Dirigido por Anselmo Duarte
e lançado em 1962, O Pagador de Promessas narra a história de peregrinação de
Zé do Burro, um pacato e simplório homem do campo que faz uma promessa para a
Iansã (que ele julga ser o equivalente de Santa Clara no Candomblé) para que a
mesma cure o seu amado burrinho de estimação Nicolau. Uma vez que o burro é
salvo, Zé decide cumprir a sua promessa de ir andando com uma cruz nas costas
até uma igreja que fica a quilômetros da sua casa. No entanto, ao chegar na
igreja o padre não o deixa entrar, pelo fato de Zé ter feito a promessa a uma
entidade do Candomblé, que o catolicismo julga como magia negra.
A história começa a se
desenrolar a partir do momento em que o padre impede Zé do Burro de pagar a sua
promessa, daí se inicia o principal conflito do filme que dura até o final e
toma proporções gigantescas com a chegada da imprensa, do povo e da polícia.
Apesar da premissa aparentemente simples, é a forma como o diretor Anselmo
Duarte conta a história que torna o filme tão grande e importante.
A direção, alterna entre
planos abertos e fechados, criando imagens belíssimas. Enquanto os planos abertos mostram a
inferioridade de Zé frente ao poder da igreja, os planos fechados no rosto do
protagonista mostram o seu sofrimento. O diretor reforça em diversos momentos a
inferioridade do protagonista frente as instituições de poder. Como na cena em
que o Zé é filmado em um degrau mais baixo da escadaria enquanto o padre está degraus
acima.
É importante salientar que o
filme fez parte do movimento cinematográfico brasileiro conhecido como “Cinema
Novo”. Que se caracterizou por conter uma temática de crítica social e pela
simplicidade e realismo com que eram feitos os filmes. A frase “uma câmera na
mão e uma ideia na cabeça” resume bem o movimento, que teve forte influência do
Neorrealismo italiano e da Nouvelle Vague francesa. Uma vez situado o contexto
em que foi realizado o longa, é possível entender melhor suas críticas a
sociedade brasileira e sua forma nua crua.
O Pagador de Promessas tem
uma crítica social muito interessante à igreja, a imprensa e a polícia. Essas 3
fortes instituições sufocam Zé, que por ser um homem simples acaba se vendo
totalmente impotente frente a elas. A igreja rejeita ele pelo simples fato do
mesmo ter se relacionado com uma religião africana. A imprensa faz do seu caso
uma grande matéria para vender jornal e o trata como um revolucionário. E a
polícia por sua vez o julga um elemento perigoso devido a matéria do jornal. Ou
seja, vemos no filme uma metáfora para a inferioridade do homem comum frente ao
poder coercitivo.
A qualidade do longa rendeu
a O Pagador de Promessas grande reconhecimento internacional. O filme foi a
primeira produção nacional a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Apesar de não ter levado o prêmio da academia, o longa ganhou a prestigiada
Palma de Ouro de Cannes, e permanece até hoje como o único filme brasileiro a
ter vencido a premiação.Portanto, se você deseja
conhecer melhor o cinema nacional, e de quebra assistir a um filme inteligente
e bem elaborado, O Pagador de Promessas é uma excelente pedida!
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