domingo, 19 de fevereiro de 2017

MELHOR DIRETOR E FILME


Principais categorias do Oscar, quem leva alguma dessas estatuetas leva para casa um selo de qualidade máxima. Apesar da academia ter cometido uma série de injustiças nessas categorias ao longo da história, é fato que ter na capa de um DVD a informação que aquele filme ganhou o Oscar de melhor longa metragem ou direção, é meio caminho andado para o expectador decidir ver esse filme ao invés de outro que não  tenha ganhado algum desses prêmios.



MELHOR DIRETOR
Indicados:
Berry Jenkins (Moonlight)
Damien Chazelle (La La Land)
Denis Vileneuve (A Chegada)
Kenneth Lonergan (Manchester a beira mar)
Mel Gibson (Até o Último Homem)



QUEM MERECE GANHAR?
Empate técnico. Tanto Damian Chazelle, quanto Barry Jenkins merecem a estatueta de melhor diretor. Apesar das abordagens completamente opostas, ambos fizeram trabalhos incríveis em seus filmes. Chazelle soube muito bem unir a energia de um bom musical dos anos 50, uma estética exuberante e uma história emocionante. Enquanto que Jenkins realizou com maestria um filme poético, sensível e muito bonito sobre a busca pela identidade. Qualquer um dos dois que receber a premiação, o Oscar estará certamente em boas mãos.




QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

O empate técnico será decidido pelo filme que a academia gostou mais, e esse é certamente La La Land. Soma-se ainda o fato do diretor ter vencido todas as principais premiações que antecedem o Oscar. Portanto, é quase certo de Chazelle deverá levar a estatueta de melhor diretor.



QUEM CORRE POR FORA?



Se Chazelle não ganhar o Oscar, o que é muito difícil, quem deverá ganhar é justamente Barry Jenkins. Dificilmente outro diretor poderá entrar na briga com os dois pela estatueta.




MELHOR FILME
Indicados:
A Chegada
Um Limite Entre Nós
Até o último Homem
A Qualquer Custo
Estrelas Além do Tempo
La La Land
Manchester a beira mar
Moonlight


QUEM MERECE GANHAR?

Apesar de La La Land ser um excelente filme, o melhor longa entre os indicados é Moonlight. O filme é cinema na sua forma mais pura, abusa da linguagem cinematográfica, com belas e inteligentes metáforas visuais, além da deslumbrante fotografia. É um filme difícil de se ver, belo, lírico, sensível e de uma beleza incomparável.




QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

A maior barbada do Oscar 2017 é que La La Land vai ganhar como melhor filme. Os indícios são muitos. Primeiro porque é um filme que homenageia a indústria cinematográfica, algo que a academia adora. Segundo porque é o recordista de indicações da premiação, 14 nomeações. Indicando que os votantes do Oscar adoraram o longa, para não dizer que já não é um dos filmes favoritos deles (O próprio Tom Hanks disse que La La Land é o melhor filme que ele já viu na vida. Exagero? Com certeza sim, mas reflete bastante o gosto dos jurados da academia). E por último porque o filme levou todos os prêmios que servem de termômetro para o Oscar.



QUEM CORRE POR FORA?


Além do já citado Moonlight, outro filme que pode surpreender e roubar a estatueta de La La Land é Manchester a beira mar. O drama tem alguns elementos que a academia gosta, como uma história triste apoiada por grandes atuações, além de ser um belo filme. Portanto, caso os jurados resolvam surpreender, Moonlight ou Manchester a beira mar podem levar o Oscar de melhor filme



MELHOR ATOR E ATRIZ




Duas das principais categorias do Oscar, quem vence a estatueta como Melhor Ator ou Melhor Atriz fica eternizado na história do cinema. Grandes interpretes e outros não tão grandes assim já ganharam a estatueta dourada, mas o fato é que ela muda para sempre a carreira de quem a ganha. Para um jovem ou desconhecido ator, ela abre portas. Para um ator de renome ela é a assinatura, o carimbo de uma grande carreira, que o diga Leonardo DiCaprio. O fato é que ninguém é indiferente ao maior prêmio de atuação do cinema mundial.


MELHOR ATOR
Indicados:
Andrew Garfield (Até o Último Homem)
Casey Affleck (Manchester a beira mar)
Denzel Wasington (Um Limite Entre Nós)
Ryan Gosling (La La Land)
Viggo Mortensen (Capitão Fantástico)



QUEM MERECE GANHAR?

Apesar da categoria contar com concorrentes de alto nível, é indiscutível de Casey Affleck teve a melhor atuação entre os indicados. O protagonista de Manchester a beira mar, impressiona pela sua interpretação fria, contida e ao mesmo tempo cheia de tristeza e melancolia.



QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

Apesar dos recentes rumores de que Affleck estaria envolvido em um escândalo de abuso sexual, o prêmio de melhor ator deve ficar com o ator. É fato que a academia também leva em consideração questões políticas nas suas premiações, haja visto o aumento do número de negros indicados após o Oscar so White do ano passado. No entanto, apesar da parte politicamente correta poder atrapalhar, se for seguida a tendência dos principais prêmios que antecedem o Oscar não haverá dúvidas de que Casey Affleck levará a estatueta para casa.


QUEM CORRE POR FORA?

Se tem alguém que pode tirar o Oscar de Casey Affleck, essa pessoa é Denzel Washington. O ator de Um Limite Entre Nós venceu a premiação do sindicato de atores, o SAG, é aparece como um forte postulante a estatueta. Apesar da grande atuação de Affleck, se Denzel Washington vencer não será nenhuma injustiça, pois o ator teve uma bela e comovente interpretação na pele de um ex jogador de baseball que se tornou um catador de lixo.



MELHOR ATRIZ
Indicadas:
Emma Stone (La La Land)
Isabelle Huppert (Elle)
Maryl Streep (Florence: Quem é Essa Mulher?)
Natalie Portaman (Jackie)
Ruth Negga (Loving)


QUEM MERECE GANHAR?

A melhor atuação, a mais visceral, impactante e forte interpretação é sem dúvidas a da francesa Isabelle Hupert em Elle. A atriz é praticamente dona do filme (que deveria estar concorrendo como melhor filme estrangeiro), ela tem uma atuação cheia de camadas, fazendo da sua personagem uma das mais interessantes dos últimos tempos. É uma interpretação muito poderosa, que causa reflexão no expectador a respeito de temas polêmicos como feminismo, estupro, desejo feminino e fetiches sexuais.



QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

Apesar de Huppert ter vencido o Globo de Ouro na categoria, dificilmente a academia vai premiar uma estrangeira. Ainda mais quando se tem Emma Stone no páreo. A atriz levou todos os principais prêmios pré Oscar,  e é praticamente barbada que vá ganhar a estatueta. Apesar de ser uma boa performance, e a indicação ser mais do que justa, a atriz está atrás das atuações de Natalie Portman e principalmente de Isabelle Huppert.



QUEM CORRE POR FORA?


Além da já citada Huppert, Natalie Portman é outra que pode surpreender e levar a estatueta. A atriz surgiu como franca favorita antes da temporada de premiações começar, no entanto, o seu favoritismo acabou não resultando em prêmios. Apesar disso, Portman fez um grande trabalho dando vida a ex primeira dama americana Jaqueline Kennedy, e não seria nenhuma injustiça se ela levasse para casa a estatueta.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL E ADAPTADO


A alma de todo grande filme reside no seu roteiro. De nada adianta uma grande direção, se o texto não for bom. A história vai permear todo o restante dos elementos fílmicos: atuação, direção, fotografia e etc. Portanto, um bom roteiro é a pedra fundamental de qualquer filme que se preze.


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Indicados:

20th Century Women
A Qualquer Custo
La La Land
Manchester a beira mar
O Lagosta



QUEM MERECE GANHAR?


Disparado o roteiro mais original e bem escrito da lista de indicados é o de O Lagosta. O filme apresenta uma história bem diferente, onde as pessoas são obrigadas a encontrar um companheiro(a) amoroso(a),  e caso fiquem solteiros serão transformados em um animal da sua escolha. Além da premissa diferente e interessante, o roteiro é altamente metafórico, com inteligentes críticas sociais e diálogos muito bem escritos.



QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?


Apesar de ter um bom roteiro, La La Land não impressiona pelo texto. O filme impressiona em uma série de outros fatores, como direção, fotografia, trilha sonora e coreografia, mas não pelo roteiro, definitivamente não. Mesmo assim, o filme de Damian Chazelle também deve levar mais essa estatueta. Levando em consideração que La La Land ganhou como melhor roteiro nas principais premiações que antecedem o Oscar, o prêmio de roteiro original deverá se repetir na premiação da academia.



QUEM CORRE POR FORA?


Além do já citado O Lagosta, outro que corre por fora na corrida pela estatueta é Manchester a beira mar. O filme ganhou o BAFTA na categoria e pode surpreender o favorito La La Land






MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Indicados:

A chegada
Um Limite Entre Nós
Estrelas Além do Tempo
Lion
Moonlight



QUEM MERECE GANHAR?

Essa é outra categoria do Oscar bem disputada e equilibrada. Há pelo menos 3 filmes com chances reais de levar a estatueta. No entanto, quem está um degrau acima dos demais é Moonlight. Baseado em um livro, o roteiro do filme apesar de não ser mirabolante, é muito bem escrito e redondo. É um roteiro que desenvolve o seu protagonista com maestria, por isso merece o Oscar.



QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

Como dito anteriormente a disputa está entre 3 filmes, com ligeiro favoritismo para Moonlight. No entanto, A Chegada e Um Limite Entre Nós também tem grandes chances de levar a estatueta


QUEM CORRE POR FORA?

Enquanto que A Chegada apresenta um roteiro mais sofisticado e com um bom plot twist, Um Limite Entre Nós se destaca pelos diálogos muito bem escritos. Se um desses ganhar como roteiro adaptado, não será nenhuma injustiça.





MELHOR ATOR E ATRIZ COADJUVANTE




Apesar de obviamente não ser a mesma coisa que ganhar um Oscar de ator ou atriz principal, a premiação ou até mesmo a indicação como coadjuvante não deixa de ser um marco na carreira de qualquer interprete.

Confira abaixo os nossos palpites e opiniões sobre essas premiações:

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Indicados:
Dev Patel (Lion)
Jeff Bridges (A Qualquer Custo)
Lucas Hedges (Manchester a beira mar)
Marhershala Ali (Moonlight)
Michael Shannon (Animais Noturnos)



QUEM MERECE GANHAR?

Dentre as atuações coadjuvantes indicadas, a mais impactante e sensível é sem dúvidas a de Marheshala Ali. Apesar do pouco tempo em cena, o ator só aparece no primeiro ato do filme, Ali impressiona pela complexidade e pelas nuances que dá ao personagem. Desconstruindo o estereótipo do malandro , com uma atuação cheia de camadas.


QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

O Oscar deve fazer justiça e dar a estatueta para Marhershala Ali. Além da grande atuação, Ali venceu a maioria dos principais prêmios que antecedem a premiação da academia, o que historicamente se mostra um termômetro bem confiável para prever o vencedor do Oscar.


QUEM CORRE POR FORA?

Apesar de ter vencido a maioria das premiações pré-Oscar, Ali não ganhou o BAFTA, um dos prêmios mais importantes do cinema mundial. A premiação britânica deu a troféu pra Dev Patel de Lion. Por isso, há uma chance remota de Patel levar Oscar. Além dele, Jeff Bridges de A Qualquer Custo também pode aprontar e surpreender levando o Oscar. O ator tem uma interpretação bem marcante, fazendo um xerife carismático cheio de maneirismos. Interpretação e personagem bem parecidos com Michael Shanon em Animais Noturnos, no entanto, devido a academia ter esnobado o filme de Tom Ford, Shannon tem pouquíssimas chances.





MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Indicadas:
Michelle Willians (Manchester a beira mar)
Naomi Harris (Moonlight)
Nicole Kidman (Lion)
Ocatavia Spencer (Estrelas Além do Tempo)
Viola Davis (Um Limite Entre Nós)



QUEM MERECE GANHAR?

Essa é sem dúvida umas das categorias mais equilibradas do Oscar 2017. Não há uma atuação muito acima das demais. No entanto, Naomi Harris de Moonlight está um degrau acima das outras indicadas. Com uma atuação forte e impactante, a atriz passa com maestria toda a angustia e desespero da personagem. Há cenas memoráveis dela com o filho e com o personagem de Marhershala Ali.


QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

Levando em conta as principais premiações que antecedem o Oscar, não há muitas dúvidas de que Viola Davis deverá levar a estatueta. Não será nenhuma injustiça se a atriz ganhar, visto que a mesma tem uma atuação impressionante em Um Limite Entre Nós, no entanto, para o Grillo Review Naomi Harris conseguiu ser ainda melhor.



QUEM CORRE POR FORA?

Além da já citada Naomi Harris, Michelle Willians também corre por fora na briga pelo Oscar de atriz coadjuvante. Se Michelle Willians vier a ganhar a estatueta não será nenhum absurdo. Apesar do pouco tempo em cena, a atriz emociona nas cenas junto com Casey Affleck em Manchester a beira mar


Melhor Fotografia e Efeitos Visuais



Apesar de não se equipararem em importância com o big five do Oscar (Melhor Filme, Direção, Roteiro, Ator e Atriz), a Fotografia e os Efeitos Visuais são categorias muito importantes e conceituadas da premiação. Afinal, são elas que juntamente com a Direção, Direção de Arte, Figurino e Maquiagem, ditam toda a parte estética de um filme. Visto que a força motriz do cinema são justamente as imagens, essas categorias têm vital importância na qualidade de um longa-metragem.

Confira abaixo quais os nossos palpites e opiniões sobre a premiações desse ano:

FOTOGRAFIA

Indicados:

A Chegada
La La Land
Lion
Moonlight
Silêncio


QUEM MERECE GANHAR?

Além de ter uma fotografia belíssima, Moonlight a usa inteligentemente como recurso narrativo. A fotografia ajuda a contar a história do filme, alterando as suas cores conforme o protagonista vai sendo desenvolvido. Passando de tonalidades azul escuras no começo do filme, para uma iluminação mais clara no segundo ato, e fechando com tons de preto em contraste com amarelo. O próprio título do filme faz referência a iluminação e cores, Moonlight (luz do luar). Quem já assistiu ao longa sabe que o título diz muito sobre a essência da história.


QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

Embarcando na onda de indicações e premiações que o filme recebeu, La La Land deverá vencer a estatueta de melhor fotografia. Não que o longa só vai ganhar pelo hype, muito pelo contrário, a fotografia de La La Land é espetacular, no entanto, não é tão impactante e importante para a história como a de Moonlight. As cores vibrantes e o céu roxo do pôr do sol devem conquistar os jurados do Oscar.


QUEM CORRE POR FORA?

Além de Moonlight, outra fotografia que se destaca entre as indicadas é a de A Chegada. A iluminação e o uso das cores no filme de Dennis Vileneuve, contribuem bastante com a ambientação do expectador na história. Por tanto, caso ocorra uma surpresa e La La Land não ganhe a estatueta nessa categoria, A Chegada e principalmente Moonlight podem levar.




EFEITOS VISUAIS

Indicados:
Deepwater Horizon
Doutor Estranho
Kubo e as Cordas Mágicas
Rogue One
Mogli: O Menino Lobo


QUEM MERECE GANHAR?


Devido a ser o mais original uso dos efeitos visuais dentre os indicados ao Oscar, Mogli: O Menino Lobo merece ganhar a estatueta. Dizem que bons efeitos visuais são aqueles que não se fazem notar de tão reais que são, e esse é justamente o caso de Mogli. Os animais do filme (todos criados em CGI), são extremamente críveis, é preciso um olhar mais atento para identificar que eles não são de verdade.



QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR?

A academia deve fazer justiça nessa categoria, dando o prêmio para Mogli. Além da qualidade e originalidade citados acima, um filme com efeitos semelhantes ganhou o Oscar recentemente, As aventuras de Pi levou a estatueta em 2013. Assim como em Mogli, o vencedor de 2013 usou a computação gráfica para criar animais com um nível de realidade absurdo. Portanto, pelo histórico da academia, Mogli deverá vencer a estatueta em 2017.



QUEM CORRE POR FORA?

Se tem algum filme que pode tirar o Oscar de Mogli, esse filme com certeza é Doutor Estranho. O longa da Marvel impressionou pelos efeitos visuais, principalmente as cenas das cidades retorcidas, lembrando muito os efeitos visuais de A Origem, que inclusive ganhou o Oscar. Apesar de não serem tão impressionantes quantos os de Mogli, os efeitos de Doutor Estranho são muito bons é podem beliscar a estatueta.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Moonlight



Se tem um filme que pode bater de frente com La La Land no Oscar, esse filme definitivamente é Moonlight. O longa se notabiliza tanto pela sua impecável qualidade técnica, quanto pela sensibilidade rara que trata assuntos difíceis como identidade e sexualidade.

O filme conta a história de Chiron, um garoto negro e pobre da periferia de Miami, que tem de lidar desde muito jovem com uma série de questões complexas, como a mãe dependente química e a sua sexualidade. Moonlight é dividido em três atos: O primeiro em que é mostrado um Chiron ainda criança tentando entender quem ele realmente é. O segundo em que o protagonista começa a definir a sua identidade. E o terceiro e último ato, em que um Chiron já adulto revisita o seu passado para confirmar ou não a sua identidade.

Como se percebe no parágrafo anterior, o principal tema de Moonlight é a busca pela 
identidade, e todos os obstáculos e dificuldades que essa procura traz. O filme se notabiliza por tratar essa questão de uma maneira bastante poética e introspectiva, o sentimento dos personagens é transmitido através de gestos, de olhares, movimentos corporais e até pela belíssima paleta de cores. O filme não faz questão nenhuma de deixar as coisas claras, tudo fica subentendido, nas entrelinhas. Por conta disso, o ritmo do filme é mais lento, existem mais silêncios do que diálogos, no entanto são “silêncios inteligentes”, Moonlight não é de forma algum arrastado. Essa característica mais introspectiva e artística do filme pode acabar afastando um público mais acostumado com produções comerciais hollywoodianas, podendo estes sentirem dificuldades de acompanhar uma obra como essa. Diferente de La La Land, Moonlight não tem um público tão amplo, é um filme mais restrito a quem aprecie o cinema como arte.

Apesar de não apresentar uma história mirabolante, o roteiro do filme é absolutamente redondo e muito bem construído e desenvolvido. A indicação ao Oscar é mais do que merecida. A separação da narrativa em 3 atos serve muito bem para marcar os pontos de virada do protagonista e desenvolver o personagem. Além disso, cada fala ou acontecimento tem uma importância vital para a história, nada no filme é para “encher linguiça”.

Quanto a direção, esta é muito competente em criar imagens e cenas belíssimas que contribuem diretamente para o desenvolvimento da narrativa. O diretor Barry Jenkins conseguiu criar em Moonlight cenas memoráveis que certamente ficarão por muito tempo na cabeça do expectador que as assistir.  Destaca-se ainda, a fotografia exuberante e sensível que vai mudando a sua paleta de cores de acordo com o desenvolvimento do protagonista (começando com tons de azul no começo do filme e chegando ao final do longa com cores mais enegrecidas). Indicações ao Oscar em Direção e Fotografia absolutamente merecidas.

Para finalizar com chave de ouro a ambientação do filme, Moonlight conta com uma trilha sonora tocante e absolutamente linda. A base de música clássica, a trilha do filme é aguda e ao mesmo tempo bela, transmitindo muito bem toda a angustia e o sofrimento contido do protagonista.

Quanto as atuações, Todo o elenco está impecável, desde os coadjuvantes até os protagonistas. Em relação ao elenco de apoio temos três grandes destaques: Naomi Harris como Paula, a mãe de Chiron, Marhershala Ali (House of Cards) como Juan, a figura paterna do protagonista e André Holland (The Knick) como Kevin, o interesse amoroso do personagem principal. 

Naomi dá um verdadeiro show de interpretação ao passar com veracidade toda a vulnerabilidade emocional causada pelo seu vício em drogas, ao mesmo tempo em que transmite muito bem a sua frustração por não conseguir criar o seu filho como uma boa mãe. Indicação ao Oscar de Melhor Atriz mais do que justa. Quanto a Marhershala Ali, apesar de aparecer apenas na primeira parte do filme, o mesmo impressiona pela sua interpretação cheia de camadas, o ator junto ao diretor e o roteirista conseguem com maestria descontruir o estereótipo do “malandro do gueto”, dando uma humanidade extremamente realista ao personagem. Ele é outro que teve uma justa indicação a estatueta da academia. Por fim, André Holland, que já impressiona a 2 anos os fãs da ótima série médica The Knick, assim como Ali, também aparece em apenas um dos atos do filme, no caso o último. Mas mesmo assim se faz notar pela sua atuação cheia de nuances no olhar e nos gestos, que evocam muito bem todo o sentimento do personagem. Não seria um exagero o ator também ser indicado na categoria de Melhor Coadjuvante.

Quanto aos 3 atores que interpretam Chiron, todos têm atuações muito consistentes e que dão a ideia de evolução do personagem. O protagonista adulto carrega muito do adolescente e esse por sua vez muito do personagem criança. Tudo isso sem parecerem meras cópias um do outro, existem elementos em comum nas atuações dos 3 atores, porém percebe-se que o personagem se desenvolveu e sofreu mudanças, mas sem nunca perder a sua essência.

Concluindo, Moonlight é um filme lírico, sensível, introspectivo e acima de tudo belo, tanto pelas suas imagens memoráveis quanto pela forma com que lida com temas polêmicos. Os apreciadores de um bom cinema de arte certamente irão amar o longa, assim como os que se interessam pela temática LGBT e também os que apreciam filmes que tem um forte componente intelectual e social. Sem dúvida nenhuma Moonlight entra no Oscar com todas as condições para ser um dos grandes vencedores da noite, competindo junto com La La Land pelos principais prêmios da cerimônia.



NOTA: 9,76



Manchester a beira mar




Dirigido por Kenneth Lonergan e estrelado por Casey Affleck (irmão de Bem Affleck), Manchester a beira mar desponta como um dos grandes filmes do Oscar 2017, tendo recebido 6 indicações ao prêmio da Academia nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, e Melhor Ator e Atriz Coadjuvante.

O longa conta a história de Lee Chandler um homem amargurado, que vive longe da sua família e cidade natal após ter cometido um terrível erro no passado. Tudo muda quando o irmão de Lee, Joe Chandler (Kyle Chandler), morre e o protagonista se vê forçado a voltar para sua cidade para cuidar do funeral do irmão ao mesmo tempo em que terá que cuidar do seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges).

Apesar da história em si não ser espetacular, o grande mérito do roteiro está na construção do protagonista. O personagem é o motor da história, ele que dá vida e sustenta toda a narrativa. O roteiro vai revelando aos poucos a razão da tristeza de Lee, e o uso inteligente dos flashes back ajudam bastante a fazer essas revelações. O recurso narrativo aparece apenas em momentos oportunos, mostrando gradativamente cenas do passado que se relacionam com o presente do protagonista.

No entanto, o roteiro é bastante afetado pelas mudanças de tom da história. O filme que se propõe a ser um filme triste sobre arrependimento, amargura e perda, acaba se perdendo quando tenta inserir alívios cômicos. O problema no caso é que existem muitas “piadinhas” e cenas que pretendem ser engraçadas para aliviar a tensão da história. Mas que na verdade acabam “quebrando” a atmosfera melancólica do filme. Manchester a beira mar tem excessivos momentos de humor para um longa do gênero de drama, ocasionando um contraste de tom que não cai bem.

Quanto a direção, a mesma é discreta e não se faz notar, talvez para dar um ar ainda mais realista ao filme, o que acaba funcionando bem. Apesar de não possuir a assinatura do diretor, a direção é extremamente competente em contar a história, ela trabalha quase que exclusivamente para contar bem a história, e consegue fazer muito bem.
Se na direção Manchester a beira mar é discreto, o mesmo não pode se dizer da fotografia. Esta sim possui uma característica bem marcante, o uso de cores frias que ajudam muito bem  a transmitir a melancolia do protagonista. Podemos dizer que além de belíssima a fotografia do filme também conta a história.

Quanto as atuações, o elenco inteiro está muito bem. A começar pelo protagonista vivido por Casey Affleck, que apresenta uma performance muito impactante. O papel de Lee Chandler se encaixa perfeitamente para o ator. A falta de expressão de Affleck casa muito bem com a personalidade do protagonista, que é um homem melancólico e introspectivo, e por isso costuma segurar as emoções. Devido as dores do seu passado traumático, Lee se tornou uma pessoa totalmente destruída por dentro, e o ator consegue passar de forma muito convincente esses sentimentos. Merecida indicação ao Oscar!

Sobre o restante do elenco, o destaque fica com Michelle Willians no papel de Randi, a ex mulher de Lee. Apesar de ter pouco tempo de cena, atriz impressiona nos poucos momentos em que aparece. A atriz consegue transmitir muito bem toda a dor da personagem, principalmente nas cenas em que reencontra o ex marido. Indicação mais do que merecida!

Ainda sobre as atuações, Lucas Hedge no papel de Patrick, o sobrinho de Lee, tem uma atuação muito consistente e convincente, porém não ao ponto de merecer ser indicado ao Oscar. O ator não entrega nada fora do comum, apenas o suficiente para uma boa atuação, nada mais do que isso.

Resumindo, Manchester a beira mar é um filme triste e melancólico, com uma visão bem realista de temas como o perdão, arrependimento e a dor da perda. Apesar de ser atrapalhado em alguns momentos pelo excesso de humor, o longa é destinado a todos aqueles que gostam de um drama forte e extremamente humano. As impactantes atuações aliadas ao sensível trabalho de direção e fotografia transformam merecidamente o filme em um dos grandes favoritos ao Oscar, ainda que corra por fora.


NOTA: 8,9