Dirigido por Heitor Dhalia e estrelado por Selton Mello, O
Cheiro do Ralo é baseado no livro homônimo escrito por Lourenço Mutarelli. O filme
conta a história de Lourenço (Selton Mello), um comprador de uma espécie de
antiquário, que adquire desde pratos, até violinos. Aproveitando-se de sua
posição superior, o protagonista é um homem que sente prazer em destratar as
pessoas que vão no seu estabelecimento tentar vender os seus pertences. O
curioso é que ao mesmo tempo em que gosta de diminuir as pessoas, Lourenço se
sente como um sujeito fracassado, uma pessoa ruim.
No filme, o personagem de Mello quando recebe alguém
interessado em lhe vender algum item em sua sala, sempre diz que o cheiro ruim
da sala não é dele e sim do ralo do banheiro que está entupido. De forma
metafórica o ralo simboliza o próprio protagonista que “fede a merda”, mas diz
que os outros é que fedem, os outros é que são fracassados. A merda é mostrada
como algo que o protagonista tenta esconder, mas que acaba transparecendo
através do seu comportamento doentio. A fixação dele pela bunda de uma
garçonete é uma clara alusão que o personagem de Mello vê beleza na merda, ou
nesse caso na “origem” dela. Ao mesmo tempo em que sente repulsa pela sua
natureza imunda, o protagonista gosta dela e a expressa através da sua conduta
mesquinha.
Ou seja, de forma metafórica O Cheiro do Ralo trata da
questão de projetar no outro o que o indivíduo não suporta ver em si mesmo,
nesse caso a avareza, a mesquinhez, o jogo de poder, a sujeira em sua forma
mais simbólica: a merda. É, portanto, uma crítica muito inteligente a própria
natureza humana em sua forma mais perversa.
Quanto as atuações, o grande destaque fica com Selton
Mello, que encarna brilhantemente o sujeito perturbado e mesquinho, que fica
dividido entre ser uma pessoa melhor e continuar com suas manias e hábitos
doentios. Mello passa muito bem esse conflito interno do personagem, ao mesmo
tempo em que gera uma certa repulsa.
Quanto a performance do restante do elenco, o mesmo cumpre
muito bem o papel de apoiar a trama que gira em torno do protagonista, de modo
geral ninguém compromete, mas também não chega a ter um grande destaque. Com
exceção para a atriz Silvia Lourenço, que vive uma viciada em drogas que vai
sempre no antiquário tentar vender objetos para conseguir dinheiro para o seu
vício. A atriz consegue transmitir muito bem todo o desespero de uma usuária de
drogas que está disposta a fazer de tudo para sustentar o seu uso.
Quanto a direção, Heitor Dhalia cumpre muito bem o seu
papel de ambientar o expectador naquele mundo fétido e sujo do protagonista,
com uma palheta de cores composta por tons de
marrom, é transmitida a ideia de
sujeira, e com enquadramentos inteligentes é transmitido ao público a percepção
de mundo do protagonista Lourenço.
Resumindo, O Cheiro do Ralo é um filme sobre a “podridão”
do homem. Apesar do tema pesado a história é contada de forma leve e até
engraçada. A grande atuação de Selton Mello e a boa direção de Dhalia fazem do
longa uma excelente pedida para os fãs de um cinema mais cabeça, porém
divertido.
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