Em cartaz nos cinemas, Ponto Zero é uma
grata surpresa aos cinéfilos e um belo exemplo de um filme nacional com uma
estética brilhante e inovadora. Filmado no Rio Grande do Sul, o filme é
dirigido por José Pedro Goulart e protagonizado pelo estreante Sandro Aliprandini,
que vive Ênio, um garoto que passa pela conturbada fase da puberdade ao mesmo
tempo em que tem de lidar com uma família disfuncional.
Basicamente o filme trata do processo de
amadurecimento, da formação da personalidade, do estabelecimento do “Ponto
Zero” da vida adulta. Mas o filme vai muito além de apenas contar os dramas da
adolescência, a narrativa é repleta de metáforas e simbolismos. Esse é o grande
trunfo do longa, essa árdua etapa da vida dos jovens é mostrada de forma
alegórica, através de inteligentes metáforas visuais, e representações
simbólicas. Várias cenas representam o sentimento de deslocamento de Ênio, como
por exemplo em vários momentos em que as coisas são mostradas invertidas, como
carros andando para trás em uma avenida no céu. Há ainda uma cena em que o
garoto anda de bicicleta sem ser visto por ninguém, evidenciando que ele se vê
invisível frente aos outros.
O poder e o impacto dessas metáforas são
realçados ainda mais pela brilhante fotografia e pelos enquadramentos
inteligentes. As imagens são belíssimas, de encher os olhos, como há muito
tempo não se via no cinema nacional. Quanto a direção de Goulart, esta é muito
perspicaz em mostrar os personagens sempre distantes, a família de Ênio está
longe de ser unida, seu pai e sua mãe vivem sempre brigando e o garoto tem
problemas para se relacionar com eles. O diretor evidencia essa distância,
através de tomadas em que os personagens estão sempre longe um do outro, seja
através de uma câmera na janela quando a mãe observa o marido e o filho, seja
mostrando apenas as vozes dos pais discutindo ou então através do silêncio
desconfortável nos jantares em família.
As atuações também cumprem bem o seu papel
de adicionar dramaticidade a narrativa. Aliprandini convence bem como um garoto
em fase de descobrimento, sua interpretação é muito natural e introspectiva, e
apesar das poucas falas consegue passar muito bem os seus dramas internos. Seus
pais também estão muito bem, o pai, interpretado por Eucir de Sousa faz muito
bem o papel de homem grosseiro e bruto que deixa a família em segundo plano,
enquanto a mãe, Patrícia Selonk, passa bastante sofrimento no papel da mulher
do lar que se vê desamparada pelo marido.
Por fim, é bom frisar que o filme tem um
ritmo lento e contem poucas falas, a história é contada primordialmente através
de imagens, o que pode ser um problema para quem é habituado a longas mais
acelerados e com mais ação. No entanto, o filme está longe de ser maçante, apesar
do ritmo mais devagar Ponto Zero tem uma boa narrativa e consegue prender o
expectador através de belas imagens e de cenas angustiantes e dramáticas. Outro
ponto que se deve ter em mente antes de assistir ao filme, é a sua natureza
metafórica. Se interpretado de forma literal o longa pode parecer confuso ou
sem graça, mas se levado em conta o seu simbolismo a obra se torna riquíssima e
a experiência do expectador será certamente gratificante.
poético,
com uma grande qualidade imagética e que proporciona uma visão profunda das
transformações da adolescência. É muito fácil se identificar com o
protagonista, pois todo mundo já passou ou está passando por essa fase. A
história em si pode não ser muito complexa, mas é muito real, e associada as
atuações, fotografia, trilha sonora e direção tornam o longa metragem mais um
representante do bom cinema brasileiro. Portanto, se você é um amante da sétima
arte e deseja conhecer mais as boas obras tupiniquins, corre para a sala de
cinema mais próxima e confira Ponto Zero!
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