Vince Gilligan mostra novamente que é mestre em desenvolver personagens. Assim como fez em Breaking Bad, em Better Call Saul ele faz isso muito bem. A narrativa lenta é necessária para desenvolver e contar a origem dos protagonistas Jimmy e Mike. No entanto, senti falta de um pouco mais de ação, de grandes acontecimentos, mas o ritmo lento é compreensível para o desenrolar da trama. Nesta 2° temporada vemos um embrião do Saul Goodman e do Mike que conhecemos em Breaking Bad. Ambos tentam ir contra a sua natureza, mas vão aos poucos a incorporando. Tudo leva a crer que na 3° temporada serão mostrados o Saul picareta e o Mike bad ass que nos acostumamos a ver em Breaking Bad.
Se na 1° temporada vimos um Jimmy McGill que começa malandro e depois vai tentando se ajustar a sociedade, na 2° temporada temos o caminho inverso. Tirando a recaída do hotel nos primeiros episódios, o protagonista começa essa temporada com o emprego dos sonhos de qualquer advogado, e ele realmente tenta se encaixar na sua vida “certinha”, mas algo está errado, ele não quer viver assim, essa não é sua natureza. Aos poucos o expectador vai percebendo o surgimento do Saul Goodman, o episódio 7 mostra bem isso, quando o personagem aparece pela primeira vez usando os seus característicos trajes sociais coloridos e extravagantes.
O arco do personagem Mike tem uma estrutura parecida com a de Jimmy. Assim como o protagonista, Mike também tem uma natureza que ele tenta renegar, mas vai aos poucos a assumindo de vez. Se no caso de Jimmy a essência do personagem é a malandragem, no caso de Mike o seu talento é como criminoso. Apesar do personagem tentar se adaptar a uma vida pacata como avô e com um emprego comum, ele aos poucos vai deixando o seu “lado negro” transparecer cada vez mais. Ele pode até dar a desculpa que está fazendo tudo isso pela família, mas a verdade é que Mike sente um certo prazer fazendo estas atividades criminosas. Vemos uma semelhança com o personagem Walter White de Breaking Bad, que sempre falava que fabricava droga para ganhar dinheiro e que pararia quando ganhasse uma certa quantia, mas que na verdade estava envolvido com aquilo por uma mera razão de vaidade.
Os personagens secundários também foram bem desenvolvidos nessa temporada. Com destaque para Kim Wexler e Charles McGill, que tem as suas motivações mais transparecidas nesta 2° temporada. A primeira gosta de " brincar" de malandra às vezes, (como vemos na cena do golpe no hotel) talvez seja por isso que ela se sinta atraída por Jimmy, no entanto ela se mantém fiel aos seus princípios morais mesmo estando com junto com ele. Charles por sua vez, apesar de ser bem-sucedido profissionalmente sente uma inveja doentia do irmão, e faz de tudo para atrapalhá-lo. No último episódio é mostrado claramente o motivo de toda essa inveja.
Outro ponto que a série continua competente é na inserção de personagens do universo de Breaking Bad. Se na primeira temporada o traficante Tuco foi apresentado, no segundo ano da série fomos introduzidos ao tio do criminoso, o grande Hector Salamanca. A tendência é que cada vez mais esses personagens de Breaking Bad aparecam na série (Vince Gilligan disse que a dupla Walter White e Jesse Pinkman pode aparecer em algum momento na série).
Quanto ao roteiro, direção e fotografia, a série continua muito boa. O roteiro é muito bem amarrado, não existem grandes reviravoltas, mas os personagens são bem trabalhados. O visual continua muito bom, a fotografia é belíssima, principalmente as cenas no deserto, e o ar setentista da séria continua muito bem afiado (a vinheta de abertura, o figurino e a caracterização de Jimmy dão essa cara charmosa dos anos 70)
Por fim, se faltou ação nessa temporada sobrou desenvolvimento dos personagens. Tudo leva a crer que uma vez estabelecida a origem dos protagonistas, na 3° temporada teremos a consolidação do Saul e do Mike de Breaking Bad. Sem tanta necessidade de focar nos dramas dos mesmos, a ação e os grandes acontecimentos devem predominar nas próximas temporadas, assim como ocorreu na série que deu origem ao Spin Off.
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