domingo, 11 de dezembro de 2016

Black Mirror




Lançada no final de 2011, Black Mirror é uma série britânica de ficção científica que trata do impacto negativo da tecnologia na vida das pessoas. O seriado tem ao todo 3 temporadas, sendo a última produzida pela Netflix.

A série se assemelha bastante à Além da Imaginação, devido a ser uma antologia (cada episódio possui uma história independente dos demais, com enredo e personagens diferentes), mas a principal semelhança vem do fato de ambas terem roteiros perturbadores e com finais inesperados e chocantes. Apesar de serem parecidas nesses aspectos, Black Mirror se diferencia pela temática central. Enquanto que em Além da Imaginação o que causava medo no expectador eram os eventos paranormais e místicos, na série britânica o que causa medo é a tecnologia, algo bem mais próximo de nós. E é por essa razão que Black Mirror é tão chocante e perturbadora, porque é muito real, não está muito longe da realidade da audiência.

Apesar de ser uma ficção, não é uma ficção muito fantasiosa se analisarmos com cuidado.  Afinal de contas, a tecnologia já domina a vida de boa parte da população mundial. Quem hoje em dia não usa celular, internet, redes sociais? Devido a essa presença massiva da tecnologia em nossas vidas acabamos nos tornando dependente delas. Não que a tecnologia não seja uma coisa boa, pelo contrário, nos ajuda bastante. Porém essa dependência dela é prejudicial, é como um vício, não dá para viver sem hoje em dia. Além disso, a tecnologia acaba moldando o nosso comportamento, nos tornando mais ansiosos e imediatistas, acarretando em problemas sérios.

Pegando carona no papel crucial que a tecnologia tem atualmente, Black Mirror explora até onde ela pode nos levar.  O grande mérito da série é fazer as pessoas refletirem sobre como são afetadas pelo ESPELHO NEGRO das telas dos celulares, computadores, tablets e televisões (por isso o nome Black Mirror). Cada episódio traz à tona um debate mais interessante que o outro a respeito da tecnologia: Como as redes sociais são usadas para encenarmos uma vida perfeita. Como a sociedade gosta de assistir a espetáculos, mesmo que sejam macabros e de mau gosto. Como a tecnologia afeta os relacionamentos amorosos. Entre outros tantos temas interessantíssimos.

Por fim, Black Mirror é uma série que definitivamente deve ser vista por todo mundo. Agradará desde quem gosta de um simples suspense com bons plot twists, até um expectador mais exigente que gosta de refletir e debater temas mais profundos. A série entretém na mesma medida que faz pensar. Apesar de serem histórias diferentes em cada episódio, Black Mirror consegue o incrível feito de manter o altíssimo nível em todas as temporadas, algo raro até em séries não antológicas. Existe alguns episódios que ficam um pouco abaixo da média, mas que mesmo assim são muito bons quando comparados a maioria dos seriados que estão em produção atualmente.


Como prova da grande qualidade da série, Black Mirror foi reconhecida internacionalmente, tendo recebido em 2012 o Emmy de melhor mini série de TV.



domingo, 4 de dezembro de 2016

A Chegada (Spoliers)


À primeira vista o filme de Denis Villeneuve pode até parecer mais uma ficção científica hollywoodiana sobre uma invasão alienígena ao planeta terra. No entanto, o longa é muito mais do que isso, é uma obra carregada de suspense, poesia e questões filosóficas. Portanto, o filme não é indicado para quem esteja a fim de um blockbuster pipoca sobre aliens, como Independence Day e afins. A Chegada se destina aos apreciadores de uma boa ficção científica, que se baseia em conceitos científicos e filosóficos para criar uma trama interessantíssima.

O longa narra a chegada de ETs em diversas partes do mundo, e conta como os humanos entram em contato com eles para entenderem qual a real intenção dos alienígenas pousarem na terra. Para compreender os visitantes interplanetários, o exército dos EUA convoca a linguista e professora universitária Dra. Louise Banks (Amy Adams) para desvendar a língua dos aliens. Basicamente o filme todo se mantém na linguista tentando se comunicar com os ETs ao mesmo tempo em que vai compreendendo o código de linguagem dos mesmos.

O começo do filme é um pouco lento e exige a atenção do expectador. No entanto, conforme a história vai se desenvolvendo Villeneuve consegue a total atenção do público através de uma atmosfera de suspense muito bem orquestrada. O diretor se mostra mais uma vez um bom construtor de tensão e suspense que instigam a plateia, assim como já demostrou em seus trabalhos anteriores O Homem Duplicado e pincipalmente em Os Suspeitos.

Além do suspense, Villeneuve trabalha muito bem com a construção das imagens do filme (fotografia belíssima) e com a própria estrutura do roteiro. O tema central de A Chegada é a linguagem, e como ela está ligada com a cultura e com o modo de pensar dos falantes. E o interessante é que Villeneuve usa do próprio tema da linguagem na sua obra em si, através da estrutura do roteiro não linear que se relaciona com a língua dos ETs, o diretor usa a metalinguagem de forma muito inteligente.

Ainda sobre a abordagem do tema da linguagem, o filme se baseia na teoria linguística de Sapir-Whorf que resumidamente diz que o idioma e o modo de pensar estão interligados, um afeta o outro. É interessante notar que se pensarmos bem isso faz todo o sentido, visto que o sotaque, a entonação, a fonética e a escrita de uma língua dizem muito sobre o povo que a fala. Pegue o Alemão por exemplo, é um idioma que soa mais “agressivo e rude”, assim como os seus falantes que tem um modo de pensar mais rígido e disciplinado. O Italiano por sua vez é uma língua mais “cantada”, que traduz bem o caráter mais aberto e indisciplinado dos seus nativos.  Portanto, segundo a teoria de Sapir-Whorf , para aprender verdadeiramente um idioma você precisa compreender a cultura que o fala, aprender a pensar como quem o fala.

Só quando a Dra. Banks começa a compreender o modo de pensar dos alienígenas é que ela consegue entender realmente o seu idioma. No filme essa teoria é elevada até a última potência, e quando a Dra. Banks “fica fluente” no idioma extraterrestre ela passa a compreender o mundo assim como eles, ocasionando no plot twist do longa.

Apesar do plot twist ser muito bom, o filme acaba pecando um pouco justamente nele. Primeiro que para um telespectador mais atento a charada já pode ser “matada” parcialmente no meio do longa, devido as pistas que o diretor dá que deixam bem claro o que está por vir. Segundo que após revelação total do plot twist, que é muito bem-feita e emocionante, o filme tenta deixar ainda mais claro o que aconteceu, já está estaria de bom tamanho a explicação sutil, mas o diretor insiste em deixar ainda mais evidente. É um excesso que pode incomodar o expectador mais perspicaz, mas que não chega a tirar o brilho do filme.

Por fim, outro ponto que o longa exagera um pouco é no melodrama. Como dito no primeiro parágrafo o filme é bem poético, tanto nas belas imagens quanto na história em si. No entanto, há alguns momentos em que essa poesia é extrapolada para o campo do melodrama, especialmente na parte final do longa.

Quanto as atuações, as mesmas são impecáveis, ninguém fica abaixo da média. Amy Adams, como de costume dá um show, com uma interpretação ao mesmo tempo forte e contida ela carrega o filme quase que sozinha apesar do elenco de apoio também estar muito bem. Jeremy Renner e Forest Whitaker, cumprem bem o seus papeis de dar suporte a protagonista.


Por fim, A Chegada é um filme diferente do habitual. É uma obra que mescla Syfy com suspense e com uma boa reflexão filosófica. É, portanto, apesar dos seus excessos, um filme que merece ser visto, discutido e pensado. 



terça-feira, 15 de novembro de 2016

O Escafandro e a Borboleta (2007)





O filme conta a história real do ex editor da revista de moda Elle, o francês Jean-Dominique Bauby, que após um AVC fica com o corpo totalmente paralisado. No entanto, sua mente continua funcionando perfeitamente, mas devido ao estado vegetativo é como se Bauby estivesse encarcerado em seu próprio corpo, sem poder se expressar ou até mesmo se mexer. Ele é diagnosticado com uma doença chamada de “síndrome do encarceramento”, que só o permite mexer o olho esquerdo, transformando o seu corpo em uma espécie de “escafandro” nome dado aos trajes metálicos de mergulho de antigamente.

Passado o choque inicial de se ver nessa situação desesperadora, Bauby começa a se comunicar através de um sistema ensinado pela sua médica, no qual as pessoas vão ditando o alfabeto para ele e quando chega na letra que ele quer o mesmo dá uma piscada. Formando assim palavras, que formam textos, e que chegaram inclusive a formar um livro. Sim, utilizando esse sistema Bauby conseguiu com a ajuda de uma assistente escrever um livro descrevendo a sua experiência de clausura após o AVC. O livro tem o mesmo nome do filme, e foi usado de base para a criação do roteiro do longa-metragem.

Apesar da forte história de superação, era preciso um diretor que soubesse abordá-la da maneira certa, sútil, sem muito melodrama. E Julian Schnabel se mostrou a pessoa certa para dirigir o longa. Com esse material em mãos a maioria dos diretores apelaria para o sentimentalismo barato, e tentaria contar a história de maneira convencional, abusando do drama do Bauby com a tradicional “fórmula hollywoodiana” para arrancar lágrimas do expectador. 

No entanto, Schnabel faz da sutileza e do experimentalismo seus grandes méritos. Apesar do filme ter sim, muitos momentos tristes e fortes, o diretor os transmite de maneira inteligente. Primeiramente com o uso da câmera subjetiva no olho de Bauby, o diretor mostra todo o desespero e a angústia do protagonista através da sua própria visão. Praticamente toda a primeira meia hora do filme é filmada em primeira pessoa, o expectador tem acesso ao que Bauby está vendo e pensando, o que acaba colocando o público na pele do protagonista.

Só depois de algum tempo de filme o diretor começa a usar contra planos para mostrar o rosto de Bauby. No entanto, mesmo após a diminuição da câmera subjetiva, Schnabel continua dando outras mostras da sua criatividade e talento como diretor.  Como quando são mostrados sonhos metafóricos do protagonista se imaginando no fundo mar preso no seu escafandro, ou então sozinho em meio paisagens deslumbrantes no meio do nada, tudo para dar a sensação de solidão de Bauby.

Falando ainda sobre os sonhos e pensamentos do protagonista, a fotografia do filme é espetacular para fazer o público se identificar com os sentimentos de Bauby. Através de imagens belíssimas e muito fortes o diretor consegue ilustrar perfeitamente o que se passa na cabeça do protagonista.

Outro ponto interessante do longa é o uso inteligente dos flash backs. Apesar de ser um recurso cinematográfico largamente utilizado e muitas vezes de forma cafona e sem
criatividade, em o Escafandro e a Borboleta o diretor o usa na hora certa e de forma perspicaz. Os flash backs só começam a serem mostrados depois de algum tempo no filme, somente depois que o expectador já criou uma curiosidade de saber como era o Jean-Dominique Bauby antes do acidente. E quando começam a serem mostrados, os flash backs apresentam um Bauby popular, extrovertido e bem sucedido, tudo que ele não é após o AVC. No entanto, o diretor deixa claro que aquele Bauby de antes ainda vive dentro do atual, como se fosse uma borboleta presa dentro de um casulo.

Apesar da brilhante direção de Schnabel, o filme não seria tão bom se o nível das atuações também não o fosse. E apesar de sutis como o filme todo, elas são bem marcantes. A começar pelo protagonista interpretado por Mathieu Almaric, que consegue se sair muito bem tanto como o antigo, debochado e descolado Beauby, quanto como a sua nova versão vegetativa e angustiada. O ator passa muito bem os diferentes estados de espírito do protagonista.

O restante do elenco também está muito bem. Com destaque para Emmanuelle Seigner como Celine, a ex mulher de Bauby e Marie-Josée Croze como Henriette Roi a médica que ensina o sistema de letras e piscadas para o protagonista. Ambas conseguem transmitir muito bem todo o carinho e a devoção que tem por Beauby, sem deixar de lado a dor que o mesmo causa nelas. Celine, se ressente por Beuaby a ter deixado por uma mulher mais jovem, mas não consegue esquecer o ex marido e sofre tanto com o estado de saúde de seu antigo cônjuge, tanto com a desilusão amorosa. Enquanto que Henriette faz do tratamento de Bauby sua grande missão, mas fica triste quando o mesmo quebra a sua expectativa de ajuda-lo não se dedicando devido a um inicial sentimento de derrota.

O único ponto negativo do filme, se é que podemos chamar de negativo é a lentidão do filme. Para um expectador que não é acostumado com esse tipo de filme pode ser um pouco maçante assistir o Escafandro e a Borboleta, principalmente na primeira meia hora em que é usada praticamente só a câmera subjetiva. No entanto, a lentidão não chega a ser arrastada, é proposital e ajuda a contar melhor a história do filme.

Concluindo, O Escafandro e Borboleta é um filme forte, porém sutil, que abusa do experimentalismo por trás das câmeras para provocar sentimentos nos expectadores. É sem dúvida um dos melhores filmes franceses da década passada, tanto é que ganhou diversos prêmios. 2 Globos de Ouro, (melhor filme estrangeiro e melhor direção), 2 Cannes (Direção e Grande Prêmio Técnico), BAFTA (Melhor roteiro adaptado), além de 4 indicações ao Oscar, nas categorias de Direção, Fotografia, Roteiro Adaptado e Edição. Portanto, se você é fã de cinema europeu, sobre tudo o francês, ou só está afim de ver algo inovador e de qualidade, O Escafandro e Borboleta é uma excelente pedida!



domingo, 13 de novembro de 2016

Doutor Estranho (2016)



Baseado nos quadrinhos da Marvel, Doutor Estranho, conta a história de um bem-sucedido e arrogante cirurgião, Stephen Strange, que após perder parte dos movimentos das mãos em um acidente de carro fica impossibilitado de exercer a sua profissão. Desiludido com a sua condição, Stephen Strange parte em uma jornada mística para o que aparenta ser um templo budista no Nepal onde espera recuperar totalmente o movimento das suas talentosas mãos. No entanto, ao começar o seu treinamento no templo, Strange, passa a ter contato com um mundo fantástico de magia e outras dimensões, e acaba se tornando um mago que tem como missão proteger a terra de ameaças de outros mundos.

Em termos de estrutura narrativa, o filme repete a velha fórmula da Marvel, com uma história de origem pouco original, a ação bem executada e as tradicionais “piadinhas” de alívio cômico. No entanto, Doutor Estranho, se diferencia da maioria dos filmes da Marvel por 2 motivos, pela temática mais mística, e pelo visual deslumbrante.  Apesar dos filmes da Marvel serem bem fantasiosos, nenhum deles se compara a Doutor Estranho. Enquanto a maioria dos heróis desse universo tem uma origem apoiada pela ciência, Doutor Estranho é pura magia e misticismo. Quanto ao visual, esse é o grande mérito do filme. Com efeitos especiais muito bons, o filme impressiona muito nesse quesito. Há algumas sequências de cidades e prédios sendo dobradas e retorcidas que lembra muito A Origem, só que desta vez em uma escala muito maior. Além disso, o visual psicodélico e os efeitos especiais das magias também são muito bem feitos e garantem um espetáculo visual.

Quanto ao roteiro em si, apesar de ser mais do mesmo que a Marvel já vem fazendo, esse “mais do mesmo” é muito bem executado e garante uma boa diversão para quem assiste o filme apenas em busca de diversão e nada mais.  Tirando o personagem principal a maioria do núcleo de apoio não é bem desenvolvido. Falta profundidade para a maioria dos personagens que acabam ficando muito rasos. As exceções, além de Stephen Strange, são a Anciã, interpretada muito bem pela ótima Tilda Swinton e Karl Mordo vivido por Chiwetel Ejiofor (12 anos de Escravisão), esses personagens tem um bom arco dramático e a atuação de ambos está muito boa.

De resto, o que vemos é um verdadeiro desperdício de bons talentos com personagens fracos e que só estão ali para dar um apoio. É o caso dos excelentes Mads Mikkelsen (A Caça) e Rachel MacAdams (True Detective), que apesar de serem grandes atores tem a sua atuação fortemente limitada por papeis fracos e unidimensionais. Mikkelsen interpreta o vilão do filme, Kaecilius, que a exemplo da maioria dos vilões da Marvel e desinteressante e mal desenvolvido. Enquanto que MacAdams interpreta a Doutora Cristine Palmer, que claramente só está no filme para ser o par romântico do Doutor Estranho, nada mais que isso.


Resumindo, Doutor Estranho é um filme bem divertido e com uma estética visual muito bem elaborada, tem um bom elenco, mas nem todos são aproveitados de forma satisfatória. Resta a curiosidade de saber como esse personagem mais diferente vai ser inserido no universo compartilhado da Marvel, as cenas pós-crédito já dão um bom indício de como vai ser. 

domingo, 30 de outubro de 2016

O Clã (2015)




Dirigido por Pablo Trapero, O Clã é mais um representante da excelente escola de filme policiais argentinos, assim como o Segredo dos seus Olhos, Tese sobre um Homicídio, entre muitos outros. Apesar de se encaixar no gênero policial, pela natureza da trama que envolve crimes e tensão, o Clã está muito mais para um drama, com grandes momentos de angustia e tristeza, mas sem deixar de lado a ação de um bom filme policial.

O filme narra a história real dos Puccio, uma família de classe média de Buenos Aires que sequestrava pessoas. Todas as ações criminosas eram orquestradas por Arquimedes, o pai da família, um antigo membro da ditadura militar que torturava e sequestrava pessoas. Com o fim da ditadura e com a crise econômica que assolava a Argentina na época, Arquimedes decide usar os seus “dotes criminosos” para manter o padrão de vida confortável da família.

Apesar do pai ser o maestro dos crimes, toda a família participava direta ou indiretamente dos sequestros. Os homens da família, Arquimedes e seus filhos Alejandro e Maguilla, participavam de maneira direta sequestrando as pessoas, enquanto que as mulheres da família, a mãe e as filhas, participavam de maneira indireta, sendo coniventes e até ajudando em algumas tarefas menores. Pelo fato de toda família participar dos crimes os Puccio ficaram conhecidos como “O Clã”.

Se o fato de ser uma história real já não bastasse para chocar o público, o filme em si também ajuda muito para tornar essa história ainda mais perturbadora e chocante. Através da grande direção de Trapero, das impactantes atuações dos protagonistas e da bela fotografia e trilha sonora, o filme traz um tom melancólico e desconfortável muito interessante, que enriquece ainda mais a história original que já é bem forte.

A começar pela direção de Pablo Trapero, esta mantém o expectador tenso a todo o momento, com belos e sufocantes enquadramentos. Some ainda uma fotografia muito bem executada em tons pasteis que passa a ideia de algo velho que está se deteriorando. E por fim a trilha sonora que  é a cereja do bolo, com músicas muito bem encaixadas que ajudam a contar a história  do filme e a passar o sentimento que o diretor quer. Destaque para Sunny Afternoon da banda The Kinks que descreve perfeitamente a melancolia e o sentimento de impotência do filho Alejandro.

Interpretado por Peter Lanzini, Alejandro, ou Alex como é chamado pela família e pelos amigos, é um popular jovem jogador de rúgbi da seleção argentina, que se aproveita do seu círculo de amizade com membros da alta sociedade argentina para ajudar o pai nos sequestros, tendo sequestrado diversos colegas de time pertencentes a famílias ricas. Apesar de participar ativamente dos crimes, Alex não se sente nem um pouco à vontade com a situação, mas com medo de decepcionar a família continua os ajudando nos sequestros. O ator Peter Lanzini consegue passar muito bem toda a angústia e os sentimentos reprimidos do personagem que dão o tom melancólico do filme.

Apesar da grande atuação de Lanzini, o destaque fica mesmo por conta de Guillermo Francella no papel do patriarca da família, Arquimedes Puccio. O personagem é um homem extremamente frio e calculista. A expressão impassível do ator é aterrorizante, de dar medo tamanho o impacto que causa.

Concluindo, O Clã é um filme forte, perturbador pelos fatos que descreve e também pela maneira que os mostra. Com grandes atuações, direção, fotografia e trilha sonora, o longa já pode postular um lugar entre os melhores argentinos dos últimos anos. 

domingo, 23 de outubro de 2016

Os 5+: Melhores filmes de Stanley Kubrick




Reconhecido pelos críticos como um dos maiores diretores da história, se não o melhor, Stanley Kubrick é sem dúvida um dos maiores artistas que já puseram o pé em Hollywood. Sua perfeição na hora de compor as imagens, de uma simetria belíssima, o tornou uma lenda do cinema. Além da beleza das imagens que exibia na telona, Kubrick também se destacava pela versatilidade em trabalhar com os mais diversos gêneros cinematográficos. Épico histórico, terror, ficção científica e guerra são só alguns dos estilos que o cineasta se aventurou.
Devido à grande importância de Kubrick para a história do cinema resolvemos escolher quais são na nossa opinião os 5 melhores trabalhos do diretor:



5° Glória Feita de Sangue (1957)


Primeiro grande sucesso do diretor, Glória Feita de Sangue se passa durante a 1° guerra mundial e conta a história de um ataque suicida dos franceses contra os alemães e as consequências políticas que esse ataque ocasiona.
Protagonizado por Kirk Douglas e filmado em preto e branco o filme é considerado como um dos melhores longas de guerra de todos os tempos. As cenas de batalha, em especial a do começo do filme são um espetáculo. Some ainda a forte crítica anti-bélica e temos, portanto, um grande clássico do cinema.



4° O Iluminado (1980)


Baseado na obra literária homônima de Stephen King e protagonizado por Jack Nicholson, O Iluminado é um dos maiores clássicos de terror da história. O filme conta a história de Jack Torrance (Nicholson), um escritor que aceita um emprego de zelador em um hotel afastado da civilização em busca de inspiração para escrever. Ele se muda para lá junto com a esposa e o filho, no entanto, após uma nevasca deixar a família sem poder sair do hotel por um longo período, fatos estranhos começam a acontecer e a loucura começa a tomar conta de Torrance.
O longa se tornou icônico ao longo dos anos, com momentos clássicos como “Here´s Jhonny!”, bem como a cena do menino andando de triciclo no corredor.
Kubrick mostra que também é muito competente na hora de criar tensão e assustar, e apesar de não ser um típico filme de terror, O Iluminado é definitivamente chocante e apavorante.



3° Doutor Fantástico

Considerado por muitos críticos como uma das melhores comédias de humor negro da história, Doutor Fantástico se passa durante a guerra fria e narra os bastidores de uma sala guerra americana prestes a lançar uma bomba na URSS. O filme é uma tragicomédia que mescla muito bem temas como guerra, destruição e humor.
O destaque fica por conta de Peter Sellers que interpreta nada mais nada menos do que 3 personagens. Incluindo o personagem que dá nome ao filme, O Doutor Fantástico, um cientista nazista radicado nos EUA mas que mantém antigos hábitos, como uma compulsão irrefreável de fazer a saudação “Heil Hitler”.



2° 2001: Uma Odisseia no Espaço

Considerado por muitos como o melhor filme de ficção científica já feito, 2001 é um verdadeiro marco na história do cinema. Baseado na obra literária de Arthur C. Clark, o filme conta a história da humanidade desde a idade da pedra até a conquista do espaço. O longa é muito mais filosófico do que qualquer coisa, não existe uma linha narrativa clara, o foco é na história do desenvolvimento do ser humano, e até onde ele pode ir.
2001 também é um dos filmes mais icônicos do cinema, sendo lembrado até hoje por suas cenas famosas. O macaco jogando o pedaço de pau para cima, o astronauta correndo na nave e o robô hall 9000 são lembrados até hoje, seja em referências ou até mesmo em paródias.
Por fim, o filme se destaca pelo seu componente visual impressionante. Kubrick delícia o público com efeitos visuais de encher os olhos, impressionantes para a época em que foram feitos. Sem dúvida nenhuma, 2001 é um dos filmes esteticamente mais fantásticos já feitos.



1° Laranja Mecânica


Baseado no livro clássico de Anthony Burgess, Laranja Mecânica marcou época tanto pela polêmica devido à violência do filme, tanto pela direção magistral de Kubrick. Se tem uma palavra que pode definir o filme, podemos dizer que é impactante, você pode até não gostar do longa, mas sem dúvida ficará impactado.
A começar pela história, que narra a vida de Alex de Large, um delinquente juvenil sem nenhum objetivo de vida que se reúne todas as noites com a sua gangue para cometer diversos crimes, como espancamentos, roubos e estupros. No entanto, tudo começa a mudar quando Alex acaba preso por um de seus crimes e vira uma cobaia do governo em um experimento que causa náuseas e dores de cabeça quando o jovem tem pensamentos agressivos.
Se não bastasse a história que já é forte, some ainda a direção de Kubrick, que consegue mesclar muito bem violência e beleza, seja nas cenas de violência em câmera lenta, dando a ideia de dança, de ópera, seja colocando músicas clássicas no fundo de cenas fortes. A música é outro ponto forte do filme, Alex é um delinquente que gosta de música clássica, essa dualidade entre o refinado e o grosseiro está em todo o filme, assim como na cena do estupro em que o protagonista canta “Singing in the rain” ao mesmo tempo em que prática o ato de violência.
Outro ponto de destaque de Laranja Mecânica é a direção de arte, desde o cenário do bar em que a gangue toma o seu leite (ou melhor, moloko), até o figurino de Alex e sua turma, que se transformou em um verdadeiro ícone da cultura pop. Aliado a direção de arte está a fotografia e a direção de Kubrick, que produz enquadramentos belíssimos, movimentos de câmera inteligentes e acima de tudo, imagens que mais parecem uma obra de arte.
Por fim há ainda que destacar a brilhante atuação de Malcom Macdowell no papel de Alex. O ator britânico está completamente surtado e insano como o psicopata líder dos druguis. Ele consegue passar muito bem toda a loucura de certa forma infantil do protagonista. No entanto, mesmo interpretando um criminoso cruel, Macdowel também consegue fazer o público sentir pena de Alex, quando o mesmo está passando pelo tratamento. O ator transmite muito bem todo o sofrimento do garoto que não pode nem ao menos ouvir o seu amado disco do Beethoven.


sexta-feira, 29 de julho de 2016

O Cheiro do Ralo (2007)



Dirigido por Heitor Dhalia e estrelado por Selton Mello, O Cheiro do Ralo é baseado no livro homônimo escrito por Lourenço Mutarelli. O filme conta a história de Lourenço (Selton Mello), um comprador de uma espécie de antiquário, que adquire desde pratos, até violinos. Aproveitando-se de sua posição superior, o protagonista é um homem que sente prazer em destratar as pessoas que vão no seu estabelecimento tentar vender os seus pertences. O curioso é que ao mesmo tempo em que gosta de diminuir as pessoas, Lourenço se sente como um sujeito fracassado, uma pessoa ruim.

No filme, o personagem de Mello quando recebe alguém interessado em lhe vender algum item em sua sala, sempre diz que o cheiro ruim da sala não é dele e sim do ralo do banheiro que está entupido. De forma metafórica o ralo simboliza o próprio protagonista que “fede a merda”, mas diz que os outros é que fedem, os outros é que são fracassados. A merda é mostrada como algo que o protagonista tenta esconder, mas que acaba transparecendo através do seu comportamento doentio. A fixação dele pela bunda de uma garçonete é uma clara alusão que o personagem de Mello vê beleza na merda, ou nesse caso na “origem” dela. Ao mesmo tempo em que sente repulsa pela sua natureza imunda, o protagonista gosta dela e a expressa através da sua conduta mesquinha.

Ou seja, de forma metafórica O Cheiro do Ralo trata da questão de projetar no outro o que o indivíduo não suporta ver em si mesmo, nesse caso a avareza, a mesquinhez, o jogo de poder, a sujeira em sua forma mais simbólica: a merda. É, portanto, uma crítica muito inteligente a própria natureza humana em sua forma mais perversa.

Quanto as atuações, o grande destaque fica com Selton Mello, que encarna brilhantemente o sujeito perturbado e mesquinho, que fica dividido entre ser uma pessoa melhor e continuar com suas manias e hábitos doentios. Mello passa muito bem esse conflito interno do personagem, ao mesmo tempo em que gera uma certa repulsa.

Quanto a performance do restante do elenco, o mesmo cumpre muito bem o papel de apoiar a trama que gira em torno do protagonista, de modo geral ninguém compromete, mas também não chega a ter um grande destaque. Com exceção para a atriz Silvia Lourenço, que vive uma viciada em drogas que vai sempre no antiquário tentar vender objetos para conseguir dinheiro para o seu vício. A atriz consegue transmitir muito bem todo o desespero de uma usuária de drogas que está disposta a fazer de tudo para sustentar o seu uso.

Quanto a direção, Heitor Dhalia cumpre muito bem o seu papel de ambientar o expectador naquele mundo fétido e sujo do protagonista, com uma palheta de cores composta por tons de  marrom,  é transmitida a ideia de sujeira, e com enquadramentos inteligentes é transmitido ao público a percepção de mundo  do protagonista Lourenço.

Resumindo, O Cheiro do Ralo é um filme sobre a “podridão” do homem. Apesar do tema pesado a história é contada de forma leve e até engraçada. A grande atuação de Selton Mello e a boa direção de Dhalia fazem do longa uma excelente pedida para os fãs de um cinema mais cabeça, porém divertido.






segunda-feira, 25 de julho de 2016

Pássaros (1963)



Pássaros é um filme que transcende o gênero de terror, é muito mais do que isso. É ao mesmo tempo um excelente suspense, e uma metáfora muito perspicaz e inteligente do grande cineasta britânico.

O filme conta a história de Malaine Daniels, Tippi Hendren, uma “patricinha”,que após conhecer o advogado Mitch Brenner, Rod Taylor, em um pet shop, fica intrigada com o rapaz e decidi ir atrás do mesmo na pequena cidade de Bodega Bay. No entanto, quando chega na cidade a jovem é surpreendida por uma série de ataques de pássaros sem motivo aparente.

Pássaros é sem dúvida o longa metragem mais metafórico de Hitchcock. Os pássaros que são animais aparentemente inofensivos se tornam o pior pesadelo dos protagonistas quando passam a atacar os humanos por nenhuma razão clara. De modo geral, as aves podem ser entendidas como a representação dos medos e dos conflitos internos dos personagens, que normalmente não se manifestam, mas quando o fazem aterrorizam as pessoas.

No começo do filme os protagonistas Mellanie e Mitch se conhecem em um Pet Shop, quando o rapaz aborda a garota com a desculpa de que está procurando um par de periquitos, em inglês “love birds”, ou seja, o diretor mostra simbolicamente que vai existir um envolvimento amoroso entre os dois. Os periquitos, assim como a maioria das aves domesticas apresenta um comportamento dócil, mas quando Mellanie acidentalmente acaba soltando um dos peritos, “love bird”, o pássaro tenta fugir e mostra seu comportamento selvagem, uma clara alusão a dificuldade da protagonista em lidar com os seus sentimentos, em especial com o amor.

A partir de então são mostradas diversas alegorias de como os pássaros representam os medos dos personagens. Desde a dificuldade de Mellanie de mostrar o seu amor, até a complexa relação de Mitch com sua mãe. O protagonista que já tem uma carreira de sucesso como advogado em São Francisco, sempre termina os seus relacionamentos amorosos em virtude dos ciúmes que a sua mãe sente, passando inclusive a morar com ela e com a irmã na pequena cidade de Bodega Bay, mesmo tendo um bom apartamento na cidade grande. Fica clara a referência a teoria do complexo de Édipo de Sigmund Freud. Hitchcock chega inclusive a colocar um diálogo entre Mellanie e a ex namorada de Mitch em que é citado o complexo de Édipo para explicar a relação do protagonista com a mãe. Outra referência é feita quando a mãe entra na casa de um morador da cidade que foi atacado pelos pássaros e encontra o homem morto e com os olhos furados e sangrando, alusão a morte de Édipo que fura os olhos quando descobre que matou o próprio pai e se casou com a própria mãe.

Apesar do forte componente simbólico, Pássaros também funciona muito bem apenas como um filme de terror/suspense. Como de costume, o “mestre do suspense” capricha na tensão e no mistério e deixa o expectador tenso do começo ao fim. Outro mérito do filme são os efeitos especiais dos pássaros, que impressionam quando se levado em consideração a época em que o filme foram feitos. Mesmo hoje em dia, em tempos de computação gráfica os pássaros selvagens impressionam e amedrontam o expectador, as formas como as cenas dos ataques das aves foram filmadas se destacam, tanto pela beleza artística, quanto pelo terror que imprimem.

Em suma, Pássaros é um dos melhores filmes de um dos melhores diretores da história do cinema. O longa agrada tanto quem procura apenas por um bom suspense, quanto quem procura por algo mais profundo, mais simbólico e reflexivo. A estranheza de um filme em que o tema central é o ataque de pássaros a seres humanos, amedronta e ao mesmo entretém. Pássaros é uma boa pedida para os amantes de filmes clássicos, de suspense, de terror, de Hitchcock e de um bom filme cult!



domingo, 3 de julho de 2016

Game of Thrones – 6° Temporada (COM SPOILERS)


A 6° temporada de Game of Thrones pode ser considerada como umas melhores, se não for a melhor temporada da série até agora. A temporada já começou emocionante, se diferenciando das anteriores que só “esquentaram” nos 2 últimos episódios. Logo nos primeiros episódios já houveram vários acontecimentos chocantes e emocionantes, como o a volta de Jon Snow e o “Hold the Door”. Apesar de uma relativa queda de emoção na metade da temporada, o sexto ano de GOT terminou de maneira épica, prometendo uma grande 7° temporada.

Praticamente todos os núcleos foram bem trabalhados, desde o Norte até Meeren. O Norte voltou a ter destaque, sendo que foi na região que ocorreu a grande batalha dessa temporada, além disso Jon Snow e Sansa estiveram muito bem. Sendo que Sansa teve uma grande evolução enquanto personagem, deixando de vez de ser aquela menina mimada para se tornar uma mulher forte. Já o bastardo voltou do mundo dos mortos mais frio e desesperançoso do que nunca, mas aos poucos foi voltando a ser aquele Jon amável e valente. Bran também evolui bastante sua importância na trama, adquirindo um status poderoso que deverá ser decisivo tanto na batalha pelo trono de ferro, quanto para a luta contra os caminhantes brancos. Apesar do grande destaque dos irmãos Stark, a grande surpresa positiva do elenco do Norte ficou por conta da Lady  Mormont. Com uma atuação impressionante para uma criança, que passou ao mesmo tempo a força e o carisma da personagem, a garota deu um show de interpretação.

Em Meeren, Daenerys consolidou de vez a sua força como conquistadora, adquirindo um grande exército e prometendo grandes emoções na sua empreitada em Westeros na próxima temporada, as cenas em que ela sai ilesa do fogo e quando derrota os Filhos da Harpia são dois dos pontos altos dessa temporada. Mas assim como todo(a) grande governante (a),  Daenerys necessita de um grande conselheiro para ajudá-la nas horas mais difíceis. E esse homem de confiança definitivamente é o “duende”, Tyrion se mostrou de grande ajuda para a rainha dos dragões, conquistando de vez a confiança dela, ao mesmo tempo em que como de costume arrancava boas risadas do público.

Enquanto isso em Correrrio aconteceu o cerco Frey/Lannister ao castelo dos Tully. Este arco, apesar de secundário, serviu para mostrar a fraqueza da família Frey, que renegada historicamente, só consegue poder através do auxílio de casas maiores, que a ajudam exclusivamente em virtude da sua posição geográfica estratégica. Nessa temporada essa pequenez dos Frey foi mostrada quando Jaime Lannister conseguiu resolver um conflito que parecia distante de um desfecho apenas usando a inteligência, coisa que falta em abundância nos membros da família Frey. De quebra, ainda tivemos no último episódio a vingança de Arya Stark quanto ao casamento vermelho. A garota não teve uma grande trama nessa temporada, como muito se esperou, no entanto, a vingança contra Walder Frey no final acabou compensando e muito.

Enquanto isso, em Porto Real a cada episódio a tensão entre o Alto Pardal e Cersei se intensificava cada vez mais. Estava claro que o desfecho desse embate iria ser trágico para um dos lados, e essa expectativa acabou se confirmando no último episódio. Cersei se mostrou mais maquiavélica do que nunca, e conseguiu sua almejada vingança em proporções épicas. A atriz como de costume teve uma interpretação sensacional, sua frieza e ambição são de impressionar. Fica no ar a expectativa para um possível embate entre as mulheres mais poderosos da série, Cersei x Daenerys.

A única decepção da série foi novamente o núcleo de Dorne. O assassinato do príncipe Dorian foi uma cena um tanto quanto esquisita, que soou um tanto forçada, assim como o assassinato de Myrcela e Tristan na temporada anterior. Ellaria Sand, bem como as víboras são personagens fracas, sem profundidade alguma e sem nenhum carisma, muito diferente dos livros, em que cada uma possui uma personalidade própria e interessante.

Resumindo, a 6° temporada de Game Of Thrones caprichou no que a série se notabilizou por fazer de melhor: intrigas de poder, grandes batalhas, personagens interessantíssimos e acontecimentos e mortes chocantes. Esses elementos sobraram no sexto ano da série.  A temporada conseguiu manter alto nível de impacto durante quase todos os episódios, e teve um dos melhores season finales da história, com uma alta dose de “momentos uau!. Fica no ar a expectativa de uma 7° temporada memorável e grandiosa, com grandes embates pelo trono de ferro e contra os caminhantes brancos.







segunda-feira, 27 de junho de 2016

Mais Forte Que o Mundo: A História de José Aldo




Dirigido por Afonso Poyart (2 Coelhos) e protagonizado por José Loreto, o filme conta a história real do campeão do UFC José Aldo. Vindo de uma família pobre da periferia de Manaus, Aldo sofreu com o pai que batia na mãe, e só viu sua vida mudar quando se mudou para o Rio de Janeiro para tentar realizar o sonho se tornar um lutador profissional.
Além das boas cenas de luta o filme conta com um componente dramático muito bem trabalhado. Ao mesmo tempo em que odeia o pai violento, Aldo o admira e se identifica com o mesmo, sendo o progenitor a principal fonte da agressividade do protagonista que mais tarde é canalizada no MMA. Esse conflito interno de Aldo é muito abordado durante a história e acaba complementando muito bem as cenas de ação.

A direção de Afonso Poyart acerta muito nas cenas de luta e na fotografia. Com uma alta dose de ação estilizada, que lembra muito Hollywood, em especial Zack Snyder, Poyart faz do exagero sua marca registrada, assim como já demostrara em 2 Coelhos. Porém, por se tratar de uma trama real, o diretor não usa tanto do estilismo usado no fantasioso 2 Coelhos. Mesmo assim ele não abre mão do uso do slow motion, das cores vibrantes na fotografia e da utilização de animações, porém tudo em menor escala quando comparado ao filme que o tornou famoso. Apesar do exagero ser o grande trunfo de Poyart, ele também pode ser considerado em certos momentos um defeito. Há alguns momentos em que a estilização não se encaixa na cena, como em algumas cenas dramáticas em que o uso do exagero não cai muito bem, em que um silêncio ou uma sobriedade seriam melhores. Mesmo assim, se considerarmos o todo, a direção e a fotografia são extremamente competentes em entreter, provocar sensações nos expectadores e ambientá-los naquele universo.

Quanto as atuações, no geral são muito boas. José Loreto surpreende ao mostrar uma atuação competente no papel de José Aldo. Além disso, sua caracterização está excelente, o ator que é branco, alto e de olhos claros, está parecido com o lutador que é moreno e baixo. A maquiagem que o deixou com a pele mais escura, as lentes para esconder os olhos claros e os truques de câmera para deixa-lo mais baixo, ajudam a tornar a performance de Loreto mais crível.

Quanto ao restante do elenco, os destaques ficam por conta de Jackson Antunes, Claudia Ohana e Milhen Cortaz. Os dois primeiros que interpretam respectivamente o pai e a mãe de Aldo, conferem um peso dramático muito forte para a narrativa. Ohana está muito bem como a mulher sofredora e simplória, e Antunes apesar de estar repetindo o papel que já fez tantas vezes em novelas da Globo, atua bem como o sujeito bruto, simples e rústico. Quanto a Cortaz, o ator tem uma atuação firme e realista, carregando bem o papel do treinador duro, porém apoiador.

Rafinha Bastos é uma grata surpresa no papel do amigo que recebe Aldo no Rio de Janeiro. Apesar de parecer muitas vezes estar interpretando ele mesmo, com diálogos que mais parecem um texto de stand up comedy, Bastos cumpre bem o seu papel de alívio cômico, com uma interpretação bem natural e que arranca boas risadas da audiência. A única interpretação que fica um pouco abaixo das demais é a de Cléo Pires no papel do par romântico de Aldo. A atriz não convence como lutadora, muito menos como amada do protagonista, sua atuação soa um pouco superficial, fica na cara que ela está interpretando, não aparenta ser real.

Há ainda um componente metafórico muito interessante no filme. Não vou me alongar para não dar nenhum spoiler, mas fica evidente durante o filme que Aldo tem uma luta interna muito forte, talvez até mais forte do que contra os seus adversários. Como o próprio título do longa diz, o lutador é “Mais Forte Que o Mundo”, sendo assim nada pode derrota-lo, exceto ele mesmo. O filme abusa de metáforas para mostrar esse conflito interno de Aldo, essa luta contra ele mesmo é mostrada de forma que o expectador não sabe direito o que é real e o que está na cabeça do lutador, assim como o protagonista também fica confuso com os seus fantasmas.

Por fim, Mais Forte Que o Mundo: A História de José Aldo, é um filme divertido, com boas cenas de luta, mas que também não abre mão do drama. A direção de Poyart é algo diferente do que vemos atualmente no cinema nacional, o seu estilo Hollywoodiano certamente agradará os amantes do cinema americano. O fãs de luta, em especial do MMA, também ficarão satisfeitos com as boas sequências de luta estilizadas. Resumindo, o longa agradará certamente que gosta de um bom blockbuster de ação, mas também agrada quem busca uma história mais trabalhada com uma boa dose de drama e simbolismo.