quarta-feira, 30 de março de 2016

Abril Despedaçado





Abril Despedaçado se passa no sertão nordestino em 1910 e conta a história de duas famílias inimigas, que desde muito tempo atrás se veem envolvidas em uma disputa por terras e vingança. O filme começa quando Inácio, irmão mais velho de Tonho (Rodrigo Santoro) é assassinado por um membro da família rival e segundo o código de honra da região o irmão mais novo do assassinado deve vingar sua morte. Incumbido da morte do homem que matou seu irmão, Tonho tem de seguir o seu destino e perpetuar o ciclo de vinganças entre as famílias.

Esse é o pontapé de partida da história. A partir daí Tonho começa a questionar o seu destino, estimulado pelo seu sonhador irmão mais novo, Pacu, e pela paixão que sente por uma artista de circo. Basicamente a história inteira se desenvolve em torno desse questionamento da realidade e do destino cruel.

Além desse questionamento interessante, o filme é esteticamente muito belo, bastante poético, com metáforas visuais muito bem colocadas e uma fotografia deslumbrante. A maioria das cenas são monocromáticas, pintadas de tons de amarelo, desde o ambiente sertanejo até a roupa dos personagens. Essa uniformidade das cores representa o mundo limitado em que vivem os personagens, no qual o destino já está predefinido. Em algum momento da vida os homens da família vão matar e ser mortos. No filme, quando alguém é morto a família espera até o sangue da camisa do falecido secar para vingar a sua morte. O amarelo do sangue seco simboliza esse ciclo vicioso da vingança, e dialoga muito bem com o amarelo do ambiente.

Além do visual que enche os olhos, as atuações também são espetaculares. Rodrigo Santoro tem uma atuação contida, porém muito emocionante. Apesar de não falar muito o ator consegue passar muito bem os sentimentos do personagem através das expressões faciais. Sua performance foi tão boa que esse papel junto com a sua atuação em Bicho de Sete Cabeças o alçaram de vez a categoria de grande ator, passando a ser chamado para trabalhos internacionais.

Além da grande participação de Santoro, o garoto Ravi Ramos Lacerda se destaca pela grande interpretação do menino Pacu. Ele consegue passar muito bem a inocência e os sonhos daquela alegre criança em meio a um ambiente tão hostil. Outro que também está muito bem no longa é José Dumont que vive o pai de Tonho e Pacu.

Por todos esses motivos listados acima Abril Despedaçado se tornou um grande clássico do cinema brasileiro, presente em toda lista que se prese de melhores filmes nacionais. As belas atuações, e a fantástica fotografia orquestrados pela grande direção de Walter Salles fazem do longa um ícone. Indicado ao Globo de Ouro e Bafta de melhor filme e vencedor do Festival de Havana na categoria melhor direção, Abril Despedaçado foi amplamente reconhecido e cultuado não só no Brasil como no mundo todo.



                                                                                                        


segunda-feira, 28 de março de 2016

Demolidor: 4° Temporada (SEM SPOILERS)


Depois de uma 1° temporada aclamada pelo público e pela crítica, era difícil que a série mantivesse o alto nível na 2° temporada. No entanto, a nova temporada de Demolidor conseguiu não só manter a qualidade do primeiro ano como também melhorá-la em alguns aspectos.

O visual sombrio e soturno do 1° ano da série continua na 2° temporada. A quem diga que as cenas escuras atrapalham na hora das cenas de luta, mas em minha opinião só ajudam a ambientar melhor o expectador, afinal o personagem é um herói que vive nas sombras. Falando sobre as cenas de luta, as coreografias de combate e a direção das mesmas continuam muito boas. Com destaque para a sensacional cena filmada em plano sequência no 3° episódio, quando o Demolidor enfrenta vários motociclistas na escada de um prédio. Sendo que para mim essa cena consegue o feito de superar a cena do corredor na 1° temporada.

A grande novidade dessa temporada foi a inserção de novos personagens bastante conhecidos do universo do Demolidor nas HQs, Justiceiro e Elektra. Tais personagens se encaixaram muito bem na história, e dividiram muito bem a cena com o protagonista, algumas vezes até roubando a cena. O Justiceiro, por exemplo, foi muito bem interpretado por Jon Bernthal, que parece ter nascido para o papel. O ator faz muito bem esse papel de cara durão, bruto e bad ass, assim como já havia demonstrado ao viver Shane em Walking Dead. Já Elektra foi muito bem vivida pela atriz Elodie Young, que faz uma personagem infinitamente mais interessante que a Elektra de Jenifer Garner no filme Demolidor: O homem sem medo. Na série o seus lados sensual e assassina são muito mais abordados, se assemelhando mais a personagem dos quadrinhos.

A relação desses dois personagens com Matt Murdock foi para mim o ponto alto dessa temporada. O embate das duas visões de como combater o crime foi muito interessante. De um lado o Demolidor com os seus valores cristãos que não o permitem matar os inimigos, e de outro lado Justiceiro e Elektra com os seus métodos “pouco ortodoxos” de acabar com os adversários. O conflito interno do protagonista sobre usar a violência para combater o crime  que foi muito bem trabalhado na 1° temporada, foi amplificado nessa nova temporada com esses personagens que têm visões totalmente opostas a dele.

Falando ainda sobre a trama, percebe-se que cada vez mais são incluídos elementos de um aspecto mais místico do Demolidor. Esse universo mais mágico parece que terá cada vez mais espaço na história, o que pode ser um ponto negativo para quem gosta de histórias mais realistas.


Quanto as semelhanças com as HQs, as referências e o fã service continuam em voga na 2° temporada. Especialmente no episódio final em qual são dadas várias pistas sobre o que virá  a seguir na série. No entanto, essas referências conhecidas só pelos leitores não atrapalham de forma nenhuma a experiência do expectador que não conhece as revistas. Demolidor continua atingindo a difícil proeza de agradar tanto o grande público quanto os fãs de quadrinhos.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Filme x Livro: O Poderoso Chefão


Lançado em 1969 o livro The Godfather (O Poderoso Chefão), alçou ao estrelato o escritor ítalo-americano Mario Puzo. A obra revolucionou a indústria literária americana por ser o primeiro romance a abordar a Cosa Nostra, máfia siciliana. Apenas três anos após o lançamento do livro foi criado o primeiro filme da trilogia, dirigido por Francis Ford Coppola.

Primeiramente é bom salientar que apenas os dois primeiros filmes da franquia foram baseados no livro, o terceiro filme apesar de ser uma continuação possui uma história que não existe no romance. Coppola decidiu dividir o livro em dois filmes, lançados em 1972 e 1974, sendo que Poderoso Chefão Parte III só foi lançado em 1990, pois não estava nos planos iniciais do estúdio.

O primeiro filme da trilogia consegue o feito de ser uma obra extremamente fiel ao livro, uma  tradução quase perfeita das páginas para a tela. Sendo que algumas cenas são praticamente idênticas à descrição do romance. Quando se assiste a cenas do casamento de Connie e da morte de Sollozo parece que estamos lendo o livro, e o contrário também é válido, quem lê a obra literária após assistir o filme consegue relembrar exatamente como viu na tela. Quanto a Podero Chefão Parte II, apesar de ser bem fiel ao romance (especialmente a história da ascenção de Vitto Corleone) não é tanto quanto o primeiro.

Apesar da grande fidelidade ao livro, o primeiro filme cortou alguns capítulos do romance que abordavam a vida do cantor Jhony Fontane em Hollywood e de Lucy Mancini em Las Vegas. A meu ver essa foi uma decisão acertada do filme, pois além de serem capítulos um tanto quanto desinteressantes, fogem do tema central da história que é a máfia.

No entanto, o tema central, a máfia siciliana, é melhor abordado no livro. No romance se explica melhor a estrutura hierárquica da máfia e como ela funciona. Termos como Padrinho, Don, Capo Regime, Soldado e Omertà são mais bem explicados no livro. Enquanto que os filmes escolheram abordar mais o desenvolvimento do protagonista Michael Corleone. Tal escolha de priorizar o personagem se deve muito as diferenças de linguagem entre as duas mídias. Devido ao livro ter mais espaço para descrições é possível detalhar melhor a máfia, o filme por outro lado tem de condensar mais a história.


Portanto, devido à fidelidade entre as obras, se você gostou dos filmes muito provavelmente irá gostar do romance. E se acaso ficou curioso e quer saber mais sobre a estrutura da máfia siciliana, o livro é uma boa pedida. Você vai relembrar instantaneamente trechos do filme na sua cabeça ao ler o livro. Agora, se você nunca assistiu nem o filme: Corra e assista essa obra prima da sétima arte! E você vai entender porque Poderoso Chefão é um fenômeno da cultura pop.




quarta-feira, 23 de março de 2016

Drive




Drive conta a história de um piloto de fuga, interpretado por Ryan Gosling, que também trabalha como dublê de batidas de carro em filmes de ação. Sua vida solitária muda drasticamente quando ele conhece a jovem Irene e tem de proteger a família dela com os seus “talentos” de motorista e assassino. A primeira vista pode parecer uma trama simples, mas a atuação introspectiva e impactante de Gosling somada a brilhante direção (vencedora do prêmio de Cannes), fotografia e trilha sonora dão um toque mágico ao filme.

Ryan Gosling tem uma atuação perfeita dentro do que é esperado do seu papel. Consegue mesmo com pouquíssimas falas expressar toda a dramaticidade do personagem. Sendo que a proposital falta de expressão do protagonista dá todo um suspense e mistério ao personagem, que prendem o expectador do começo ao fim.

 O curioso é que o nome do protagonista não é citado em nenhum momento no filme, e as poucas vezes em que alguém se refere a ele chamam-no por “garoto” ou “piloto”. E isso faz todo o sentido para a ideia que o diretor quer passar. O personagem principal não tem nome porque a primeira vista não possui humanidade, é semelhante a uma máquina, preciso e frio. Por isso o filme se chama “Drive”. A história é sobre um homem que dirige como se o carro fosse uma extensão do seu próprio corpo, reforçando a desumanização do mesmo, que através da atuação contida de Gosling aparenta ser mais um robô do que um ser humano.

No entanto, quando conhece Irene e o filho dela, Benício, o lado humano do protagonista começa a aflorar. A maioria das poucas falas do piloto no filme é quando ele está com a garota e a criança. A cena dele levando mãe e filho para passear de carro diz muito sobre a humanização do protagonista. Nesta cena, a fotografia e trilha sonora têm papeis vitais para mostrar o que o diretor deseja. As belas imagens abertas do carro sozinho na estrada e depois o colorido da área verde que o piloto leva Irene e o filho mostram bem esse lado humano. Complementando a fotografia, a trilha sonora diz verbalmente o que está acontecendo. A música Real Hero diz no refrão que o personagem na verdade é um “Real humam being”.

 Ainda sobre a trilha sonora, ela parece a todo o momento praticamente contar o tema de cada cena. Como na cena inicial em que toca a canção “Nightcall”, e o protagonista é mostrado como uma máquina e parece não se importar com os outros seres humanos. O seguinte trecho da canção se encaixa perfeitamente com a cena e dá o tom do filme: “There's something inside you. It's hard to explain. They’re talking about you boy. But you're still the same.”

Outra caraterística marcante do filme são os contrastes. Tensão/ação, amor/violência, razão/emoção. Essa dualidade está presente simbolicamente na jaqueta com o desenho de um escorpião que o protagonista usa a maior parte da história.  A jaqueta é branca, simbolizando a pureza e a inocência, no entanto o escorpião é um animal que apesar de discreto é extremamente letal.

Ainda sobre essa dualidade, o filme alterna momentos de suspense com uma violência quase que “tarantinesca”. A cena que melhor exprime isso é a do elevador. Basicamente a história e o próprio personagem são sintetizados nessa única e marcante cena.

Por fim, Drive é um filme que merece ser visto e contemplado. A brilhante estética fotográfica associada à trilha sonora impactante diferencia Drive de boa parte dos filmes de hoje. A grande atuação de Ryan Gosling, uma das melhores de sua carreira, traz todo um suspense e drama. Resumindo, é só questão de tempo para que essa obra se torne um cult do cinema.


 Confira abaixo o trailer:

segunda-feira, 21 de março de 2016

Californication


Californication conta a história do escritor nova-iorquino Hank Moody, que se muda com a mulher e filha para Los Angeles após o sucesso do seu livro que vai virar filme. No entanto, a mudança de cidade gera para o protagonista problemas familiares e de bloqueio criativo. É nesse contexto que se desenvolvem as 7 temporadas dessa sensacional série, vencedora de 2 Emmys de fotografia e 1 Globo de Ouro de melhor ator de comédia para David Duchovny.

Primeiramente é bom falar que o nome Californication não é por acaso. Como já dito acima a história se passa em LA, Califórnia, e possui muitas cenas de FORNICATION. Sim, a série tem muito sexo e não é recomendada para quem tem restrições quanto a isso. O personagem Hank Moody aparece quase que em todos os episódios transando com uma mulher diferente, sem falar dos outros personagens que tem uma vida sexual digamos que bem ativa.

A tentação do sexo fácil e o deslumbramento com o sucesso de escritor fazem o protagonista entrar em uma derrocada familiar e profissional. Sua mulher o abandona e o seu próximo livro tarda em não sair, levando Moody a se afundar no sexo e na bebida para esquecer os seus problemas.

Falando desse jeito parece que a série é um drama pesado, no entanto é classificada pela crítica como Comédia. De fato a história possui muita comédia, mesclando diálogos de humor extremamente ácido e cenas hilariantes beirando a comédia pastelão. Porém, não se pode classificar a série como apenas Comédia. O humor na série serve como pano de fundo para o drama profundo do protagonista.

Essa transição entre comédia e drama é a principal qualidade da série. No mesmo episódio o expectador pode ir da gargalhada ao choro. Essa passagem do engraçado para o triste ocorre de maneira muito sutil, sendo que mesmo nas cenas de humor se percebe um pouco de drama e vice e versa.

A série também é impecável quanto às atuações. David Duchovny consegue passar brilhantemente a profunda angustia de Moody disfarçada pelo seu humor negro, não atoa ganhou o Globo de Ouro pelo papel. Outro personagem de destaque é a filha de Hank, Becca, interpretada por Madeleine Martin, que apesar da pouca idade atua de igual para igual com o elenco adulto. E o que dizer do amigo e empresário de Hank, Charlie Runkle, interpretado pelo hilário Evan Handler? De fato os momentos mais engraçados da série são as cenas de Charlie com Hank e Charlie contracenando com a sua mulher Marcy, interpretada pela também muito engraçada Pamela Adlon.

Outro fator de destaque da série é a fotografia, ganhadora de 2 prêmios Emmy. As belas tomadas das praias californianas são um show a parte. Cumprindo bem o seu papel de ambientar o expectador nesse mundo paradisíaco e louco da Califórnia.

Por fim, Californication se destina a todos aqueles que gostam de uma boa comédia, mas também não abrem mão de uma bela dose dramática.  A série consegue o feito de se aprofundar em questões difíceis como amor, angustia e existencialismo. Ao mesmo tempo em que abusa do humor para criar um certo contraste. Resumindo, Californication é uma tragicomédia do sonho americano, ou mais especificamente do “sonho californiano”.




Confira abaixo o trailer da série:



quarta-feira, 16 de março de 2016

Filme x Livro: Dexter



Primeiramente é bom dizer que a ideia dos artigos “Filme x Livro” não é dizer qual dos dois é melhor, até porque são mídias totalmente diferentes. Mas sim mostrar quais são as principais diferenças entre um e outro e também quais são os pontos positivos e negativos de cada um. Dito isto, vamos ao artigo!

Escrito por Jeff Lindsay, o primeiro livro de Dexter, Darkly Dreaming Dexter, foi lançado em 2004 nos EUA.  O sucesso foi tão grande que logo no ano seguinte foi lançado o segundo volume, Dearly Devoted Dexter. O sucesso dos livros motivou o canal americano Showtime a produzir em 2006 a série de TV.

A primeira temporada da série foi bem fiel ao livro, contando inclusive com passagens quase que idênticas. As únicas diferenças são alguns personagens que morrem no livro e não na série e vice e versa. Tirando isso a série foi extremamente fiel ao material original.
É a partir da 2° temporada do programa de TV que livro e série começam a tomar caminhos distintos. Se a 1° temporada foi praticamente idêntica à obra literária, a 2° apresentou uma história totalmente diferente do 2° livro, tendo como única semelhança à caçada de Doakes ao protagonista. Porém o desfecho da história e a trama foram bem distintos.

Os livros e temporadas seguintes seguiram rumos totalmente diferentes, seja em relação à história em si, seja em relação ao desenvolvimento dos personagens. Este último item é uma diferença bem acentuada. Nos livros devido à história ser contada em 1° pessoa o foco é quase que total no protagonista Dexter, praticamente deixando de lado os personagens secundários. Não existem histórias isoladas dos coadjuvantes como na série. O personagem Angel Batista que é bem importante no seriado é quase que um figurante nos livros. Masuka que é um grande alívio cômico na série e teve até um foco maior em algumas temporadas só aparece nos livros para fazer algumas piadinhas esporádicas. Enquanto que na série os personagens secundários são muito mais aprofundados e tem uma importância maior no desenrolar da trama.

No entanto, o fato do autor quase que deixar de lado os coadjuvantes nos livros faz com que o foco em Dexter seja muito maior que na série. Por isso muitos fãs, incluindo eu, acham que o Dexter da literatura é mais interessante que o da TV. Nos livros você sempre sabe o que está se passando pela cabeça do personagem, devido à narração em 1° pessoa. Dexter sempre está em contato com o seu “Passageiro das Trevas”, que infelizmente foi deixado de lado na série ao longo das temporadas. Outra diferença é que o Dexter dos livros é muito mais obscuro que o da TV, que vai se tornando mais humano no decorrer da série. O protagonista nos livros se torna um pouco mais sensível com o tempo, porém não chega propriamente a sentir um afeto pelos outros (tem certo carinho pela família, mas nada como na série), muito menos se apaixona como o Dexter da série.

Porém, como dito anteriormente, esse foco que enriquece o personagem nos livros, atrapalha o desenvolvimento dos outros personagens, inclusive dos vilões. Esse é um ponto que em minha opinião a série é melhor que os livros. Os vilões da TV são bem mais interessantes. Na obra literária os vilões não são muito trabalhados, além de não serem muito interessantes, salvo algumas exceções. As motivações dos antagonistas na série são muito mais desenvolvidas e criativas, a história do personagem Trinity, por exemplo, é sensacional, tornando a 4° temporada uma das melhores de toda a série.

Apesar de trabalhar melhor os coadjuvantes e vilões, a série cometeu em minha opinião o grande pecado de ter matado precocemente um dos melhores personagens, o irmão de Dexter, Brian Moser. Se na série Brian foi apenas o vilão da 1° temporada, nos livros ele desempenha papel importante ao longo da saga. Voltando no 5° livro e ajudando bastante Dexter, seja nas suas empreitadas assassinas, seja na busca pelo seu autoconhecimento.

Mas não é só Brian que é mal aproveitado na série, os filhos de Rita, Astor e Cody, tem um papel muito pequeno na TV. Apesar de a série desenvolver muito mais os personagens coadjuvantes e vilões, ela peca quanto à participação das duas crianças, que é muito mais interessante nos livros. Diferente da série em que Astor e Cody são crianças normais, nos livros os dois são pequenos psicopatas, com potencial para serem serial killers do calibre de Dexter. Desde o início Dexter percebe os “Passageiros das Trevas” das crianças, e fica no dilema entre incentivá-los a seguir o seu caminho ou tentar conserta-los. Definitivamente a relação entre Dexter e seus enteados é um dos pontos altos dos livros.

Por fim, outra diferença importante entre livro e série é a questão dos personagens que existem somente em uma das duas mídias. Como falado anteriormente, com exceção da primeira temporada da série, as histórias são bem diferentes, e devido a essa diferença foi inevitável que surgissem personagens distintos. Na série, por exemplo, devido à decisão dos roteiristas de contar mais a história dos coadjuvantes, existem mais personagens secundários do que nos livros. No entanto, existem personagens exclusivos dos livros.
Apesar das diferenças, alguns personagens diferentes cumprem o mesmo papel na história. Se na série o grande envolvimento amoroso de Debra é o policial Quinn, nos livros o “papel de companheiro” da irmã de Dexter fica com o também policial Chutsky. Outro caso semelhante é o filho de Dexter, que na série é um menino, Harry, e nos livros uma menina, Lilly Ann.


Concluindo, Dexter é uma grande obra de ficção, seja na TV, seja nos livros. Em alguns pontos a série supera o livro, como no desenvolvimento dos personagens secundários e vilões que enriquecem a trama como um todo. Porém os livros focam mais em Dexter e tornam o personagem mais interessante. No entanto, ambos conseguem te prender do começo ao fim e te transportam brilhantemente para o mundo sombrio e sanguinário do analista de borrifos de sangue mais amado da cultura pop.

terça-feira, 15 de março de 2016

Como começar a ler quadrinhos.



As HQ’s , também conhecidas como gibis ou simplesmente quadrinhos, existem no Brasil desde a época dos nossos pais e avos, com exemplares como Fantasma, Tex, Mandrake e muitos outros. Muitas crianças se deparam com quadrinhos como estes perdidos em casa no quarto de seu avo ou de seus pais e iniciam sua jornada pelo fantástico mundo das HQ’s desde cedo, mas a maioria não tem essa sorte. Mesmo assim posso afirmar com certeza que você já teve algum tipo de contato com quadrinhos quando criança, através da obra do incrível autor brasileiro Mauricio de Souza que é unanimidade no cenário nacional.

A obra de Mauricio de Souza, que inclui Turma da Mônica e historias solo de vários personagens do mesmo universo, é a melhor porta de entrada para o mundo dos quadrinhos para o publico infanto-juvenil por possuir historias curtas, divertidas e de fácil compreensão. Se você quer fazer seu filho gostar de ler, não só quadrinhos, mas também livros em geral, ensine-o a ler Turma da Mônica desde pequeno.

Das crianças que cresceram lendo e colecionando quadrinhos da Turma da Mônica, muitas são leitoras fanáticas de quadrinhos até hoje, mas a maioria se perde do caminho dos quadrinhos por achar que deve amadurecer perante a sociedade que lhes impõe que
quadrinhos é coisa exclusivamente de criança (o que é uma grande besteira). Muitos não só deixam de ler, como até mesmo se desfazem de suas coleções (e depois se arrependem para o resto da vida).

Você pode ser um fan de filmes de Super-heróis que nunca abriu uma revista em quadrinhos na vida, uma criança que se desfez de sua coleção, ou até mesmo um iniciante na leitura de quadrinhos. Independente da categoria em que você se encaixe as dicas que darei nesse artigo serão uteis se você deseja mergulhar de cabeça no incrível mundo das HQ’s.

Não se preocupe com a cronologia.

Quando as pessoas se interessam por um herói especifico ou por um filme inspirado em uma HQ e querem começar a ler os quadrinhos o primeiro questionamento que lhes vem à mente é: “Qual edição devo ler primeiro para não ficar perdido na cronologia dos personagens?”.

O fato é que não há resposta exata para essa pergunta. De fato a maioria das cronologias de HQ’s (principalmente de super-heróis) são extremamente confusas por possuírem muitos reboots, universos paralelos e autores diferentes. A cronologia de HQ’s é muito difícil de ser compreendida de cara por pessoas que são acostumadas a acompanhar sequências de filmes, livros e séries.  Se você se ativer a esse problema nunca conseguirá começar, por tanto esqueça a ordem cronológica e comece lendo os arcos fechados um por um. Quando você tiver lido bastante historias do mesmo personagem a cronologia começará a se encaixar sozinha em sua mente.


Se você é fan de super-heróis comece pelos arcos aclamados pela crítica.

Super-heróis são idealizados, desenhados e recebem seu primeiro roteiro de origem, depois são redesenhados e tem suas origens alteradas a cada vez que suas revistas sofrem baixas no número de vendas (muitas vezes até são mortos e depois ressuscitados). Portanto, se você começar pela primeira origem do personagem (que muitas vezes não é a melhor) você pode se iludir e deixar de conhecer o que o personagem tem de melhor. Além
do fato de que o estilo de desenho de HQs antigas pode causar desinteresse por grande parte dos leitores iniciantes, principalmente os que já leram alguma HQ nova.

Por isso, deve-se começar a ler os arcos mais aclamados pela crítica, assim você conhecerá a essência do personagem, sua personalidade e seus dramas pessoais e disfrutará de uma das melhores histórias dele o que despertará seu interesse por ler mais histórias do mesmo.

Pesquise quais são os arcos mais aclamados pela crítica e escolha o que mais lhe chamar a atenção. Geralmente arcos fechados fazem referência a outros arcos e isso o ajudará a escolher suas próximas leituras. Uma boa pedida é começar comprando os encadernados da coleção Salvat da Marvel (capa dura e vermelha), pois cada edição dessa coleção é sobre um personagem específico e contém geralmente duas histórias. Uma é sua origem e outra é um arco famoso. Compre somente as edições dos heróis que mais lhe interessam se não você gastará dinheiro com HQ’s de personagens muito desinteressantes que são feitas só pra você gastar mais e completar o desenho que se forma quando se coloca toda a coleção enfileirada.  

Se você não curte muito super-heróis, mas curte histórias mais pesadas e adultas que já foram adaptadas dos quadrinhos para o cinema, procure pelas editoras certas.

Se você assistiu aos filmes “Watchman”, “V de vingança”, “300” ou “Do inferno” e se surpreendeu ao descobrir que esses filmes são baseados em quadrinhos, você é o tipo de público que curtirá HQs adultas. Se você pertence a esse público e quer começar a ler quadrinhos, não comece por editoras como Marvel e DC, pois você pode se decepcionar. Procure pelas HQ’s das editoras Image, Vertigo e Dark Horse que você vai se surpreender com a quantidade de HQ’s adultas e pesadas que existem. Preste atenção nos roteiristas dessas HQ’s e pesquise sobre eles. Você vai descobrir que muitos deles já fizeram trabalhos incríveis pela Marvel e DC escrevendo histórias adultas e pesadas de personagens conhecidos do grande público e então você passará a ler e curtir histórias de Super-Heróis também.

Não gaste dinheiro à toa.

Um erro comum de quem está começando a ler quadrinhos é comprar uma edição com toda empolgação do mundo e se decepcionar ao descobrir que para chegar ao final da historia você terá que gastar dinheiro comprando mais cinco edições. Se você procura um arco específico que lhe foi indicado procure sempre pelos encadernados (de capa dura de preferência, que não estragam facilmente e são fáceis de guardar). 

Os encadernados são compilações de revistas que formam um arco fechado em uma única edição. Se você não conhece o personagem e nem a história procure ler online em sites que disponibilizam edições completas para ver se a historia era aquilo que você esperava ou não. Assim você economiza dinheiro e decepções. Se você ler online e gostar da HQ, compre-a! (você estará ajudando a editora a trazer mais quadrinhos que podem lhe interessar).

Leitura Online vs. Revista impressa.

A última dica é sobre ler quadrinhos online. Como dito na dica acima, essa é uma ótima ferramenta para conhecer novas HQ’s sem gastar dinheiro à toa. Mas se você não é acostumado a ler quadrinhos ou vai ler seu primeiro, é essencial que leia a versão impressa (seja comprada ou emprestada). Ler online pode se tornar algo massivo e entediante dependendo da resolução e do tamanho do seu monitor/tela. O que pode fazer com que você perca o interesse pela leitura e consequentemente estragar uma HQ fantástica que seria uma experiência incrível se você tivesse optado pela versão impressa. Não há nada como folhear as páginas com sua mão, sentir a textura das páginas, o cheiro da impressão e fecha-lo após ler todo seu conteúdo.

(Texto: Eric Grillo).




   




segunda-feira, 14 de março de 2016

House of Cards - 4° Temporada (SPOILERS)




Pode se separar a 4° temporada de House of Cards em duas partes: Antes de Frank ser baleado e depois de Frank ser baleado. Na primeira parte Frank tem de lidar com uma batalha em duas frentes. De um lado sua oponente do partido Democrata nas primárias para presidente, Heather Dumbar, de outro lado sua insatisfeita e perigosa esposa Claire. Já na segunda parte da trama, Underwood tem de enfrentar o forte candidato republicano, Will Conway, na disputa pela presidência.

Na primeira metade Frank tenta contornar o desentendimento com Claire ocorrido na 3° temporada, mas sua esposa se vira contra ele e a seu contragosto passa a ambicionar voos maiores na política. O confronto entre o casal é o ponto alto dessa 4° temporada, que pode ser considerada definitivamente a temporada de Claire. Ela rouba a cena, passa por cima do marido, dos adversários e aliados políticos e até da própria mãe com câncer em estágio terminal. A personagem de Claire consegue em certos momentos ofuscar até o próprio protagonista da série, e mostra que pode ser tão ou até mais fria e calculista que o mesmo.

Depois de quase morrer, Frank passa a reconsiderar o seu confronto com a esposa. Percebe que tem muito mais a ganhar com ela a seu lado e decide apoiar as ambições políticas da mesma, ao mesmo tempo em que ela volta a ajudá-lo na corrida presidencial. Desse momento em diante o embate de Underwood agora é contra o candidato republicano Will Conway. O oponente é o típico modelo do ideal de homem americano: branco, de boa aparência, veterano de guerra e com uma linda família. À primeira vista o oposto de Frank, mas ao longo dos episódios se percebe que os dois tem muita coisa em comum, como por exemplo, a sede irrefreável pelo poder. Os melhores momentos desse embate ocorrem quando ambos ficam cara a cara, e podemos perceber claramente que apesar das diferenças partidárias os dois têm muito em comum no que diz respeito ao modus operandi de se fazer política.

Apesar da semelhança relativa a como agem nos bastidores, Frank e Conway se diferenciam em relação a como lidam com os eleitores. Enquanto o democrata é mais tradicional, o republicano é mais moderno e usa bastante as redes sociais para interagir com o público. Os roteiristas, aliás, usam bastante de temas que estão em voga no mundo da política: Redes sociais na campanha, Estado Islâmico e vigilância através de sites de busca online são alguns assuntos abordados. Esse é um dos
principais pontos positivos dessa temporada, usar temas que estão nos noticiários da vida real e adaptá-los à trama, tornando-a ainda mais verossímil.

Outro ponto positivo dessa temporada são as alucinações de Frank quando esteve em coma. Os fantasmas do passado e do presente se reúnem para atormentá-lo. A cena que melhor sintetiza isso é quando a falecida Zoe Barnes aparece para ele vestida e com o mesmo corte de cabelo de Claire. Mostrando que ainda existe a ameaça de uma mulher acabar com ele.

Falando em Zoe, essa 4° temporada não teve coadjuvantes tão fortes como ela e Peter Russo. No entanto, alguns personagens merecem destaque como o próprio Conway já citado acima. Outra que está bem é mãe de Claire, interpretada muito bem por Ellen Burstyn. Com destaque para as cenas que tira a peruca e quando conta que tem câncer para a filha. Outro personagem de destaque é Tom Yates, que após a morte de Meetchum
passa a ocupar o papel de “3° integrante” na relação do casal presidencial. Por fim, outro coadjuvante que se destaca é Douglas Stamper, que apesar de aparecer menos do que nas últimas temporadas, continua sofrendo internamente pelos seus atos inescrupulosos. Se anteriormente sua maneira de tentar se redimir para si próprio era tentando amar Rachel, agora seu objeto de redenção é a viúva de Moretti, o homem que morreu para salvar a vida de Frank.

Por fim, o final foi alucinante. Para resolver os seus problemas internos, Underwood apela para a saída favorita de 10 entre 10 presidentes americanos. Declara guerra contra um inimigo externo para enfraquecer os internos. Fica no ar o suspense para saber o que essa guerra ao terror de Frank reserva para a 5° temporada.



segunda-feira, 7 de março de 2016

Réquiem para um Sonho

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Um Réquiem (do latim requiem, "descanso") ou Missa de Réquiem, também conhecida como "Missa para os mortos", é uma Missa da Igreja Católica oferecida para o repouso da alma de uma ou mais pessoas falecidas. É frequentemente, mas não necessariamente, celebrada no contexto de um funeral. Ou seja, um réquiem nada mais é que uma música tocada usualmente nos funerais para se despedir dos mortos. No caso do titulo do filme, o réquiem se despede lentamente, agonizantemente e cruelmente dos personagens.

A história trata basicamente dos efeitos que as drogas causam nos 4 personagens principais, Sara (Ellen Burstyn), Harry  (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly) e Tyrone (Marlon Wayans).  Que  estão afundados em profundas angustias pessoais e buscam durante o filme um meio de se livrar delas.

Harry é um garoto sem rumo, que perdeu o pai cedo e tem problemas com a mãe. Para escapar da realidade ele busca nas drogas pesadas um meio de ser feliz. Os entorpecentes sintéticos aliados ao entorpecente orgânico da paixão que sente pela sua namorada Marion são as únicas coisas que aliviam as suas dores (Sim, a paixão também age como um entorpecente natural, faz nos viciarmos em estar com a pessoa amada). No caso do personagem de Harry e da sua namorada o vício nas drogas é o mais acentuado no filme e o que acaba levando ambos à ruína. Mas o “vício” da paixão também está presente, serve como um auxiliar às drogas para que o casal se sinta feliz. As únicas vezes que o personagem de Harry aparece feliz além das drogas são nas cenas de amor com Marion. Mesmo quando ele está entusiasmado com a ideia de prosperar com o negócio de venda de drogas e ficar rico, o que realmente o deixa feliz é a possibilidade de construir uma vida ao lado da sua namorada. Utilizando o dinheiro do tráfico para abrir uma loja de roupas em sociedade com ela.
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Já a sua namorada Marion também busca escapar da realidade de problemas com os pais ricos que não a oferecem amor, mas somente dinheiro. A personagem se apaixona por Harry por se identificar com o mesmo, os dois tem problemas familiares e buscam nas drogas um meio de felicidade.

O amigo de Harry, Tyrone, também procura nos entorpecentes sintéticos um meio de escapar da realidade e também pela esperança de ser bem sucedido como traficante. O personagem lembra a todo o momento da promessa que fez a sua mãe de que se daria bem na vida, e quando se vê em meio ao vício nas drogas enxerga nas mesmas uma oportunidade de uma vida melhor através do tráfico.

A mãe de Harry é a personagem do filme que destoa dos demais. Mãe, dona de casa e com uma vida aparentemente tranquila, ela não busca nas drogas um meio de se livrar da realidade que a atormenta. Apesar de se diferenciar no que tange ao uso de entorpecentes sintéticos ela não destoa na questão de também viver uma dura realidade e que querer escapar da mesma. No entanto, o seu vício é outro, a senhora procura na televisão em especial em um programa de auditório um meio de esquecer o marido falecido, o filho viciado e o que uns quilinhos a mais e a velhice fizeram com o seu corpo. É um caso de angustia e vício muito mais comum que o uso de drogas, e que por não ser algo chocante como se drogar acaba passando despercebido e vai consumindo a pessoa aos poucos.

Resultado de imagem para réquiem para um sonhoO filme trata, portanto, da busca frenética e incessante de se livrar dos fantasmas que atormentam os personagens, da busca de uma felicidade artificial, de um sonho distante que não se realizará através desses meios. O Réquiem, portanto é um angustiante acorde que anuncia a eminente despedida da felicidade passageira dos personagens e do consequente funeral dos seus sonhos.

Se não bastasse o drama dos protagonistas, o diretor ,Darren Aranofsky, faz o telespectador sentir na pele a dor dos mesmos. Através da constante repetição do réquiem, dos rápidos cortes de cena e dos closes repentinos dos comprimidos e dos outros objetos de vício, a TV, a seringa e os efeitos da droga dentro do corpo. Todos esses elementos vão transportando lentamente o espectador da descontração do começo do filme até a agonia do final dramático. Assim como os
personagens, o espectador começa com a ilusão de felicidade e acaba mergulhado no profundo desespero dos mesmos.

Portanto, esse é um dos raros filmes que conseguem fazer com que as pessoas entrem em imersão total na história, sentindo o que Harry, sua mãe, sua namorada e seu amigo sentem. No fim da história os sentimentos do telespectador se confundem com o dos personagens. Afinal, todos nós temos em maior ou menor grau uma realidade que nos atormenta e buscamos um certo tipo de vício para nos entorpecemos. Réquiem para um Sonho é mais do que um simples filme, é uma experiência sensorial.



Confira abaixo o trailer do filme: