Há quem diga que o cinema nacional é ruim, não chega aos
pés de Hollywood e não se equipara nem mesmo as produções da nossa vizinha
Argentina. Quem diz isso não conhece o real cinema brasileiro. Conhece apenas a
ponta do iceberg, o cinema comercial de baixa qualidade verde e amarelo, filmes
estúpidos de comédia pastelão barata.
Porém, quem se aventura a ir mais a fundo nas entranhas de
cinemas que fogem ao circuito tradicional, certamente irá encontrar todos os
anos produções nacionais da mais alta estirpe. E até mesmo o cinema
comercial brasileiro tem exemplos de excelentes filmes como Tropa de Elite,
Cidade de Deus e mais recentemente Bingo: O Rei das Manhãs.
É claro que o cinema nacional não se equipara ao americano,
muito por conta do enorme volume de filmes Hollywoodianos, frente a baixa
produção brasileira. No entanto, existem muitos filmes nacionais que dão de 10
a zero em muita produção gringa, seja ela americana, europeia ou argentina. E é
isso esse que procuramos fazer nesse artigo; listar quais os melhores filmes
nacionais de todos os tempos.
Confira abaixo a lista que deixa muito filme gringo no chinelo:
5°
Central do Brasil (1998)
O filme do diretor Walter Salles conta a história de Dora
(Fernanda Montenegro), uma professora aposentada que ganha a vida escrevendo
cartas para analfabetos na estação de trem Central do Brasil, no Rio de
Janeiro. Apresentada como uma pessoa amarga e cínica, tudo começa a mudar na
vida da protagonista quando uma mulher que deseja enviar uma carta ao pai do
seu filho no Ceará acaba morrendo, e Dora se vê responsável pelo menino.
Decidindo partir em uma jornada até o nordeste do Brasil para realizar o sonho
do garoto de finalmente conhecer o pai.
A obra é um road movie dramático e cativante sobre a
relação entre uma mulher amargurada e dura e um menino sonhador e impetuoso. E
muito da qualidade do filme reside na química entre esses dois personagens.
Enquanto que o pequeno Vinicius Araújo surpreendeu a todos pela sua impactante
atuação mesmo com a pouco idade, Fernanda Montenegro realizou possivelmente a
melhor atuação feminina da história do cinema nacional. Além da qualidade das
atuações o filme também conta com grande direção, edição, fotografia e roteiro.
Tantas qualidades levaram Central do Brasil a concorrer a
estatueta do Oscar no ano seguinte, nas categorias de melhor filme estrangeiro
e melhor atriz, mas infelizmente acabou não levando o prêmio. Se na academia o
longa não levou, o mesmo não pode se dizer de outras importantes premiações
estrangeiras, como o Globo de Ouro e o BAFTA, ambas na categoria Melhor Filme
Estrangeiro. Além do conceituado Festival de Berlim, em que o filme abocanhou 2
ursos, o Urso de Ouro (Melhor Filme), o também o Urso de Prata (Melhor Atriz).
4°
Tropa de Elite 1 e 2 (2007 e 2010)
Dirigido por José Padilha e estrelado por Wagner Moura,
tanto o primeiro como o segundo Tropa de Elite são verdadeiros marcos para o
cinema nacional, seja pelas suas frases de efeitos, pela violência ou
simplesmente pela grande qualidade cinematográfica das produções.
Os dois filmes são ao mesmo tempo diferentes e
complementares, e juntos podem ser entendidos como uma só obra, por isso a
opção de dar o quarto lugar na lista para os dois. Enquanto que no primeiro
filme os antagonistas são os traficantes da favela, na sequência “o inimigo
agora é outro”, como diz o próprio subtítulo do longa. O antagonista dessa vez
é o tal do sistema (“o sistema é foda”, parafraseando o Capitão Nascimento), o
inimigo são os políticos, os policiais corruptos e milicianos, e acima de tudo
“o sistema” que os sustenta.
Apesar da polêmica envolvendo o primeiro longa, e as
acusações de ser fascista, podemos entender o a primeira parte da obra de
Padilha como uma crítica a segurança pública de um modo geral, desde a
violência praticada pelos criminosos até a executada pela própria polícia. Esse
ponto de vista fica ainda mais claro no segundo filme, em que todas as
possíveis ambiguidades presentes no primeiro são de fato esclarecidas.
Existem muitos grandes filmes nacionais se formos analisar
apenas as qualidades cinematográficas, muitos até melhores que Tropa de Elite 1
e 2. Mas o fato é que existem poucos filmes icônicos brasileiros, com frases e
cenas marcantes, e nesse quesito Tropa de Elite é insuperável. Como não lembrar
de cenas como os discursos sobre estratégia do Capitão Nascimento (Estratégia:
do grego......), e falas como as famosas “Pede pra sair!”, “Não vai subir
ninguém”, “Você é moleque!”, “Quem quer rir, tem que fazer rir” e “Ele se acha
o pica das galáxias”, só pra citar algumas.
Mas acima de tudo os dois Tropas de Elite são filme
impactantes e com muita qualidade técnica e de atuações. Tanto é que o primeiro
longa recebeu o Urso de Ouro do festival de Berlim na categoria de melhor
filme.
3°
Abril Despedaçado (2001)
Abril Despedaçado se passa no sertão nordestino em 1910 e
conta a história de duas famílias inimigas, que desde muito tempo atrás se veem
envolvidas em uma disputa por terras e vingança. O filme começa quando Inácio,
irmão mais velho de Tonho (Rodrigo Santoro) é assassinado por um membro da
família rival e segundo o código de honra da região o irmão mais novo do
assassinado deve vingar sua morte. Incumbido da morte do homem que matou seu
irmão, Tonho tem de seguir o seu destino e perpetuar o ciclo de vinganças entre
as famílias.
Dirigido por Walter Salles, o filme é um verdadeiro deleite
para os amantes da sétima arte, com uma direção magistral cheia de metáforas
visuais. Além de um grande trabalho de fotografia, que além de ser belíssima,
serve muito bem para contar a história através das cores, algo muito raro de se
ver tanto no cinema nacional como até no cinema americano e mundial.
Apesar de não ter ganhado muitos prêmios, foi indicado ao
Globo de Ouro e o BAFTA e ganhou o Festival de Havana. O filme é sem dúvida um
dos mais belos esteticamente e poéticos da história do cinema brasileiro. Além
de contar com atuações muito cruas e impactantes, como por exemplo a de Rodrigo
Santoro. Atuação essa que abriu as portas de entrada do ator para papéis em
produções internacionais.
Para quem quiser mais detalhes sobre o filme, existe uma
crítica aqui no blog.
2° O
Pagador de Promessas (1962)
Dirigido por Anselmo Duarte, O Pagador de Promessas narra a
história de peregrinação de Zé do Burro, um pacato e simplório homem do campo
que faz uma promessa para a Iansã para que a mesma cure o seu amado burrinho de
estimação Nicolau. Uma vez que o burro é salvo, Zé decide cumprir a sua
promessa de ir andando com uma cruz nas costas até uma igreja que fica a
quilômetros da sua casa. No entanto, ao chegar na igreja o padre não o deixa
entrar, pelo fato de Zé ter feito a promessa a uma entidade do Candomblé, que o
catolicismo julga como magia negra. A partir daí se inicia o principal conflito
do filme que dura até o final e toma proporções gigantescas com a chegada da
imprensa, do povo e da polícia.
Além de ser um filme extremamente belo, com enquadramentos
impressionantes visualmente e narrativamente, o filme de Anselmo Duarte é uma
inteligente crítica a vários setores da sociedade, como a Igreja, a Polícia, e
a Imprensa. É possivelmente o longa mais crítico e intelectual da história do cinema
nacional. Mas não é nem de longe um filme pedante e difícil de entender. Pelo
contrário, tem uma trama simples, porém com camadas muito interessantes se
analisadas mais a fundo.
Tanta qualidade levou O Pagador de Promessas a ser o
primeiro longa brasileiro indicado ao Oscar de melhor filme. E apesar de não
levar a estatueta, o filme foi premiado no tradicional festival de Cannes com a
Palma de Ouro de Melhor Filme, além de ter vencido os festivais de Cartagena na
Espanha e San Francisco nos EUA.
Para quem quiser
mais detalhes sobre o filme, existe uma crítica aqui no blog.
1° Cidade
de Deus (2002)
Se tem um filme brasileiro que consegue ser ao mesmo tempo
belo visualmente, profundo intelectualmente e com um alto valor de
entretenimento, esse filme é definitivamente Cidade de Deus.
O longa dirigido por Fernando Meireles e codirigido por
Katia Lund conta a história do surgimento das organizações criminosas na favela
da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro dos anos 60, até chegar aos anos 80, época
que a comunidade já era considerada um dos lugares mais perigosos do Brasil.
Assim como em Tropa de Elite, o filme de Meireles possui
uma série de cenas e falas icônicas. Como por exemplo a cena da perseguição da
galinha, ou a cena em que o personagem Buscapé é filmado em 360°. Além é claro
de frases marcantes como: “Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno!”, e
“Prefere levar um tiro na mão ou no pé?”.
O que o diferencia de Tropa de Elite nesse aspecto, é que
as frases e momentos icônicos não ficaram restritos ao público nacional. Cidade
de Deus influenciou obras também fora do Brasil, como a HQ Coringa de Brian
Azzarello, que conta com um enquadramento claramente alusivo ao filme
tupiniquim, além de ter influenciado também animes japoneses e filmes
americanos. Mais detalhes sobre as obras influenciadas por Cidade de Deus podem
ser encontradas nesse artigo da Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_de_Deus_(filme)#Legado_e_influ.C3.AAncia
Além da forte influência na cultura pop e nos filmes e
obras audiovisuais que o seguiram, o longa conta também com um forte componente
intelectual que aliado a uma qualidade cinematográfica tão grande de direção,
fotografia e direção e montagem, transformaram o filme é uma verdadeira obra
prima. Todos esses componentes trabalham perfeitamente para desenvolver a
narrativa de forma a entreter quem busca apenas um bom filme de ação. Mas ao
mesmo tempo também agrada o público mais cult, com uma infinidade de recursos
cinematográficos, como metáforas visuais e enquadramentos, movimentos de câmera
e montagem inteligentes e rebuscados, além de um texto muito bem escrito
adaptado da do livro de Paulo Lins.
Pode se dizer que Cidade de Deus é um daqueles raros filmes
que agradam a quase todo tipo de público. O equilíbrio entre o componente
artístico, intelectual e de entretenimento é impressionante. É por conta disso
que o longa recebeu tanto reconhecimento estrangeiro, sendo indicado a 4 Oscars
(único filme brasileiro a tingir tal feito), competindo em categorias que
filmes não americanos raramente concorrem, como: Melhor Direção, Roteiro
Adaptado, Edição e Fotografia.
Cidade de Deus também está presente em uma série de listas
estrangeiras de melhores filmes de todos os tempos. O longa figura no IMDB como
21° melhor filme da história. Além de estar presente em listas da revista
americana Time, e dos britânicos Empire e The Guardian.
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