quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

MINDHUNTER




Por si só, apenas o fato de ter como produtor e diretor David Fincher já é motivo suficiente para atrair os holofotes para Mindhunter. Mas a série não é apenas mais uma obra do diretor de Clube da Luta e Seven, é definitivamente um dos seus melhores trabalhos. O cineasta brinda novamente o público da Netflix com mais uma produção original do mesmo calibre da sua série anterior no serviço de streaming, House of Cards.

Mas por que a série é tão boa assim? o que a torna uma obra de destaque em meio a uma cinebiografia tão rica quanto a do diretor? Primeiramente, porque a premissa do seriado é extremamente interessante. A história gira em torno de Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt MacCallany), dois agentes do FBI que decidem entrevistar vários serial killers em penitenciárias de segurança máxima ao redor dos EUA para tentar entender melhor porque eles fazem o que fazem, traçando um perfil psicológico dos mesmos, e assim podendo prevenir futuros crimes e desvendar os que estão em curso.

Some ainda o fato que os acontecimentos mostrados em Mindhunter são baseados em fatos. A série muda o nome dos personagens reais, mas a história é uma adaptação do livro “Mind Hunter: Inside the FBI´s Elite Serial Crime Unit” escrito pelos próprios agentes que inspiraram os protagonistas do seriado. Esses agentes reais do FBI praticamente criaram a psicologia forense de hoje em dia, sendo pioneiros na criação de perfis psicológicos de criminosos para auxiliar a resolução de casos enigmáticos para a polícia comum.

Além da premissa interessante o do fato de ser uma história real, a qualidade técnica da produção da Netflix é incrível. Há um bom tempo que as séries de tv, ou streaming no caso, utilizam bastante da linguagem cinematográfica, e contam com produções milionárias. Foi se o tempo que os seriados tinham uma qualidade muito inferior ao cinema. No entanto, falando em termos técnicos como direção e fotografia, o que é mostrado em Mindhunter é realmente impressionante, não existe diferença alguma entre os grandes filmes do Fincher e Mindhunter.

Devido ao diretor também ser produtor da série ao lado da atriz Charlize Teron, por questões de tempo não foi possível que Fincher dirigisse todos os episódios dessa primeira temporada. Porém, ele dirige boa parte, 4 episódios de um total de 10 dessa temporada. Os 2 primeiros e os 2 últimos, os mais importantes e cruciais para o sucesso de um seriado. E mesmo nos episódios que não são dirigidos por ele, é possível verificar a assinatura visual do cineasta. Esse é um dos pontos altos da série, os enquadramentos simétricos e a fotografia escura característica do diretor estão presentes na série. Para quem é acostumado com a estética dos filmes de Fincher, vai identificar vários pontos semelhantes com obras como A Rede Social, Seven e Garota Exemplar por exemplo.

Outro ponto de destaque são as atuações que são impressionantes. Apesar de todo o elenco estar muito bem, a que se exaltar duas interpretações em particular. A de Jonathan Groff como o agente Holden Ford e Cameron Britton como o serial killer Edmund Kemper. O investigador do FBI passa por uma grande alteração de personalidade ao longo da série. Começando bem inseguro e receoso nas entrevistas com assassinos e depois vai se transformando ao longo dos episódios, se tornando cada vez mais seguro, arrogante e até mesmo flertando com uma certa identificação e admiração a esses criminosos. O trabalho de transformação na interpretação de Groff é gradual e muito bem dosado para o público não estranhar uma mudança muito repentina. Enquanto que Britton tem uma atuação bem impactante devido a frieza que transmite para o seu personagem, que descreve assassinatos, mutilações e estupros que praticou no passado como se fossem uma simples ida na padaria. No entanto, o ator consegue ao mesmo tempo passar uma certa simpatia para o serial killer, conferindo uma aura de mistério sobre a personalidade do serial killer, ao mesmo tempo em que faz com que o público se compadeça com um assassino tão cruel.

Há apenas um fator que pode desagradar uma parte do público. Apesar de ser uma série que fala sobre serial killers, não é mostrado nenhum assassinato. Com exceção de uma cena de suicídio logo no primeiro episódio, não é mostrada nenhuma violência gráfica, apenas psicológica. Isso pode pesar negativamente para quem está esperando uma série policial clássica, com perseguições, tiros, e assassinatos. No entanto, como o próprio título do seriado diz, os agentes Holden e Tench são Mind Hunters, o embate está no campo da mente e não no físico. Portanto, essa uma série que preza bastante pelos diálogos e pela linguagem cinematográfica para fazer a história andar.

Por fim, as expectativas para a segunda temporada (já renovada pela Netflix) são as melhores possíveis. A série deixa muitos ganchos para a próxima temporada que deixaram o público bastante instigado. Tem um acontecimento com um dos protagonistas no último episódio que gera muita curiosidade para saber como as coisas vão seguir na próxima temporada, e principalmente como esse personagem vai lidar com essa situação daqui para frente. Há também um personagem misterioso no qual é revelada pouquíssima coisa, mas tudo indica que ele desempenhará um papel importante na segunda temporada. Fica a torcida para que essas expectativas sejam atendidas, se assim for Mindhunter tem tudo para se consolidar como uma das melhores séries da atualidade.



NOTA: 9,1










Nenhum comentário:

Postar um comentário