Lançado em 2001, Deuses
Americanos é um livro de fantasia escrito por Neil Gaiman (Sandman). No livro a
existência das divindades está atrelada a crença que as pessoas têm nelas,
assim como o grau de poder delas depende do quanto são veneradas. Portanto, os
deuses existem onde há alguém que acredite neles. Sendo assim, os imigrantes
que ajudaram a construir os EUA levaram consigo a divindades das suas
respectivas culturas. No entanto, esses deuses antigos trazidos de outros lugares
foram perdendo a sua força ao longo do tempo, pois os descendentes desses
imigrantes foram perdendo a fé neles a medida em que incorporavam a cultura estadunidense.
Com o enfraquecimento das divindades antigas, as pessoas passaram a ter outros
tipos de “veneração”, como a adoração à internet e a televisão. Surge então um
embate entre os enfraquecidos deuses antigos e os fortalecidos deuses modernos,
é em torno desse conflito que a história do livro gira.
O protagonista da trama é um
homem chamado Shadow, que ao sair da cadeia acaba aceitando o emprego de um
mistério velho conhecido como Wednesday. Mais tarde Shadow acaba descobrindo
que o seu patrão na verdade é o deus nórdico Odin, e que ele o contratou para ajudá-lo
em uma jornada afim de reunir as divindades antigas com o objetivo de destruir
os novos deuses e assim restaurar o poder que tiveram no passado.
Ao longo da história são
apresentados personagens interessantíssimos, como por exemplo os deuses novos
das tecnologias modernas, e também as divindades antigas de diversas culturas,
desde as europeias até as africanas. Esse é o ponto alto do livro, Neil Gaiman
sabe muito bem criar e desenvolver seres divinos e míticos, assim como já havia
mostrado anteriormente em Sandman. O escritor inglês mergulha profundamente na
essência e no simbolismo de cada deus, e baseado nisso faz um belo exercício de
imaginar como esses deuses seriam se vivessem entre os humanos. O deus egípcio
dos mortos, Anúbis, tem uma funerária, enquanto que a Rainha de Sabá encontra
na prostituição uma forma de ser adorada.
De modo geral, pode se
entender Deuses Americanos como uma grande metáfora sobre a imigração. Ao se
mudarem para um novo local as pessoas carregam com si uma série de valores e
crenças de suas culturas, no entanto, ao se mudarem para outro lugar a tendência
é que essas culturas venham a desaparecer com o tempo, uma vez que ocorre um
processo natural de adaptação a cultura local. Essa é uma camada mais profunda
do livro, que não fica tão aparente à primeira vista, mas que contribui para
enriquecer ainda mais a obra.
Por fim, foi divulgado recentemente
que uma série sobre o livro está sendo produzida. Há um tempo atrás a HBO
adquiriu os direitos, mas depois de muitos anos de pré-produção a série acabou
não indo para frente e a emissora americana decidiu desistir do projeto. A boa
notícia é que em 2014 o canal Starz (conhecido pela série Spartacus), comprou
os direitos do livro e já começou em 2016 as filmagens.
Concluindo, Deuses
Americanos é um excelente livro de fantasia, tanto é que venceu os prêmios Hugo
e Nebula de melhor livro de Ficção/Fantasia. No entanto, a obra de Gaiman não
agrada somente os amantes do gênero fantástico, quem gosta de livros que
abordem a questão cultural dos povos também vai gostar. O livro vai além do seu
próprio gênero, e se destina a todos que gostem de uma boa história, com
personagens interessantes e bem trabalhados.
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