Dirigido por Luís Sergio Person e
protagonizado por Walmor Chagas, São Paulo, Sociedade Anônima se passa na
capital paulista durante o “boom “ industrial no Brasil. O filme narra a
história de Carlos (Walmor Chagas), um típico paulistano de classe média com um
bom emprego, que anseia por subir na vida ao mesmo tempo em que se sente
desconfortável com o ritmo alucinante e impessoal da grande metrópole.
O longa serve de retrato histórico da São
Paulo da época, são mostrados em vários momentos locais conhecidos pelos
paulistanos, como edifícios famosos, ruas, avenidas e praças, além de eventos
tradicionais da cidade como a corrida de São Silvestre. Além desse lado mais
documental, o filme aborda muito bem a narrativa do homem que é “engolido” pela
cidade grande. Carlos é quase que a representação de São Paulo em forma de
pessoa, o protagonista é um sujeito individualista, egoísta e ambicioso, que
trata as pessoas de forma impessoal.
O personagem é um conquistador, tem várias
mulheres, mas não é feliz com nenhuma delas, as trata como mercadoria e não
consegue se realizar nem com os casos amorosos e nem com a bem-sucedida
carreira profissional. Ao mesmo em que faz parte do “organismo da metrópole”,
Carlos se sente sufocado por ela. Percebe-se neste ponto uma certa semelhança
entre o protagonista do filme e Don Draper, protagonista da série americana Mad
Man: ambos são contemporâneos, vivem em
grandes cidades, tem bons empregos e possuem sucesso com as mulheres, mas apesar
de tudo isso são infelizes e rejeitam internamente o ambiente capitalista que
os moldou como modelos de homem de sucesso.
Apesar de focar no drama de Carlos, os
outros personagens do filme também são exemplos de “crias” da cidade grande. O
chefe do protagonista, Arturo, é um imigrante italiano que prosperou em São
Paulo, exemplo do “self made man”, ele obteve sucesso profissional ao abrir uma
fábrica de autopeças, as custas de subornos, exploração dos trabalhadores e outras
falcatruas. Há também as “mulheres de Carlos”, que também se encaixam nos
estereótipos da grande metrópole. Ana é ambiciosa e almeja enriquecer graças a
sua beleza, seja trabalhando como garota propaganda, seja dando em cima do
industrial Arturo. Já Luciana é o exemplo de mulher que tem como objetivo de
vida conseguir um bom casamento, sem ter tido uma boa educação sua perspectiva
de sucesso reside em constituir uma família com um homem que a proporcione uma
boa situação.
Quanto a direção, Person se preocupa
bastante em ambientar o expectador na “correria” paulistana. O protagonista é
mostrado em diversas cenas andando pelas ruas abarrotadas de pessoas
apressadas, como se fosse apenas mais um habitante entre tantos paulistanos.
Carlos se sente deslocado em vários momentos, e a câmera do diretor consegue
captar isso muito bem. Ora o protagonista aparenta estar desorientado em meio à
multidão, ora ele se sente sufocado pela grandeza da cidade, como por exemplo
quando os imensos arranha céus são filmados de baixo para cima, dando a
sensação de inferioridade do indivíduo frente a cidade. Este é outro ponto
positivo da direção de Person, a cidade é mostrada como grandiosa,
esplendorosa, porém impiedosa e as vezes até cruel. Como diz o título do filme,
São Paulo é na ótica do diretor uma grande indústria, bem-sucedida, porém
impessoal, e esse aspecto acaba refletindo no comportamento dos seus
habitantes.
Sobre as atuações, não temos nenhuma
excepcional, mas em geral são muito competentes. Walmor Chagas é sem dúvida o
grande destaque, não apenas por ser o protagonista e aparecer em quase todas as
cenas, como também por ter a atuação mais sólida e verdadeira do filme, suas
angustias são muito bem transmitidas ao expectador. Outros destaques, são
Otello Zeloni, no papel de Arturo e a jovem Eva Wilma como Luciana. O primeiro
consegue passar muito bem toda a malandragem cômica de Arturo, enquanto a
segunda faz muito bem a recatada moça de família. Há ainda algumas atuações
exageradas e um pouco fora de tom, como por exemplo as de Darlene Glória como
Ana e Ana Esmeralda como Hilda, mas nada que comprometa a qualidade do filme.
Ainda sobre os excessos, há alguns
diálogos um pouco exagerados. Além da narração em off do protagonista, que é em
certos momentos excessiva e um pouco maçante, mas é necessária a narrativa, se
levado em conta que o filme deseja entrar na cabeça de Carlos e mostrar ao
expectador os seus dramas e dilemas.
Por fim, São Paulo, Sociedade Anônima é um
verdadeiro clássico do cinema nacional, seja pelo belo retrato histórico de São
Paulo, seja pela forma como é mostrado a cidade grande sufocando o indivíduo. O
filme capta muito toda a grandeza e impessoalidade de São Paulo, através das
tomadas inteligentes de Person e da boa atuação de Chagas. O longa foi premiado
internacionalmente, tendo recebido o prêmio do público na Mostra Internacional
do Novo Cinema de Pesaro (Itália) e o Prêmio Cabeza de Palenque do Festival de
Acapulco (México). É, portanto, um filme destinado aos amantes do bom cinema
brasileiro, bem como do cinema reflexivo e de crítica social.
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