sexta-feira, 29 de julho de 2016

O Cheiro do Ralo (2007)



Dirigido por Heitor Dhalia e estrelado por Selton Mello, O Cheiro do Ralo é baseado no livro homônimo escrito por Lourenço Mutarelli. O filme conta a história de Lourenço (Selton Mello), um comprador de uma espécie de antiquário, que adquire desde pratos, até violinos. Aproveitando-se de sua posição superior, o protagonista é um homem que sente prazer em destratar as pessoas que vão no seu estabelecimento tentar vender os seus pertences. O curioso é que ao mesmo tempo em que gosta de diminuir as pessoas, Lourenço se sente como um sujeito fracassado, uma pessoa ruim.

No filme, o personagem de Mello quando recebe alguém interessado em lhe vender algum item em sua sala, sempre diz que o cheiro ruim da sala não é dele e sim do ralo do banheiro que está entupido. De forma metafórica o ralo simboliza o próprio protagonista que “fede a merda”, mas diz que os outros é que fedem, os outros é que são fracassados. A merda é mostrada como algo que o protagonista tenta esconder, mas que acaba transparecendo através do seu comportamento doentio. A fixação dele pela bunda de uma garçonete é uma clara alusão que o personagem de Mello vê beleza na merda, ou nesse caso na “origem” dela. Ao mesmo tempo em que sente repulsa pela sua natureza imunda, o protagonista gosta dela e a expressa através da sua conduta mesquinha.

Ou seja, de forma metafórica O Cheiro do Ralo trata da questão de projetar no outro o que o indivíduo não suporta ver em si mesmo, nesse caso a avareza, a mesquinhez, o jogo de poder, a sujeira em sua forma mais simbólica: a merda. É, portanto, uma crítica muito inteligente a própria natureza humana em sua forma mais perversa.

Quanto as atuações, o grande destaque fica com Selton Mello, que encarna brilhantemente o sujeito perturbado e mesquinho, que fica dividido entre ser uma pessoa melhor e continuar com suas manias e hábitos doentios. Mello passa muito bem esse conflito interno do personagem, ao mesmo tempo em que gera uma certa repulsa.

Quanto a performance do restante do elenco, o mesmo cumpre muito bem o papel de apoiar a trama que gira em torno do protagonista, de modo geral ninguém compromete, mas também não chega a ter um grande destaque. Com exceção para a atriz Silvia Lourenço, que vive uma viciada em drogas que vai sempre no antiquário tentar vender objetos para conseguir dinheiro para o seu vício. A atriz consegue transmitir muito bem todo o desespero de uma usuária de drogas que está disposta a fazer de tudo para sustentar o seu uso.

Quanto a direção, Heitor Dhalia cumpre muito bem o seu papel de ambientar o expectador naquele mundo fétido e sujo do protagonista, com uma palheta de cores composta por tons de  marrom,  é transmitida a ideia de sujeira, e com enquadramentos inteligentes é transmitido ao público a percepção de mundo  do protagonista Lourenço.

Resumindo, O Cheiro do Ralo é um filme sobre a “podridão” do homem. Apesar do tema pesado a história é contada de forma leve e até engraçada. A grande atuação de Selton Mello e a boa direção de Dhalia fazem do longa uma excelente pedida para os fãs de um cinema mais cabeça, porém divertido.






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