quarta-feira, 18 de maio de 2016

O Franco Atirador




Lançado em 1978 e dirigido por Michael Cimino, O Franco atirador conta a história de um grupo de amigos americanos de ascendência russa que são convocados para lutarem no Vietnã. Mike (Robert De Niro), Nick (Christopher Walken) e Steven (John Savage) passam por um grande trauma na guerra que os afeta profundamente. Apesar de ser um filme sobre guerra, o foco do longa é nas consequências que o campo de batalha acarreta aos personagens. Não existem muitas cenas de ação com tiros e explosões, mas sobram cenas dramáticas.

O filme faz parte do movimento cinematográfico conhecido como “Nova Hollyoowd”, que tinha como principais características o realismo, a crítica social e a estética do cinema europeu. O Franco Atirador trata da guerra de uma forma não romântica, brutal e realista. A fotografia e a trilha sonora contribuem bastante para dar esse ar pesado e triste ao filme, enquanto que a primeira abusa de belas imagens com cores mais frias, a segunda entra com canções bonitas e melancólicas, conferindo todo um charme ao longa.

Quanto as atuações, o elenco conta com várias estrelas que não decepcionam. Robert De Niro está em um dos melhores papeis de sua carreira, sendo que ele consegue passar muito bem toda complexidade e loucura do personagem Mike.  John Savage e Christopher Walken não ficam atrás, ambos os atores têm interpretações muito consistentes e fortes. É possível notar muito bem que a guerra traumatizou ambos de uma forma extremamente profunda, especialmente Nick, que através da grande atuação de Walken dá um realismo impressionante ao personagem. Outra estrela que merece destaque é a jovem Meryl Streep, que apesar de não ter um papel grande e nem interpretar uma mulher forte como nos habituamos a ver ao longo de sua carreira, tem uma boa atuação como Linda, a namorada de Nick.

Além de claramente ser um filme com uma mensagem antibélica, O Franco Atirador também tem algumas mensagens não tão aparentes, percebidas através de metáforas e simbolismos. O evento principal do filme que é a cena da roleta russa, pode ser entendido como uma metáfora para a guerra em si. Pois assim como na roleta russa, na guerra há uma grande chance de os participantes morrerem, sendo que em ambos os casos a sobrevivência está ligada a sorte, a aleatoriedade. A guerra e a roleta russa também têm em comum o fato de serem de certa forma “jogos estúpidos”, que brincam com a vida humana, e que a tratam como algo descartável.  Pode-se dizer que os protagonistas já receberam um “tiro de roleta russa” logo no início do filme, ao serem convocados para guerra. Eles foram escolhidos entre vários jovens americanos para arriscar as suas vidas no Vietnã.

Outro fato interessante do filme, é que os protagonistas são americanos de origem russa, que ficam marcados por um evento que envolve roleta russa. Há uma relação entre a etnia deles e o jogo, mostrando que no fundo eles já tinham um pouco daquela loucura, em especial o personagem Mike, que se mostra desequilibrado e agressivo desde o início da trama. O que acontece é que a guerra, em específico o evento da roleta russa, ampliou e externalizou algo que já existia dentro de cada um deles.

Ainda sobre o fato da origem russa dos personagens, é curioso que jovens de origem russa se envolvam em uma guerra que foi decorrente do conflito entre os EUA e a URSS. Apesar da guerra ser contra os vietcongues, o que a motivou foi a contenção do regime comunista pelo mundo, do regime russo da época. Portanto, dada que esta foi uma guerra quase que indireta contra os russos, é possível interpretar a batalha dos protagonistas no Vietnã como uma guerra contra eles mesmos, uma luta que não há como vencer, só se ferir.

Concluindo, O Franco Atirador é sem dúvida um dos filmes mais impactantes e brutais da história do cinema, com atuações viscerais e uma trilha sonora e fotografia marcantes. Não atoa o filme recebeu vários prêmios, incluindo 5 Oscars nas categorias melhor filme, melhor diretor (Michael Cimino), melhor ator coadjuvante (Christopher Walken), melhor edição e melhor som. Além de 2 BAFTAS, melhor fotografia e edição e 1 Globo de Ouro para melhor diretor.




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