Pássaros é um filme que transcende o gênero de terror, é
muito mais do que isso. É ao mesmo tempo um excelente suspense, e uma metáfora
muito perspicaz e inteligente do grande cineasta britânico.
O filme conta a história de Malaine Daniels, Tippi Hendren,
uma “patricinha”,que após conhecer o advogado Mitch Brenner, Rod Taylor, em um
pet shop, fica intrigada com o rapaz e decidi ir atrás do mesmo na pequena
cidade de Bodega Bay. No entanto, quando chega na cidade a jovem é surpreendida
por uma série de ataques de pássaros sem motivo aparente.
Pássaros é sem dúvida o longa metragem mais metafórico de
Hitchcock. Os pássaros que são animais aparentemente inofensivos se tornam o
pior pesadelo dos protagonistas quando passam a atacar os humanos por nenhuma
razão clara. De modo geral, as aves podem ser entendidas como a representação
dos medos e dos conflitos internos dos personagens, que normalmente não se
manifestam, mas quando o fazem aterrorizam as pessoas.
No começo do filme os protagonistas Mellanie e Mitch se
conhecem em um Pet Shop, quando o rapaz aborda a garota com a desculpa de que
está procurando um par de periquitos, em inglês “love birds”, ou seja, o
diretor mostra simbolicamente que vai existir um envolvimento amoroso entre os
dois. Os periquitos, assim como a maioria das aves domesticas apresenta um
comportamento dócil, mas quando Mellanie acidentalmente acaba soltando um dos
peritos, “love bird”, o pássaro tenta fugir e mostra seu comportamento
selvagem, uma clara alusão a dificuldade da protagonista em lidar com os seus
sentimentos, em especial com o amor.
A partir de então são mostradas diversas alegorias de como
os pássaros representam os medos dos personagens. Desde a dificuldade de
Mellanie de mostrar o seu amor, até a complexa relação de Mitch com sua mãe. O
protagonista que já tem uma carreira de sucesso como advogado em São Francisco,
sempre termina os seus relacionamentos amorosos em virtude dos ciúmes que a sua
mãe sente, passando inclusive a morar com ela e com a irmã na pequena cidade de
Bodega Bay, mesmo tendo um bom apartamento na cidade grande. Fica clara a
referência a teoria do complexo de Édipo de Sigmund Freud. Hitchcock chega
inclusive a colocar um diálogo entre Mellanie e a ex namorada de Mitch em que é
citado o complexo de Édipo para explicar a relação do protagonista com a mãe.
Outra referência é feita quando a mãe entra na casa de um morador da cidade que
foi atacado pelos pássaros e encontra o homem morto e com os olhos furados e
sangrando, alusão a morte de Édipo que fura os olhos quando descobre que matou
o próprio pai e se casou com a própria mãe.
Apesar do forte componente simbólico, Pássaros também funciona
muito bem apenas como um filme de terror/suspense. Como de costume, o “mestre
do suspense” capricha na tensão e no mistério e deixa o expectador tenso do
começo ao fim. Outro mérito do filme são os efeitos especiais dos pássaros, que
impressionam quando se levado em consideração a época em que o filme foram
feitos. Mesmo hoje em dia, em tempos de computação gráfica os pássaros
selvagens impressionam e amedrontam o expectador, as formas como as cenas dos
ataques das aves foram filmadas se destacam, tanto pela beleza artística,
quanto pelo terror que imprimem.
Em suma, Pássaros é um dos melhores filmes de um dos
melhores diretores da história do cinema. O longa agrada tanto quem procura
apenas por um bom suspense, quanto quem procura por algo mais profundo, mais simbólico
e reflexivo. A estranheza de um filme em que o tema central é o ataque de
pássaros a seres humanos, amedronta e ao mesmo entretém. Pássaros é uma boa
pedida para os amantes de filmes clássicos, de suspense, de terror, de
Hitchcock e de um bom filme cult!
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