Filme x Livro

Clube da Luta


Escrito por Chuck Palahniuk em 1996, o livro Clube da Luta foi um grande sucesso de crítica, tendo vencido os prêmios Pacific Northwest Booksellers Award e o Oregon Book Award de melhor livro do ano nos EUA. Tanto sucesso motivou o estúdio Fox a comprar os direitos para fazer um filme, e em 1999 foi lançado o longa-metragem dirigido por David Fincher e estrelado por Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter. Curiosamente o filme foi um fracasso de bilheteria, e só atingiu o status de "cult " anos depois com o lançamento do DVD.

A adaptação de Fincher para o cinema foi extremamente fiel ao livro, chegando a ter passagens identicas a obra literária. O Tom sombrio, de humor negro e anárquico foi mantido e os atores foram muito bem escolhidos para os papéis principais. Edward Norton personifica muito bem o narrador descontente com a sua "vidinha normal", sua cara de bom moço se encaixa muito com o personagem. Brad Pitt por sua vez é perfeito para o papel de Tyler Durden, personificando bem o cara descolado e ideal de masculinidade. Há uma passagem do livro que parece estar descrevendo o próprio ator: “Tyler está em pé ali, belo, perfeito, um anjo loiro da cabeça ao pés”. Por fim, a personagem de Marla Singer parece ter sido escrita especialmente para a atriz Helena Bonham Carter, ambas possuem um ar meio dark e esquisito. Palahniuk descreve Marla no livro com: " Cabelos curtos pretos desgrenhados, olhos grandes iguais aos de um desenho japonês, branca como leite aguado", uma descrição perfeita da atriz.

Apesar da grande semelhança entre livro e filme, existem algumas pequenas diferenças. No livro por exemplo, existem muito mais descrições das "receitas bizarras ", como por exemplo fazer napalm com suco de laranja ou explodir um computador furando o monitor com furadeira e enchendo o buraco com gasolina. Não que o filme não aproveite isso, ele usa bastante dessas descrições, no entanto em uma escala muito menor quando comparado ao livro. O motivo é simples, enquanto o livro tem mais de duzentas páginas, o filme tem pouco mais de duas horas. Então não dá para fazer tantas descrições como no livro, é uma limitação da linguagem cinematográfica. No entanto, o filme surpreende ao conseguir aproveitar tantos elementos do livro de uma forma muito interessante.

Outra diferença entre livro e filme são as pistas que ambos dão sobre o narrador e Tyler serem a mesma pessoa. Enquanto que no filme são dadas poucas pistas, no livro elas são mostradas quase que em todos os capítulos. Novamente, essa diferença é motivada pelo fato de serem mídias distintas e consequentemente terem linguagens distintas. Não é possível ao diretor dar tantas pistas e ao mesmo tempo manter o suspense do filme, enquanto que no livro apesar de serem dados mais indícios, é preciso uma leitura mais atenta ou até uma releitura para perceber essas pistas.

A maior diferença entre filme e livro fica por conta dos finais de cada um. Não vou revelar o final do livro, para evitar spoilers de quem ainda não leu, mas o que posso dizer é que o fim da obra literária é mais alongado que o fim do filme. Enquanto que o filme termina com a cena de Tyler e Marla assistindo a explosão dos prédios, no livro há uma cena posterior a essa. O que posso revelar é que a história do livro termina de uma maneira mais melancólica, enquanto que no filme o final é mais grandioso e hollywoodiano. Eu particularmente gostei de ambos os finais, mas confesso que prefiro o do livro.


Resumindo a análise, o filme é uma grande obra porque se parece muito com o livro. Apesar das pequenas diferenças, que não comprometem de forma alguma o longa, David Fincher conseguiu com maestria traduzir Chuck Palahniuk para o cinema. A preservação do tom característico do escritor fez com que o filme chocasse Holiwood e o grande público, mas chocasse divertindo, com uma crítica inteligente à sociedade, e transformou Clube da Luta em um verdadeiro clássico.



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O Poderoso Chefão



Lançado em 1969 o livro The Godfather (O Poderoso Chefão), alçou ao estrelato o escritor ítalo-americano Mario Puzo. A obra revolucionou a indústria literária americana por ser o primeiro romance a abordar a Cosa Nostra, máfia siciliana. Apenas três anos após o lançamento do livro foi criado o primeiro filme da trilogia, dirigido por Francis Ford Coppola.

Primeiramente é bom salientar que apenas os dois primeiros filmes da franquia foram baseados no livro, o terceiro filme apesar de ser uma continuação possui uma história que não existe no romance. Coppola decidiu dividir o livro em dois filmes, lançados em 1972 e 1974, sendo que Poderoso Chefão Parte III só foi lançado em 1990, pois não estava nos planos iniciais do estúdio.

O primeiro filme da trilogia consegue o feito de ser uma obra extremamente fiel ao livro, uma  tradução quase perfeita das páginas para a tela. Sendo que algumas cenas são praticamente idênticas à descrição do romance. Quando se assiste a cenas do casamento de Connie e da morte de Sollozo parece que estamos lendo o livro, e o contrário também é válido, quem lê a obra literária após assistir o filme consegue relembrar exatamente como viu na tela. Quanto a Podero Chefão Parte II, apesar de ser bem fiel ao romance (especialmente a história da ascenção de Vitto Corleone) não é tanto quanto o primeiro.

Apesar da grande fidelidade ao livro, o primeiro filme cortou alguns capítulos do romance que abordavam a vida do cantor Jhony Fontane em Hollywood e de Lucy Mancini em Las Vegas. A meu ver essa foi uma decisão acertada do filme, pois além de serem capítulos um tanto quanto desinteressantes, fogem do tema central da história que é a máfia.

No entanto, o tema central, a máfia siciliana, é melhor abordado no livro. No romance se explica melhor a estrutura hierárquica da máfia e como ela funciona. Termos como Padrinho, Don, Capo Regime, Soldado e Omertà são mais bem explicados no livro. Enquanto que os filmes escolheram abordar mais o desenvolvimento do protagonista Michael Corleone. Tal escolha de priorizar o personagem se deve muito as diferenças de linguagem entre as duas mídias. Devido ao livro ter mais espaço para descrições é possível detalhar melhor a máfia, o filme por outro lado tem de condensar mais a história.


Portanto, devido à fidelidade entre as obras, se você gostou dos filmes muito provavelmente irá gostar do romance. E se acaso ficou curioso e quer saber mais sobre a estrutura da máfia siciliana, o livro é uma boa pedida. Você vai relembrar instantaneamente trechos do filme na sua cabeça ao ler o livro. Agora, se você nunca assistiu nem o filme: Corra e assista essa obra prima da sétima arte! E você vai entender porque Poderoso Chefão é um fenômeno da cultura pop.




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Dexter



Primeiramente é bom dizer que a ideia dos artigos “Filme x Livro” não é dizer qual dos dois é melhor, até porque são mídias totalmente diferentes. Mas sim mostrar quais são as principais diferenças entre um e outro e também quais são os pontos positivos e negativos de cada um. Dito isto, vamos ao artigo!

Escrito por Jeff Lindsay, o primeiro livro de Dexter, Darkly Dreaming Dexter, foi lançado em 2004 nos EUA.  O sucesso foi tão grande que logo no ano seguinte foi lançado o segundo volume, Dearly Devoted Dexter. O sucesso dos livros motivou o canal americano Showtime a produzir em 2006 a série de TV.

A primeira temporada da série foi bem fiel ao livro, contando inclusive com passagens quase que idênticas. As únicas diferenças são alguns personagens que morrem no livro e não na série e vice e versa. Tirando isso a série foi extremamente fiel ao material original.
É a partir da 2° temporada do programa de TV que livro e série começam a tomar caminhos distintos. Se a 1° temporada foi praticamente idêntica à obra literária, a 2° apresentou uma história totalmente diferente do 2° livro, tendo como única semelhança à caçada de Doakes ao protagonista. Porém o desfecho da história e a trama foram bem distintos.

Os livros e temporadas seguintes seguiram rumos totalmente diferentes, seja em relação à história em si, seja em relação ao desenvolvimento dos personagens. Este último item é uma diferença bem acentuada. Nos livros devido à história ser contada em 1° pessoa o foco é quase que total no protagonista Dexter, praticamente deixando de lado os personagens secundários. Não existem histórias isoladas dos coadjuvantes como na série. O personagem Angel Batista que é bem importante no seriado é quase que um figurante nos livros. Masuka que é um grande alívio cômico na série e teve até um foco maior em algumas temporadas só aparece nos livros para fazer algumas piadinhas esporádicas. Enquanto que na série os personagens secundários são muito mais aprofundados e tem uma importância maior no desenrolar da trama.

No entanto, o fato do autor quase que deixar de lado os coadjuvantes nos livros faz com que o foco em Dexter seja muito maior que na série. Por isso muitos fãs, incluindo eu, acham que o Dexter da literatura é mais interessante que o da TV. Nos livros você sempre sabe o que está se passando pela cabeça do personagem, devido à narração em 1° pessoa. Dexter sempre está em contato com o seu “Passageiro das Trevas”, que infelizmente foi deixado de lado na série ao longo das temporadas. Outra diferença é que o Dexter dos livros é muito mais obscuro que o da TV, que vai se tornando mais humano no decorrer da série. O protagonista nos livros se torna um pouco mais sensível com o tempo, porém não chega propriamente a sentir um afeto pelos outros (tem certo carinho pela família, mas nada como na série), muito menos se apaixona como o Dexter da série.

Porém, como dito anteriormente, esse foco que enriquece o personagem nos livros, atrapalha o desenvolvimento dos outros personagens, inclusive dos vilões. Esse é um ponto que em minha opinião a série é melhor que os livros. Os vilões da TV são bem mais interessantes. Na obra literária os vilões não são muito trabalhados, além de não serem muito interessantes, salvo algumas exceções. As motivações dos antagonistas na série são muito mais desenvolvidas e criativas, a história do personagem Trinity, por exemplo, é sensacional, tornando a 4° temporada uma das melhores de toda a série.

Apesar de trabalhar melhor os coadjuvantes e vilões, a série cometeu em minha opinião o grande pecado de ter matado precocemente um dos melhores personagens, o irmão de Dexter, Brian Moser. Se na série Brian foi apenas o vilão da 1° temporada, nos livros ele desempenha papel importante ao longo da saga. Voltando no 5° livro e ajudando bastante Dexter, seja nas suas empreitadas assassinas, seja na busca pelo seu autoconhecimento.

Mas não é só Brian que é mal aproveitado na série, os filhos de Rita, Astor e Cody, tem um papel muito pequeno na TV. Apesar de a série desenvolver muito mais os personagens coadjuvantes e vilões, ela peca quanto à participação das duas crianças, que é muito mais interessante nos livros. Diferente da série em que Astor e Cody são crianças normais, nos livros os dois são pequenos psicopatas, com potencial para serem serial killers do calibre de Dexter. Desde o início Dexter percebe os “Passageiros das Trevas” das crianças, e fica no dilema entre incentivá-los a seguir o seu caminho ou tentar conserta-los. Definitivamente a relação entre Dexter e seus enteados é um dos pontos altos dos livros.

Por fim, outra diferença importante entre livro e série é a questão dos personagens que existem somente em uma das duas mídias. Como falado anteriormente, com exceção da primeira temporada da série, as histórias são bem diferentes, e devido a essa diferença foi inevitável que surgissem personagens distintos. Na série, por exemplo, devido à decisão dos roteiristas de contar mais a história dos coadjuvantes, existem mais personagens secundários do que nos livros. No entanto, existem personagens exclusivos dos livros.
Apesar das diferenças, alguns personagens diferentes cumprem o mesmo papel na história. Se na série o grande envolvimento amoroso de Debra é o policial Quinn, nos livros o “papel de companheiro” da irmã de Dexter fica com o também policial Chutsky. Outro caso semelhante é o filho de Dexter, que na série é um menino, Harry, e nos livros uma menina, Lilly Ann.


Concluindo, Dexter é uma grande obra de ficção, seja na TV, seja nos livros. Em alguns pontos a série supera o livro, como no desenvolvimento dos personagens secundários e vilões que enriquecem a trama como um todo. Porém os livros focam mais em Dexter e tornam o personagem mais interessante. No entanto, ambos conseguem te prender do começo ao fim e te transportam brilhantemente para o mundo sombrio e sanguinário do analista de borrifos de sangue mais amado da cultura pop.

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