Dirigido por Pablo Trapero, O Clã é mais um
representante da excelente escola de filme policiais argentinos, assim como o
Segredo dos seus Olhos, Tese sobre um Homicídio, entre muitos outros. Apesar de
se encaixar no gênero policial, pela natureza da trama que envolve crimes e
tensão, o Clã está muito mais para um drama, com grandes momentos de angustia e
tristeza, mas sem deixar de lado a ação de um bom filme policial.
O filme narra a história real dos Puccio, uma
família de classe média de Buenos Aires que sequestrava pessoas. Todas as ações
criminosas eram orquestradas por Arquimedes, o pai da família, um antigo membro
da ditadura militar que torturava e sequestrava pessoas. Com o fim da ditadura
e com a crise econômica que assolava a Argentina na época, Arquimedes decide
usar os seus “dotes criminosos” para manter o padrão de vida confortável da
família.
Apesar do pai ser o maestro dos crimes, toda a
família participava direta ou indiretamente dos sequestros. Os homens da
família, Arquimedes e seus filhos Alejandro e Maguilla, participavam de maneira
direta sequestrando as pessoas, enquanto que as mulheres da família, a mãe e as
filhas, participavam de maneira indireta, sendo coniventes e até ajudando em
algumas tarefas menores. Pelo fato de toda família participar dos crimes os
Puccio ficaram conhecidos como “O Clã”.
Se o fato de ser uma história real já não
bastasse para chocar o público, o filme em si também ajuda muito para tornar
essa história ainda mais perturbadora e chocante. Através da grande direção de
Trapero, das impactantes atuações dos protagonistas e da bela fotografia e
trilha sonora, o filme traz um tom melancólico e desconfortável muito
interessante, que enriquece ainda mais a história original que já é bem forte.
A começar pela direção de Pablo Trapero, esta
mantém o expectador tenso a todo o momento, com belos e sufocantes
enquadramentos. Some ainda uma fotografia muito bem executada em tons pasteis
que passa a ideia de algo velho que está se deteriorando. E por fim a trilha
sonora que é a cereja do bolo, com
músicas muito bem encaixadas que ajudam a contar a história do filme e a passar o sentimento que o
diretor quer. Destaque para Sunny Afternoon da banda The Kinks que descreve
perfeitamente a melancolia e o sentimento de impotência do filho Alejandro.
Interpretado por Peter Lanzini, Alejandro, ou
Alex como é chamado pela família e pelos amigos, é um popular jovem jogador de rúgbi
da seleção argentina, que se aproveita do seu círculo de amizade com membros da
alta sociedade argentina para ajudar o pai nos sequestros, tendo sequestrado
diversos colegas de time pertencentes a famílias ricas. Apesar de participar
ativamente dos crimes, Alex não se sente nem um pouco à vontade com a situação,
mas com medo de decepcionar a família continua os ajudando nos sequestros. O
ator Peter Lanzini consegue passar muito bem toda a angústia e os sentimentos
reprimidos do personagem que dão o tom melancólico do filme.
Apesar da grande atuação de Lanzini, o destaque
fica mesmo por conta de Guillermo Francella no papel do patriarca da família,
Arquimedes Puccio. O personagem é um homem extremamente frio e
calculista. A expressão impassível do ator é aterrorizante, de dar medo tamanho
o impacto que causa.
Concluindo, O Clã é um filme forte, perturbador
pelos fatos que descreve e também pela maneira que os mostra. Com grandes
atuações, direção, fotografia e trilha sonora, o longa já pode postular um lugar
entre os melhores argentinos dos últimos anos.
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