quinta-feira, 19 de maio de 2016

O Pagador de Promessas


Dirigido por Anselmo Duarte e lançado em 1962, O Pagador de Promessas narra a história de peregrinação de Zé do Burro, um pacato e simplório homem do campo que faz uma promessa para a Iansã (que ele julga ser o equivalente de Santa Clara no Candomblé) para que a mesma cure o seu amado burrinho de estimação Nicolau. Uma vez que o burro é salvo, Zé decide cumprir a sua promessa de ir andando com uma cruz nas costas até uma igreja que fica a quilômetros da sua casa. No entanto, ao chegar na igreja o padre não o deixa entrar, pelo fato de Zé ter feito a promessa a uma entidade do Candomblé, que o catolicismo julga como magia negra.

A história começa a se desenrolar a partir do momento em que o padre impede Zé do Burro de pagar a sua promessa, daí se inicia o principal conflito do filme que dura até o final e toma proporções gigantescas com a chegada da imprensa, do povo e da polícia. Apesar da premissa aparentemente simples, é a forma como o diretor Anselmo Duarte conta a história que torna o filme tão grande e importante.

A direção, alterna entre planos abertos e fechados, criando imagens belíssimas.  Enquanto os planos abertos mostram a inferioridade de Zé frente ao poder da igreja, os planos fechados no rosto do protagonista mostram o seu sofrimento. O diretor reforça em diversos momentos a inferioridade do protagonista frente as instituições de poder. Como na cena em que o Zé é filmado em um degrau mais baixo da escadaria enquanto o padre está degraus acima.

É importante salientar que o filme fez parte do movimento cinematográfico brasileiro conhecido como “Cinema Novo”. Que se caracterizou por conter uma temática de crítica social e pela simplicidade e realismo com que eram feitos os filmes. A frase “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” resume bem o movimento, que teve forte influência do Neorrealismo italiano e da Nouvelle Vague francesa. Uma vez situado o contexto em que foi realizado o longa, é possível entender melhor suas críticas a sociedade brasileira e sua forma nua crua.

O Pagador de Promessas tem uma crítica social muito interessante à igreja, a imprensa e a polícia. Essas 3 fortes instituições sufocam Zé, que por ser um homem simples acaba se vendo totalmente impotente frente a elas. A igreja rejeita ele pelo simples fato do mesmo ter se relacionado com uma religião africana. A imprensa faz do seu caso uma grande matéria para vender jornal e o trata como um revolucionário. E a polícia por sua vez o julga um elemento perigoso devido a matéria do jornal. Ou seja, vemos no filme uma metáfora para a inferioridade do homem comum frente ao poder coercitivo.

A qualidade do longa rendeu a O Pagador de Promessas grande reconhecimento internacional. O filme foi a primeira produção nacional a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Apesar de não ter levado o prêmio da academia, o longa ganhou a prestigiada Palma de Ouro de Cannes, e permanece até hoje como o único filme brasileiro a ter vencido a premiação.Portanto, se você deseja conhecer melhor o cinema nacional, e de quebra assistir a um filme inteligente e bem elaborado, O Pagador de Promessas é uma excelente pedida!




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