Primeira série brasileira da Netflix, 3% se passa em um
futuro distópico onde a população é dividida entre o povo que mora no
continente (na pobreza absoluta) e a elite que mora no Maralto (na riqueza, com
abundância de recursos). Quando completam 20 anos todos os moradores do
continente têm direito a prestar uma prova de admissão para morar no Maralto,
exame conhecido como “O Processo”. Neste processo seletivo os participantes são
avaliados nos mais diversos quesitos, como inteligência, força física e
liderança. No entanto, a prova só admite 3 % do total dos participantes, e quem não passa na prova não pode voltar a participar nunca mais, ficando condenado a
pobreza.

A principal crítica de 3% é uma clara alusão ao processo do
vestibular, e o seu sistema “meritocrático”.
A série questiona até que ponto essa meritocracia é de fato verdadeira,
se realmente é levado em conta apenas o mérito puro e simples nesses tipos de
processos seletivos. No seriado, os avaliadores do Processo permitem que alguns
candidatos trapaceiem e que usem de jogo sujo em algumas provas, mostrando que
não é apenas o mérito que está em jogo nessa avaliação. Assim como o vestibular
que se vende como um processo meritocrático, mas que não considera as
diferenças entre estudantes de escola pública e particular.

Os grandes pontos negativos da série com certeza são o
elenco de apoio e os diálogos. Ao contrário do elenco principal que conta com
atores muito bons como Bianca Comparato (A Menina sem Qualidades) e João Miguel
(Estômago), o elenco de apoio é composto por atores que beiram o amadorismo, em
parte pela falta de expressão e em parte principalmente pela baixa qualidade
dos diálogos. Os diálogos são muitas vezes excessivamente explicativos, ao
invés de mostrar com ações o que os personagens estão sentindo, os roteiristas
tentam explica-las através dos diálogos. Por exemplo: O personagem diz em voz
alta que está muito triste com determinada situação, ao invés de apenas ser
mostrada a sua expressão de tristeza. Nesse ponto, alguns dos diálogos da série
lembram muito os diálogos de novelas, altamente explicativos para garantir que
o telespectador entenda o que está acontecendo.

Por fim, apesar de algumas falhas, 3% é um vento novo muito
bem-vinda a produção do audiovisual brasileiro. Num país conhecido pela
qualidade dos seus filmes mais cults, mas que ainda peca no cinema mais
comercial, a série representa algo novo e de qualidade (caso contrário a
Netflix não teria acreditado no projeto). Primeiro porque 3% é uma série
nacional, tipo de produção bem escassa no Brasil, realidade que finalmente está
mudando devido a lei de incentivo as produções de audiovisual brasileiro que
renderam outras belas produções como Magnífica 70 e O Negócio. Segundo porque
trata de um gênero pouquíssimo abordado nas produções tupiniquins, Ficção Científica
e Distopia.

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