Em exibição nos cinemas com uma programação mais cultural,
Tudo Sobre Vincent é uma espécie de filme não convencional de super-herói. O
longa se vende no trailer como o “1° filme de super-herói francês”, mas com um
importante adendo: “sem efeitos especiais”. Essa frase resume bem o que é o filme, que
está longe de ser um filme de herói Hollywoodiano, mas também não chega a ser
um tradicional filme de arte francês. Na verdade, Tudo Sobre Vincent fica no
meio do caminho, a melhor definição para o longa talvez seria a de “filme cult
de super-herói.
A história gira em torno de Vincent (Thomas Salvador), um
sujeito introspectivo e recluso que trabalha como pedreiro, que vê sua vida
mudar quando descobre que adquire uma super força quando está contato com a
água. Se não bastasse a natureza no mínimo esquisita dos poderes de Vincent, o
mesmo não chega a usar o seu “dom” para combater o crime, como nos filmes de
super-herói americanos, pelo contrário, Vincent tem medo dos poderes, e os esconde
como se fossem uma doença.
Se não bastasse a estranheza do mote principal da história,
o filme é de certa forma “esquisito” em outros aspectos. A começar pelo
protagonista, que tem pouquíssimas falas e age de maneira no mínimo peculiar.
Vincent é um cara “travado”, sem expressão, sem vivacidade, sem sonhos e nem
aspirações, uma representação exagerada do “loser” dos filmes americanos. Outro
exagero aparente está nas situações de perigo do filme, especialmente no
clímax, quando um simples ato toma proporções catastróficas.
Devido a esse aspecto mais absurdo, o filme pode ser
entendido como uma grande metáfora. Vincent é um homem fraco em todos sentidos,
profissionalmente, fisicamente e emocionalmente, e passa a ter poderes quando
está molhado pela água, especialmente quando está nadando sozinho em um
lago. Ou seja, quando está sozinho ele é
forte. O lago pode ser entendido como um
momento de reflexão do protagonista, em que ele só está em contato consigo
mesmo e se sente forte por ninguém poder oprimi-lo naquele momento. Resumindo,
Vincent se sente forte quando não está vivendo a sua “vida medíocre”, quase
como se fosse um mundo imaginário em que ele é um super-herói.
No entanto, o protagonista sente medo de mostrar a sua
força. Ele esconde de todos ao seu redor os poderes que poderiam torna-lo
famoso. É como se ele fosse reprimido a mostrar a sua força, como se existisse
uma espécie de barreira emocional que não deixasse ele mostrar o seu valor,
suas qualidades.
Percebe-se então que além do caráter metafórico, o filme
também possui uma certa sátira aos filmes de super-herói tradicionais. O longa
brinca de desconstruir o velho cliché de filme de super-herói: O homem fraco
que passa a ter poderes e vê sua vida se transformar totalmente. A exemplo do
nerd Peter Parker, e do “magrelo” Steve Rodgers, Vincent é um “loser” que ganha
poderes. No entanto, diferente dos filmes da Marvel, Vincent não tem grandes
embates contra vilões que querem dominar o mundo e nem é adorado pelo povo, seu
drama é pessoal, introspectivo.
Assim como o Peter conquista Mary Jane, Vincent também se
envolve com uma mulher teoricamente longe do seu alcance. Assim como a ruiva
das histórias do Homem Aranha, Lucie é completamente o oposto do protagonista.
Enquanto Vincent é introspectivo, ela é extremamente extrovertida e popular. O
filme brinca bastante com mais esse cliché das histórias de super-herói: o
fracassado que namora a “garota dos sonhos”. Apesar de Lucie não ser tão bonita
quanto Mary Jane, na vida real seria muito difícil a mesma se interessar por um
cara como Vincent. Outro ponto interessante é que o filme exagera a forma como
os dois ficam juntos, se nos filmes de super-herói a garota passa a se interessar
pelo protagonista de forma gradual, em Tudo Sobre Vincent é o oposto. Lucie se
interessa logo de cara por Vincent e praticamente “se joga” em cima dele,
apesar das aparentes inabilidades amorosas do protagonista.
O filme francês apresenta ao longo da história uma série de
quebras de expectativas de coisas que usualmente aconteceriam em filmes de
heróis. Como por exemplo o protagonista começar a combater o crime ou então dar
aquele beijo cinematográfico na garota. Há uma cena claramente parodiada do
filme do Homem Aranha, em que Peter de ponta cabeça beija Mary Jane na chuva.
No filme francês é Lucie que está de ponta cabeça esperando um beijo de Vincent
que não acontece, mostrando que esse é um filme de herói diferente.
Resumindo, Tudo Sobre Vincent é uma interessante e
divertida sátira dos filmes de super-herói de Holiwood, com uma boa dose de um
exagero proposital e metafórico. Portanto, se você estiver afim de algo
diferente o longa francês é uma boa pedida!
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