a psiquiatra. Tornando as conversas entre os dois um interessante recurso narrativo dos roteiristas para explicar melhor a trama e a personalidade do protagonista para o expectador.

Pena que as conversas entre Tony e Melfi foram deixadas um pouco de lado no decorrer da série. Uma vez que as motivações do protagonista já foram apresentadas, assim como o mundo da máfia, talvez os roteiristas não julgaram ser mais tão importante mostrar as consultas. Uma pena porque eram cenas muito interessantes e divertidas.

Porém, a série tem muitas outras coisas boas além das conversas de Tony com a sua psiquiatra. O realismo dos personagens, como já citado acima é muito interessante. As relações familiares têm muito peso na trama, visto que a família é importantíssima na cultura italiana. E a série consegue mostrar brilhantemente essas relações, marido e mulher, pai e filho(a), irmão e irmão, e mãe e filho(a). Está última com grande destaque, visto que a relação de Tony com a mãe, Lívia, tem grande importância na construção do personagem principal. Grande parte da personalidade do protagonista é explicada pela relação com mãe, que apesar de ser exagerada e melodramática como as “típicas mães italianas”, parece não se importar muito com o filho. Quebrando o estereótipo de mãe italiana super protetora e carinhosa.

Falando ainda sobre estereótipos do povo italiano, Sopranos trabalha muito bem com isso, seja desconstruindo-os, seja brincando com eles. Ao mesmo tempo em que são apresentados personagens que são a encarnação da caricatura do ítalo americano, como o consigliere de Tony, Silvio Dante, e a própria mãe do protagonista Livia. Também são mostrados ítalo americanos médicos, como a Dra Melfi e o Dr Cusamano, universitários como a filha de Tony, Meadow, além de policiais, padres, advogados, etc. Ou seja, não existe na série o tradicional “tipo italiano”.  


O que os roteiristas fazem muito bem, é desconstruir o estereótipo do “Carcamano” nos personagens mais caricatos e ao mesmo tempo mostrar que há um pouco de “ carcamano” nos personagens menos caricatos. Há por exemplo uma cena em que a Dra Melfi (que também é ítalo americana) discute com a família e amigos sobre a imagem dos italianos como mafiosos nos EUA, e defende o seu paciente Tony Soprano, dizendo que eles são italianos assim como ele. Ou seja, é mostrado que mesmo os italianos mais “ajustados a sociedade” também tem em algum grau uma identificação com a cultura e o imaginário ítalo americano, formado pela culinária, música e tradições em geral, assim como também é formado pelos filmes de mafiosos como O Poderoso Chefão e Bons Companheiros.

Aliás, as referências a filmes de máfia são muito bem colocadas na série. Sendo que os próprios personagens brincam com essa caricatura do italiano nos filmes. O personagem Silvio Dante por exemplo, está sempre imitando Don Corleone e citando frases de O Poderoso Chefão e outros filmes de máfia.

Assim como a hilária atuação de Steven Van Zandt como Silvio Dante, as interpretações são excelentes. James Gondolfini que vive Tony Soprano consegue equilibrar muito bem  uma atuação mais contida, com momentos de explosão e raiva, dando um verdadeiro show de interpretação. Além do protagonista, outros atores têm grande destaque na série, como a louca mãe de Tony, Livia, interpretada por Nancy Marchand e o tio que disputa o poder com o Tony, Corrado Soprano, vivivo por Dominic Chianese. Ainda na família do protagonista, sua mulher Carmela, Edie Falco, e os seus filhos, o problemático AJ, Robert Iler, e a estudiosa Meadow, Jamie – Lynn Sinlgler, enriquecem muito a trama familiar.



Há ainda grandes personagens, como o sobrinho de Tony, Christopher Moltisanti, Michael Imperioli, os mafiosos psicóticos e sem limites, Paulie Gualtiere, Tony Sirico, e Ralph Cifaretto, Joe Pantoliano. Além do cozinheiro amigo de Tony, o engraçado e atrapalhado Artie Bucco, John Vertimiglia, e a já citada Dra Melfi, Lorraine Bracco. Sem falar de outros tantos personagens marcantes com atuações sensacionais.

Tanta qualidade fez de Sopranos uma das séries mais aclamadas da história pela crítica especializada. Sendo que em 2013 foi considerada como a série mais bem escrita de todos os tempos pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA (Writers Guild of America). Sem falar nos inúmeros prêmios vencidos, como por exemplo incríveis 18 Emmys e 5 Globos de Ouro.

Portanto, Sopranos se destina a todos que gostem de uma boa história sobre máfia, de uma boa história sobre família, de uma boa história pessoas, de uma boa história.....


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The River



A série começa quando Dr. Emmet Cole, famoso explorador e apresentador de um 
programa sobre natureza selvagem (espécie de Richard Rasmussem ou Steve Irwin) se perde em uma aventura na floresta amazônica. Depois de 6 meses de desaparecimento, seu filho Lincoln decide partir em uma missão nos confins da Amazônia em busca do pai. Mas o detalhe é que ele partirá acompanhada de uma equipe de TV que irá documentar a busca para transformá-la em um programa televisivo. No entanto, Lincoln e seu grupo vão descobrindo aos poucos que o desaparecimento do Dr. Emmet está ligado a acontecimentos misteriosos e sobrenaturais da floresta.
A premissa misteriosa e mágica já torna a série interessante. Some ainda o fato de ser produzida por Steven Spielberg, e também ser um found footage (quando o filme é filmado como documentário, como por exemplo Bruxa de Blair). Este último recurso é usado de uma forma muito inteligente na série. Como na história o grupo de cinegrafistas está fazendo um documentário sobre a busca ao Dr. Emmet, faz todo o sentido o diretor mostrar The River também como se fosse um documentário. É uma metalinguagem muito interessante, que aumenta o suspense e o terror da série.

No entanto, The River não se prende apenas ao terror e ao suspense. Ao mesmo tempo que tentam desvendar os mistérios da floresta e encontrar o explorador, os personagens também tem que lidar com os seus conflitos pessoais e resolver problemas de relacionamento com os outros membros do grupo. Lincoln por exemplo, tem problemas com o pai que ele está procurando. Percebe-se neste ponto uma certa semelhança com o seriado Lost, que também se construiu em torno do mistério, dos conflitos internos dos personagens e das dificuldades da convivência em grupo. No entanto, é bom frisar que apesar de ser uma boa série, The River não chega nem perto da complexidade dos personagens de Lost, que são muito mais interessantes.
Esse é um ponto que a série fica devendo um pouco. Apesar dessa questão interessante do autoconhecimento a partir da busca pelo desconhecido, alguns personagens não são bem desenvolvidos, tornando-os pouco interessantes. Fica evidente que o ponto forte de The River é o suspense e o terror, talvez por isso não tenham se preocupado tanto com os personagens.
Outro ponto negativo que sofreu muitas críticas foi o fato dos nativos da floresta amazônica falarem espanhol, sendo que a história se passa na região da Amazônia que fica no Brasil. Soma-se ainda o fato que os índios parecem praticar cultos africanos e não os realizados pelos verdadeiros índios daquela região. Os americanos mostram mais uma vez que ou não conhecem nada da cultura latino-americana ou então não fazem questão nenhuma de conhecer.

Tirando as falhas citadas acima The River é sim uma boa série. É competente no que se propõe, que é transportar o expectador para aquele mundo misterioso, sobrenatural e aterrorizante. No entanto, apesar de receber boas críticas nos EUA a série foi cancelada logo na primeira temporada devido à baixa audiência. Chegou a correr um boato que a Netflix tinha interesse de produzir uma nova temporada, mas as negociações acabaram não indo para frente.
Se podemos tirar algum pró desse cancelamento, é que para quem ainda não conhece The River e tem vontade de assistir, não irá gastar muito tempo. Além de possuir apenas uma temporada a série tem só 8 episódios. Dá para ver tranquilamente em um final de semana. Portanto, se você gosta de supense e terror não deixe de conferir a série!



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Demolidor : 2° Temporada (SEM SPOLIERS)


Depois de uma 1° temporada aclamada pelo público e pela crítica, era difícil que a série mantivesse o alto nível na 2° temporada. No entanto, a nova temporada de Demolidor conseguiu não só manter a qualidade do primeiro ano como também melhorá-la em alguns aspectos.

O visual sombrio e soturno do 1° ano da série continua na 2° temporada. A quem diga que as cenas escuras atrapalham na hora das cenas de luta, mas em minha opinião só ajudam a ambientar melhor o expectador, afinal o personagem é um herói que vive nas sombras. Falando sobre as cenas de luta, as coreografias de combate e a direção das mesmas continuam muito boas. Com destaque para a sensacional cena filmada em plano sequência no 3° episódio, quando o Demolidor enfrenta vários motociclistas na escada de um prédio. Sendo que para mim essa cena consegue o feito de superar a cena do corredor na 1° temporada.


A grande novidade dessa temporada foi a inserção de novos personagens bastante conhecidos do universo do Demolidor nas HQs, Justiceiro e Elektra. Tais personagens se encaixaram muito bem na história, e dividiram muito bem a cena com o protagonista, algumas vezes até roubando a cena. O Justiceiro, por exemplo, foi muito bem interpretado por Jon Bernthal, que parece ter nascido para o papel. O ator faz muito bem esse papel de cara durão, bruto e bad assassim como já havia demonstrado ao viver Shane em Walking Dead. Já Elektra foi muito bem vivida pela atriz Elodie Young, que faz uma personagem infinitamente mais interessante que a Elektra de Jenifer Garner no filme Demolidor: O homem sem medo. Na série o seus lados sensual e assassina são muito mais abordados, se assemelhando mais a personagem dos quadrinhos.

A relação desses dois personagens com Matt Murdock foi para mim o ponto alto dessa temporada. O embate das duas visões de como combater o crime foi muito interessante. De um lado o Demolidor com os seus valores cristãos que não o permitem matar os inimigos, e de outro lado Justiceiro e Elektra com os seus métodos “pouco ortodoxos” de acabar com os adversários. O conflito interno do protagonista sobre usar a violência para combater o crime  que foi muito bem trabalhado na 1° temporada, foi amplificado nessa nova temporada com esses personagens que têm visões totalmente opostas a dele.


Falando ainda sobre a trama, percebe-se que cada vez mais são incluídos elementos de um aspecto mais místico do Demolidor. Esse universo mais mágico parece que terá cada vez mais espaço na história, o que pode ser um ponto negativo para quem gosta de histórias mais realistas.


Quanto as semelhanças com as HQs, as referências e o fã service continuam em voga na 2° temporada. Especialmente no episódio final em qual são dadas várias pistas sobre o que virá  a seguir na série. No entanto, essas referências conhecidas só pelos leitores não atrapalham de forma nenhuma a experiência do expectador que não conhece as revistas. Demolidor continua atingindo a difícil proeza de agradar tanto o grande público quanto os fãs de quadrinhos.



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Californication



Californication conta a história do escritor nova-iorquino Hank Moody, que se muda com a mulher e filha para Los Angeles após o sucesso do seu livro que vai virar filme. No entanto, a mudança de cidade gera para o protagonista problemas familiares e de bloqueio criativo. É nesse contexto que se desenvolvem as 7 temporadas dessa sensacional série, vencedora de 2 Emmys de fotografia e 1 Globo de Ouro de melhor ator de comédia para David Duchovny.

Primeiramente é bom falar que o nome Californication não é por acaso. Como já dito acima a história se passa em LA, Califórnia, e possui muitas cenas de FORNICATION. Sim, a série tem muito sexo e não é recomendada para quem tem restrições quanto a isso. O personagem Hank Moody aparece quase que em todos os episódios transando com uma mulher diferente, sem falar dos outros personagens que tem uma vida sexual digamos que bem ativa.

A tentação do sexo fácil e o deslumbramento com o sucesso de escritor fazem o protagonista entrar em uma derrocada familiar e profissional. Sua mulher o abandona e o seu próximo livro tarda em não sair, levando Moody a se afundar no sexo e na bebida para esquecer os seus problemas.

Falando desse jeito parece que a série é um drama pesado, no entanto é classificada pela crítica como Comédia. De fato a história possui muita comédia, mesclando diálogos de humor extremamente ácido e cenas hilariantes beirando a comédia pastelão. Porém, não se pode classificar a série como apenas Comédia. O humor na série serve como pano de fundo para o drama profundo do protagonista.

Essa transição entre comédia e drama é a principal qualidade da série. No mesmo episódio o expectador pode ir da gargalhada ao choro. Essa passagem do engraçado para o triste ocorre de maneira muito sutil, sendo que mesmo nas cenas de humor se percebe um pouco de drama e vice e versa.

A série também é impecável quanto às atuações. David Duchovny consegue passar brilhantemente a profunda angustia de Moody disfarçada pelo seu humor negro, não atoa ganhou o Globo de Ouro pelo papel. Outro personagem de destaque é a filha de Hank, Becca, interpretada por Madeleine Martin, que apesar da pouca idade atua de igual para igual com o elenco adulto. E o que dizer do amigo e empresário de Hank, Charlie Runkle, interpretado pelo hilário Evan Handler? De fato os momentos mais engraçados da série são as cenas de Charlie com Hank e Charlie contracenando com a sua mulher Marcy, interpretada pela também muito engraçada Pamela Adlon.

Outro fator de destaque da série é a fotografia, ganhadora de 2 prêmios Emmy. As belas tomadas das praias californianas são um show a parte. Cumprindo bem o seu papel de ambientar o expectador nesse mundo paradisíaco e louco da Califórnia.

Por fim, Californication se destina a todos aqueles que gostam de uma boa comédia, mas também não abrem mão de uma bela dose dramática.  A série consegue o feito de se aprofundar em questões difíceis como amor, angustia e existencialismo. Ao mesmo tempo em que abusa do humor para criar um certo contraste. Resumindo, Californication é uma tragicomédia do sonho americano, ou mais especificamente do “sonho californiano”.






Confira o trailer da série:


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House of Cards - 4° Temporada (SPOILERS)



Pode se separar a 4° temporada de House of Cards em duas partes: Antes de Frank ser baleado e depois de Frank ser baleado. Na primeira parte Frank tem de lidar com uma batalha em duas frentes. De um lado sua oponente do partido Democrata nas primárias para presidente, Heather Dumbar, de outro lado sua insatisfeita e perigosa esposa Claire. Já na segunda parte da trama, Underwood tem de enfrentar o forte candidato republicano, Will Conway, na disputa pela presidência.

Na primeira metade Frank tenta contornar o desentendimento com Claire ocorrido na 3° temporada, mas sua esposa se vira contra ele e a seu contragosto passa a ambicionar voos maiores na política. O confronto entre o casal é o ponto alto dessa 4° temporada, que pode ser considerada definitivamente a temporada de Claire. Ela rouba a cena, passa por cima do marido, dos adversários e aliados políticos e até da própria mãe com câncer em estágio terminal. A personagem de Claire consegue em certos momentos ofuscar até o próprio protagonista da série, e mostra que pode ser tão ou até mais fria e calculista que o mesmo.

Depois de quase morrer, Frank passa a reconsiderar o seu confronto com a esposa. Percebe que tem muito mais a ganhar com ela a seu lado e decide apoiar as ambições políticas da mesma, ao mesmo tempo em que ela volta a ajudá-lo na corrida presidencial. Desse momento em diante o embate de Underwood agora é contra o candidato republicano Will Conway. O oponente é o típico modelo do ideal de homem americano: branco, de boa aparência, veterano de guerra e com uma linda família. À primeira vista o oposto de Frank, mas ao longo dos episódios se percebe que os dois tem muita coisa em comum, como por exemplo, a sede irrefreável pelo poder. Os melhores momentos desse embate ocorrem quando ambos ficam cara a cara, e podemos perceber claramente que apesar das diferenças partidárias os dois têm muito em comum no que diz respeito ao modus operandi de se fazer política.

Apesar da semelhança relativa a como agem nos bastidores, Frank e Conway se diferenciam em relação a como lidam com os eleitores. Enquanto o democrata é mais tradicional, o republicano é mais moderno e usa bastante as redes sociais para interagir com o público. Os roteiristas, aliás, usam bastante de temas que estão em voga no mundo da política: Redes sociais na campanha, Estado Islâmico e vigilância através de sites de busca online são alguns assuntos abordados. Esse é um dos
principais pontos positivos dessa temporada, usar temas que estão nos noticiários da vida real e adaptá-los à trama, tornando-a ainda mais verossímil.

Outro ponto positivo dessa temporada são as alucinações de Frank quando esteve em coma. Os fantasmas do passado e do presente se reúnem para atormentá-lo. A cena que melhor sintetiza isso é quando a falecida Zoe Barnes aparece para ele vestida e com o mesmo corte de cabelo de Claire. Mostrando que ainda existe a ameaça de uma mulher acabar com ele.

Falando em Zoe, essa 4° temporada não teve coadjuvantes tão fortes como ela e Peter Russo. No entanto, alguns personagens merecem destaque como o próprio Conway já citado acima. Outra que está bem é mãe de Claire, interpretada muito bem por Ellen Burstyn. Com destaque para as cenas que tira a peruca e quando conta que tem câncer para a filha. Outro personagem de destaque é Tom Yates, que após a morte de Meetchum
passa a ocupar o papel de “3° integrante” na relação do casal presidencial. Por fim, outro coadjuvante que se destaca é Douglas Stamper, que apesar de aparecer menos do que nas últimas temporadas, continua sofrendo internamente pelos seus atos inescrupulosos. Se anteriormente sua maneira de tentar se redimir para si próprio era tentando amar Rachel, agora seu objeto de redenção é a viúva de Moretti, o homem que morreu para salvar a vida de Frank.

Por fim, o final foi alucinante. Para resolver os seus problemas internos, Underwood apela para a saída favorita de 10 entre 10 presidentes americanos. Declara guerra contra um inimigo externo para enfraquecer os internos. Fica no ar o suspense para saber o que essa guerra ao terror de Frank reserva para a 5° temporada.









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