segunda-feira, 25 de julho de 2016

Pássaros (1963)



Pássaros é um filme que transcende o gênero de terror, é muito mais do que isso. É ao mesmo tempo um excelente suspense, e uma metáfora muito perspicaz e inteligente do grande cineasta britânico.

O filme conta a história de Malaine Daniels, Tippi Hendren, uma “patricinha”,que após conhecer o advogado Mitch Brenner, Rod Taylor, em um pet shop, fica intrigada com o rapaz e decidi ir atrás do mesmo na pequena cidade de Bodega Bay. No entanto, quando chega na cidade a jovem é surpreendida por uma série de ataques de pássaros sem motivo aparente.

Pássaros é sem dúvida o longa metragem mais metafórico de Hitchcock. Os pássaros que são animais aparentemente inofensivos se tornam o pior pesadelo dos protagonistas quando passam a atacar os humanos por nenhuma razão clara. De modo geral, as aves podem ser entendidas como a representação dos medos e dos conflitos internos dos personagens, que normalmente não se manifestam, mas quando o fazem aterrorizam as pessoas.

No começo do filme os protagonistas Mellanie e Mitch se conhecem em um Pet Shop, quando o rapaz aborda a garota com a desculpa de que está procurando um par de periquitos, em inglês “love birds”, ou seja, o diretor mostra simbolicamente que vai existir um envolvimento amoroso entre os dois. Os periquitos, assim como a maioria das aves domesticas apresenta um comportamento dócil, mas quando Mellanie acidentalmente acaba soltando um dos peritos, “love bird”, o pássaro tenta fugir e mostra seu comportamento selvagem, uma clara alusão a dificuldade da protagonista em lidar com os seus sentimentos, em especial com o amor.

A partir de então são mostradas diversas alegorias de como os pássaros representam os medos dos personagens. Desde a dificuldade de Mellanie de mostrar o seu amor, até a complexa relação de Mitch com sua mãe. O protagonista que já tem uma carreira de sucesso como advogado em São Francisco, sempre termina os seus relacionamentos amorosos em virtude dos ciúmes que a sua mãe sente, passando inclusive a morar com ela e com a irmã na pequena cidade de Bodega Bay, mesmo tendo um bom apartamento na cidade grande. Fica clara a referência a teoria do complexo de Édipo de Sigmund Freud. Hitchcock chega inclusive a colocar um diálogo entre Mellanie e a ex namorada de Mitch em que é citado o complexo de Édipo para explicar a relação do protagonista com a mãe. Outra referência é feita quando a mãe entra na casa de um morador da cidade que foi atacado pelos pássaros e encontra o homem morto e com os olhos furados e sangrando, alusão a morte de Édipo que fura os olhos quando descobre que matou o próprio pai e se casou com a própria mãe.

Apesar do forte componente simbólico, Pássaros também funciona muito bem apenas como um filme de terror/suspense. Como de costume, o “mestre do suspense” capricha na tensão e no mistério e deixa o expectador tenso do começo ao fim. Outro mérito do filme são os efeitos especiais dos pássaros, que impressionam quando se levado em consideração a época em que o filme foram feitos. Mesmo hoje em dia, em tempos de computação gráfica os pássaros selvagens impressionam e amedrontam o expectador, as formas como as cenas dos ataques das aves foram filmadas se destacam, tanto pela beleza artística, quanto pelo terror que imprimem.

Em suma, Pássaros é um dos melhores filmes de um dos melhores diretores da história do cinema. O longa agrada tanto quem procura apenas por um bom suspense, quanto quem procura por algo mais profundo, mais simbólico e reflexivo. A estranheza de um filme em que o tema central é o ataque de pássaros a seres humanos, amedronta e ao mesmo entretém. Pássaros é uma boa pedida para os amantes de filmes clássicos, de suspense, de terror, de Hitchcock e de um bom filme cult!



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