segunda-feira, 11 de abril de 2016

Sopranos


Lançada em 1999, Sopranos mostra de uma forma totalmente diferente o cotidiano da máfia italiana nos EUA. Ao contrário da maioria dos filmes do gênero, a série trata do tema com um nível de realismo jamais visto antes, apresentando mafiosos incrivelmente humanos, com fraquezas e dramas pessoais. Quebrando de certa a forma aquela imagem estereotipada do gangster durão e sem sentimentos.

Além dos personagens mais humanos, a série também apresenta uma rotina do mafioso mais próxima da do cidadão comum. Depois de um dia duro de “trabalho” os mafiosos têm de encarar problemas familiares, problemas com os vizinhos e com os amigos. Fazendo o expectador se identificar com os problemas universais dos personagens, independente da questão da máfia.

Um bom exemplo é do personagem principal, Tony Soprano. Mesmo sendo um membro de destaque na organização criminosa, o protagonista sofre com constantes ataques de pânico e passa a se consultar com uma psiquiatra para resolver o problema. Essa é a grande sacada da série, mostrar que mafiosos também são humanos, quebrar estereótipos, e assim desenvolver personagens interessantíssimos.

As conversas entre Tony a sua psiquiatra, Doutora Melfi, são um show à parte. Os diálogos entre os dois são muito bons, e revelam muito sobre o protagonista que tem muitas facetas. As vezes o expectador pensa que ele é um monstro, outras tantas ele aparenta ter boas razões para fazer o que faz, e em outras aparenta ser apenas um pai de família lutando para prover sua prole. O fato é que Tony é tudo isso e mais um pouco, afinal ele é humano.

Além de servir para contar um pouco mais sobre o personagem, as sessões também servem para inserir o expectador no mundo da máfia. Ainda que de forma disfarçada e usando metáforas, Tony acaba contando alguns detalhes da sua organização criminosa para a psiquiatra. Tornando as conversas entre os dois um interessante recurso narrativo dos roteiristas para explicar melhor a trama e a personalidade do protagonista para o expectador.

Pena que as conversas entre Tony e Melfi foram deixadas um pouco de lado no decorrer da série. Uma vez que as motivações do protagonista já foram apresentadas, assim como o mundo da máfia, talvez os roteiristas não julgaram ser mais tão importante mostrar as consultas. Uma pena porque eram cenas muito interessantes e divertidas.

Porém, a série tem muitas outras coisas boas além das conversas de Tony com a sua psiquiatra. O realismo dos personagens, como já citado acima é muito interessante. As relações familiares têm muito peso na trama, visto que a família é importantíssima na cultura italiana. E a série consegue mostrar brilhantemente essas relações, marido e mulher, pai e filho(a), irmão e irmão, e mãe e filho(a). Está última com grande destaque, visto que a relação de Tony com a mãe, Lívia, tem grande importância na construção do personagem principal. Grande parte da personalidade do protagonista é explicada pela relação com mãe, que apesar de ser exagerada e melodramática como as “típicas mães italianas”, parece não se importar muito com o filho. Quebrando o estereótipo de mãe italiana super protetora e carinhosa.

Falando ainda sobre estereótipos do povo italiano, Sopranos trabalha muito bem com isso, seja desconstruindo-os, seja brincando com eles. Ao mesmo tempo em que são apresentados personagens que são a encarnação da caricatura do ítalo americano, como o consigliere de Tony, Silvio Dante, e a própria mãe do protagonista Livia. Também são mostrados ítalo americanos médicos, como a Dra Melfi e o Dr Cusamano, universitários como a filha de Tony, Meadow, além de policiais, padres, advogados, etc. Ou seja, não existe na série o tradicional “tipo italiano”.  

O que os roteiristas fazem muito bem, é desconstruir o estereótipo do “Carcamano” nos personagens mais caricatos e ao mesmo tempo mostrar que há um pouco de “ carcamano” nos personagens menos caricatos. Há por exemplo uma cena em que a Dra Melfi (que também é ítalo americana) discute com a família e amigos sobre a imagem dos italianos como mafiosos nos EUA, e defende o seu paciente Tony Soprano, dizendo que eles são italianos assim como ele. Ou seja, é mostrado que mesmo os italianos mais “ajustados a sociedade” também tem em algum grau uma identificação com a cultura e o imaginário ítalo americano, formado pela culinária, música e tradições em geral, assim como também é formado pelos filmes de mafiosos como O Poderoso Chefão e Bons Companheiros.

Aliás, as referências a filmes de máfia são muito bem colocadas na série. Sendo que os próprios personagens brincam com essa caricatura do italiano nos filmes. O personagem Silvio Dante por exemplo, está sempre imitando Don Corleone e citando frases de O Poderoso Chefão e outros filmes de máfia.

Assim como a hilária atuação de Steven Van Zandt como Silvio Dante, as interpretações são excelentes. James Gondolfini que vive Tony Soprano consegue equilibrar muito bem  uma atuação mais contida, com momentos de explosão e raiva, dando um verdadeiro show de interpretação. Além do protagonista, outros atores têm grande destaque na série, como a louca mãe de Tony, Livia, interpretada por Nancy Marchand e o tio que disputa o poder com o Tony, Corrado Soprano, vivivo por Dominic Chianese. Ainda na família do protagonista, sua mulher Carmela, Edie Falco, e os seus filhos, o problemático AJ, Robert Iler, e a estudiosa Meadow, Jamie – Lynn Sinlgler, enriquecem muito a trama familiar.


Há ainda grandes personagens, como o sobrinho de Tony, Christopher Moltisanti, Michael Imperioli, os mafiosos psicóticos e sem limites, Paulie Gualtiere, Tony Sirico, e Ralph Cifaretto, Joe Pantoliano. Além do cozinheiro amigo de Tony, o engraçado e atrapalhado Artie Bucco, John Vertimiglia, e a já citada Dra Melfi, Lorraine Bracco. Sem falar de outros tantos personagens marcantes com atuações sensacionais.

Tanta qualidade fez de Sopranos uma das séries mais aclamadas da história pela crítica especializada. Sendo que em 2013 foi considerada como a série mais bem escrita de todos os tempos pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA (Writers Guild of America). Sem falar nos inúmeros prêmios vencidos, como por exemplo incríveis 18 Emmys e 5 Globos de Ouro.

Portanto, Sopranos se destina a todos que gostem de uma boa história sobre máfia, de uma boa história sobre família, de uma boa história pessoas, de uma boa história.....

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