Dirigido por Afonso Poyart (2 Coelhos) e protagonizado por José Loreto, o filme conta a história real do campeão do UFC José Aldo. Vindo de uma família pobre da periferia de Manaus, Aldo sofreu com o pai que batia na mãe, e só viu sua vida mudar quando se mudou para o Rio de Janeiro para tentar realizar o sonho se tornar um lutador profissional.
Além das boas cenas de luta o filme conta com um componente dramático muito bem trabalhado. Ao mesmo tempo em que odeia o pai violento, Aldo o admira e se identifica com o mesmo, sendo o progenitor a principal fonte da agressividade do protagonista que mais tarde é canalizada no MMA. Esse conflito interno de Aldo é muito abordado durante a história e acaba complementando muito bem as cenas de ação.
A direção de Afonso Poyart acerta muito nas cenas de luta e na fotografia. Com uma alta dose de ação estilizada, que lembra muito Hollywood, em especial Zack Snyder, Poyart faz do exagero sua marca registrada, assim como já demostrara em 2 Coelhos. Porém, por se tratar de uma trama real, o diretor não usa tanto do estilismo usado no fantasioso 2 Coelhos. Mesmo assim ele não abre mão do uso do slow motion, das cores vibrantes na fotografia e da utilização de animações, porém tudo em menor escala quando comparado ao filme que o tornou famoso. Apesar do exagero ser o grande trunfo de Poyart, ele também pode ser considerado em certos momentos um defeito. Há alguns momentos em que a estilização não se encaixa na cena, como em algumas cenas dramáticas em que o uso do exagero não cai muito bem, em que um silêncio ou uma sobriedade seriam melhores. Mesmo assim, se considerarmos o todo, a direção e a fotografia são extremamente competentes em entreter, provocar sensações nos expectadores e ambientá-los naquele universo.
Quanto as atuações, no geral são muito boas. José Loreto surpreende ao mostrar uma atuação competente no papel de José Aldo. Além disso, sua caracterização está excelente, o ator que é branco, alto e de olhos claros, está parecido com o lutador que é moreno e baixo. A maquiagem que o deixou com a pele mais escura, as lentes para esconder os olhos claros e os truques de câmera para deixa-lo mais baixo, ajudam a tornar a performance de Loreto mais crível.
Quanto ao restante do elenco, os destaques ficam por conta de Jackson Antunes, Claudia Ohana e Milhen Cortaz. Os dois primeiros que interpretam respectivamente o pai e a mãe de Aldo, conferem um peso dramático muito forte para a narrativa. Ohana está muito bem como a mulher sofredora e simplória, e Antunes apesar de estar repetindo o papel que já fez tantas vezes em novelas da Globo, atua bem como o sujeito bruto, simples e rústico. Quanto a Cortaz, o ator tem uma atuação firme e realista, carregando bem o papel do treinador duro, porém apoiador.
Rafinha Bastos é uma grata surpresa no papel do amigo que recebe Aldo no Rio de Janeiro. Apesar de parecer muitas vezes estar interpretando ele mesmo, com diálogos que mais parecem um texto de stand up comedy, Bastos cumpre bem o seu papel de alívio cômico, com uma interpretação bem natural e que arranca boas risadas da audiência. A única interpretação que fica um pouco abaixo das demais é a de Cléo Pires no papel do par romântico de Aldo. A atriz não convence como lutadora, muito menos como amada do protagonista, sua atuação soa um pouco superficial, fica na cara que ela está interpretando, não aparenta ser real.
Há ainda um componente metafórico muito interessante no filme. Não vou me alongar para não dar nenhum spoiler, mas fica evidente durante o filme que Aldo tem uma luta interna muito forte, talvez até mais forte do que contra os seus adversários. Como o próprio título do longa diz, o lutador é “Mais Forte Que o Mundo”, sendo assim nada pode derrota-lo, exceto ele mesmo. O filme abusa de metáforas para mostrar esse conflito interno de Aldo, essa luta contra ele mesmo é mostrada de forma que o expectador não sabe direito o que é real e o que está na cabeça do lutador, assim como o protagonista também fica confuso com os seus fantasmas.
Por fim, Mais Forte Que o Mundo: A História de José Aldo, é um filme divertido, com boas cenas de luta, mas que também não abre mão do drama. A direção de Poyart é algo diferente do que vemos atualmente no cinema nacional, o seu estilo Hollywoodiano certamente agradará os amantes do cinema americano. O fãs de luta, em especial do MMA, também ficarão satisfeitos com as boas sequências de luta estilizadas. Resumindo, o longa agradará certamente que gosta de um bom blockbuster de ação, mas também agrada quem busca uma história mais trabalhada com uma boa dose de drama e simbolismo.