Se tem um filme que pode bater de frente com La La Land no
Oscar, esse filme definitivamente é Moonlight. O longa se notabiliza tanto pela
sua impecável qualidade técnica, quanto pela sensibilidade rara que trata
assuntos difíceis como identidade e sexualidade.
O filme conta a história de Chiron, um garoto negro e pobre
da periferia de Miami, que tem de lidar desde muito jovem com uma série de
questões complexas, como a mãe dependente química e a sua sexualidade.
Moonlight é dividido em três atos: O primeiro em que é mostrado um Chiron ainda
criança tentando entender quem ele realmente é. O segundo em que o protagonista
começa a definir a sua identidade. E o terceiro e último ato, em que um Chiron
já adulto revisita o seu passado para confirmar ou não a sua identidade.
Como se percebe no parágrafo anterior, o principal tema de
Moonlight é a busca pela
identidade, e todos os obstáculos e dificuldades que
essa procura traz. O filme se notabiliza por tratar essa questão de uma maneira
bastante poética e introspectiva, o sentimento dos personagens é transmitido
através de gestos, de olhares, movimentos corporais e até pela belíssima paleta
de cores. O filme não faz questão nenhuma de deixar as coisas claras, tudo fica
subentendido, nas entrelinhas. Por conta disso, o ritmo do filme é mais lento,
existem mais silêncios do que diálogos, no entanto são “silêncios inteligentes”,
Moonlight não é de forma algum arrastado. Essa característica mais
introspectiva e artística do filme pode acabar afastando um público mais
acostumado com produções comerciais hollywoodianas, podendo estes sentirem
dificuldades de acompanhar uma obra como essa. Diferente de La La Land,
Moonlight não tem um público tão amplo, é um filme mais restrito a quem aprecie
o cinema como arte.
Apesar de não apresentar uma história mirabolante, o
roteiro do filme é absolutamente redondo e muito bem construído e desenvolvido.
A indicação ao Oscar é mais do que merecida. A separação da narrativa em 3 atos
serve muito bem para marcar os pontos de virada do protagonista e desenvolver o
personagem. Além disso, cada fala ou acontecimento tem uma importância vital para
a história, nada no filme é para “encher linguiça”.
Quanto a direção, esta é muito competente em criar imagens
e cenas belíssimas que contribuem diretamente para o desenvolvimento da
narrativa. O diretor Barry Jenkins conseguiu criar em Moonlight cenas memoráveis
que certamente ficarão por muito tempo na cabeça do expectador que as
assistir. Destaca-se ainda, a fotografia
exuberante e sensível que vai mudando a sua paleta de cores de acordo com o
desenvolvimento do protagonista (começando com tons de azul no começo do filme
e chegando ao final do longa com cores mais enegrecidas). Indicações ao Oscar
em Direção e Fotografia absolutamente merecidas.
Para finalizar com chave de ouro a ambientação do filme,
Moonlight conta com uma trilha sonora tocante e absolutamente linda. A base de
música clássica, a trilha do filme é aguda e ao mesmo tempo bela, transmitindo
muito bem toda a angustia e o sofrimento contido do protagonista.
Quanto as atuações, Todo o elenco está impecável, desde os
coadjuvantes até os protagonistas. Em relação ao elenco de apoio temos três
grandes destaques: Naomi Harris como Paula, a mãe de Chiron, Marhershala Ali
(House of Cards) como Juan, a figura paterna do protagonista e André Holland (The
Knick) como Kevin, o interesse amoroso do personagem principal.
Naomi dá um
verdadeiro show de interpretação ao passar com veracidade toda a
vulnerabilidade emocional causada pelo seu vício em drogas, ao mesmo tempo em
que transmite muito bem a sua frustração por não conseguir criar o seu filho
como uma boa mãe. Indicação ao Oscar de Melhor Atriz mais do que justa. Quanto
a Marhershala Ali, apesar de aparecer apenas na primeira parte do filme, o
mesmo impressiona pela sua interpretação cheia de camadas, o ator junto ao
diretor e o roteirista conseguem com maestria descontruir o estereótipo do “malandro
do gueto”, dando uma humanidade extremamente realista ao personagem. Ele é
outro que teve uma justa indicação a estatueta da academia. Por fim, André
Holland, que já impressiona a 2 anos os fãs da ótima série médica The Knick,
assim como Ali, também aparece em apenas um dos atos do filme, no caso o
último. Mas mesmo assim se faz notar pela sua atuação cheia de nuances no olhar
e nos gestos, que evocam muito bem todo o sentimento do personagem. Não seria
um exagero o ator também ser indicado na categoria de Melhor Coadjuvante.
Quanto aos 3 atores que interpretam Chiron, todos têm
atuações muito consistentes e que dão a ideia de evolução do personagem. O
protagonista adulto carrega muito do adolescente e esse por sua vez muito do
personagem criança. Tudo isso sem parecerem meras cópias um do outro, existem elementos
em comum nas atuações dos 3 atores, porém percebe-se que o personagem se
desenvolveu e sofreu mudanças, mas sem nunca perder a sua essência.
Concluindo, Moonlight é um filme lírico, sensível,
introspectivo e acima de tudo belo, tanto pelas suas imagens memoráveis quanto
pela forma com que lida com temas polêmicos. Os apreciadores de um bom cinema
de arte certamente irão amar o longa, assim como os que se interessam pela
temática LGBT e também os que apreciam filmes que tem um forte componente intelectual
e social. Sem dúvida nenhuma Moonlight entra no Oscar com todas as condições
para ser um dos grandes vencedores da noite, competindo junto com La La Land
pelos principais prêmios da cerimônia.
NOTA:
9,76
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