Drive conta a história de um piloto de fuga, interpretado
por Ryan Gosling, que também trabalha como dublê de batidas de carro em filmes
de ação. Sua vida solitária muda drasticamente quando ele conhece a jovem Irene
e tem de proteger a família dela com os seus “talentos” de motorista e
assassino. A primeira vista pode parecer uma trama simples, mas a atuação introspectiva
e impactante de Gosling somada a brilhante direção (vencedora do prêmio de Cannes), fotografia e trilha sonora
dão um toque mágico ao filme.
Ryan Gosling tem uma atuação perfeita dentro do que é
esperado do seu papel. Consegue mesmo com pouquíssimas falas expressar toda a
dramaticidade do personagem. Sendo que a proposital falta de expressão do
protagonista dá todo um suspense e mistério ao personagem, que prendem o
expectador do começo ao fim.
O curioso é que o
nome do protagonista não é citado em nenhum momento no filme, e as poucas vezes
em que alguém se refere a ele chamam-no por “garoto” ou “piloto”. E isso faz
todo o sentido para a ideia que o diretor quer passar. O personagem principal
não tem nome porque a primeira vista não possui humanidade, é semelhante a uma
máquina, preciso e frio. Por isso o filme se chama “Drive”. A história é sobre
um homem que dirige como se o carro fosse uma extensão do seu próprio corpo,
reforçando a desumanização do mesmo, que através da atuação contida de Gosling
aparenta ser mais um robô do que um ser humano.
No entanto, quando conhece Irene e o filho dela, Benício, o
lado humano do protagonista começa a aflorar. A maioria das poucas falas do
piloto no filme é quando ele está com a garota e a criança. A cena dele levando
mãe e filho para passear de carro diz muito sobre a humanização do
protagonista. Nesta cena, a fotografia e trilha sonora têm papeis vitais para
mostrar o que o diretor deseja. As belas imagens abertas do carro sozinho na
estrada e depois o colorido da área verde que o piloto leva Irene e o filho
mostram bem esse lado humano. Complementando a fotografia, a trilha sonora diz
verbalmente o que está acontecendo. A música Real Hero diz no refrão que o
personagem na verdade é um “Real humam being”.
Ainda sobre a trilha
sonora, ela parece a todo o momento praticamente contar o tema de cada cena.
Como na cena inicial em que toca a canção “Nightcall”, e o protagonista é
mostrado como uma máquina e parece não se importar com os outros seres humanos.
O seguinte trecho da canção se encaixa perfeitamente com a cena e dá o tom do
filme: “There's something inside you. It's hard to explain. They’re talking about you boy. But you're still
the same.”
Outra caraterística marcante do filme são os contrastes.
Tensão/ação, amor/violência, razão/emoção. Essa dualidade está presente
simbolicamente na jaqueta com o desenho de um escorpião que o protagonista usa
a maior parte da história. A jaqueta é branca, simbolizando a pureza e a inocência, no entanto o escorpião é um animal
que apesar de discreto é extremamente letal.
Ainda sobre essa dualidade, o filme alterna momentos de
suspense com uma violência quase que “tarantinesca”. A cena que melhor exprime
isso é a do elevador. Basicamente a história e o próprio personagem são
sintetizados nessa única e marcante cena.
Por fim, Drive é um filme que merece ser visto e
contemplado. A brilhante estética fotográfica associada à trilha sonora
impactante diferencia Drive de boa parte dos filmes de hoje. A grande atuação
de Ryan Gosling, uma das melhores de sua carreira, traz todo um suspense
e drama. Resumindo, é só questão de tempo para que essa obra se torne um cult
do cinema.
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