Antes de falar sobre o filme em si é preciso explicar um
pouco o que foi o movimento cinematográfico conhecido como Nova Hollywood.
Sendo A Primeira Noite de Um Homem um dos percursores deste, junto com Bonnie e
Clyde, lançado no mesmo ano.
Pois bem, esse movimento surgido no final da década de 60 /
começo de 70 foi encabeçado por uma série de jovens cineastas americanos recém-saídos
das primeiras faculdades de cinema dos EUA, que tinham uma forte influência de
filmes europeus, em especial do movimento francês da Nouvelle Vague. Esses
jovens diretores autores, se opunham a Hollywood clássica dos anos 50, na qual
predominavam os grandes estúdios e filmes com produções grandiosas e otimistas,
como épicos e musicais escapistas. Além de se opor esteticamente, com um visual
muito mais europeu do que americano, esses cineastas também começaram a abordar
temas mais controversos, pessimistas e intimistas. Totalmente o oposto das
super produções megalomaníacas e de certa forma impessoais da década passada.

O filme conta a história de Benjamin Braddock, um jovem de
família abastada que acabou de se formar na faculdade e é recebido com todas as
honras na mansão dos pais que criam mil planos para o futuro brilhante do
filho. Desde fazer mestrado, até se tornar sócio na empresa de um dos amigos. O
problema é que apesar de ter tudo trabalhando ao seu favor, Ben não vê sentido na
sua vida. Ele não tem objetivos e nem sonhos, seguiu até então apenas o que o
pai e a mãe esperavam dele.
O filme todo se desenrola sobre esse dilema, o jovem
angustiado procurando uma razão para seguir em frente. E é a partir do caso
amoroso que ele tem com a sua vizinha mais velha, a Senhora Robinson, que Ben
começa a tentar se tornar um homem. Desde a perda da virgindade, até a busca
pelo autoconhecimento. Elaborando objetivos de vida, como se casar com a filha
da amante, Elaine.
Podemos perceber então que o longa tem um roteiro muito
profundo, reflexivo e filosófico, com uma excelente construção de personagem do
protagonista. Ao mesmo tempo em que não deixa de ser divertido, com tiradas
muito engraçadas e de humor inteligente. Dessa forma acaba sendo um dos raros
casos de filmes que fazem o expectador pensar, sem deixar de entretê-lo.

Outro fator que contribui bastante para o simbolismo sutil
do filme, é a montagem. Que é bastante inventiva e ágil, contribuindo para que
tanta reflexão não se torne cansativa e morosa. Um ótimo exemplo é a montagem
da cena logo no começo do filme, quando a senhora Robinson leva o protagonista
para o quarto dela e tenta seduzi-lo. Depois de muita insistência ela tira a
roupa e encurrala Ben, que tenta não olhar, mas acaba olhando de relance
algumas vezes para as partes intimas da senhora Robinson. Nessa cena os cortes
são bem rápidos quando ele olha para ela, sendo colocados trechos quase imperceptíveis
das partes do corpo dela que ele está olhando. Nesse momento o montador coloca
o expectador no lugar do protagonista, simulando o ponto de vista dele através
de uma montagem brilhante.

A trilha sonora além de linda se encaixa muito bem com as
cenas. Composta por Simon e Garfunkel, as canções do filme se tornaram grandes
hits na época, com destaque para Sound of Silence e Mrs Robinson. Algumas
canções são tocadas mais de uma vez, dando uma falsa primeira impressão de repetição
e falta de repertorio. Porém, existe uma clara relação entre todas as cenas em
que tocam a mesma música. Cada canção está ligada a um estado emocional
específico, tendo relação direta com o sentimento que o personagem está
sentindo naquele momento.
Como maior exemplo temos a canção The Sound of Silence, que
é tocada sempre que o protagonista está afundado no seu vazio existencial, ou
mergulhado no angustiante “Som do Silêncio” como diz na letra. Essa música é
tocada nos três atos do filme, e pode ser entendida como o cerne da trama.

Concluindo, A Primeira Noite de Um Homem é um filme espetacular.
Tanto em termos estéticos, quanto de conteúdo. Tem uma mensagem muito forte, e
que apesar dos anos não ficou datada, pelo contrário, temas como
existencialismo, sentido da vida e depressão ainda são e sempre serão atuais. E
apesar de serem temas difíceis, Nichols trata os com maestria, através de um
roteiro profundo, direção e montagem inventivas, e uma trilha sonora memorável.
Criando dessa forma uma obra icônica e essencial.
NOTA:
9,84