sexta-feira, 24 de junho de 2016

Festa de Família (1998)




Primeiramente é bom falar que Festa de Família é um filme representante do movimento cinematográfico conhecido como Dogma 95. O movimento criado pelos dinamarqueses Thomas Vinterberg e Lars Von Trier, tinha como regras a “busca por um cinema mais puro”, menos comercial e sem o uso de tantos artifícios técnicos. Para se ter uma ideia, o Dogma 95 não permitia que se usasse luz artificial, trilha sonora e efeitos visuais. Além disso, a filmagem deveria ser feita com a câmera na mão.

Resumindo, o Dogma 95 pregava um cinema feito de forma simples, em que a história deveria se sustentar sozinha. E é aí que está o grande trunfo de Festa de Família, o filme tem uma trama muito forte e impactante que prende a atenção do expectador apesar da discutível qualidade audiovisual.

O longa dirigido por Thomas Vinterberg conta a história de uma rica família dinamarquesa que se reúne na mansão do patriarca para celebrar o seu 60° aniversário. No entanto, a festa que tinha tudo para ser alegre e divertida ganha contornos de drama quando o filho Christian acusa o pai de ter molestado ele e a irmã quando crianças. A partir desse momento uma série de acontecimentos chocantes passa ocorrer e a família fica dividida entre o clima tenso da revelação de Cristian e o clima festivo do aniversário do pai.
Festa de Família é provavelmente o melhor filme do Dogma 95 por dois motivos: 1° o roteiro é muito bom e impactante, 2° o estilo simples de filmagem do Dogma 95 se encaixa muito bem com a história. Apesar da qualidade imagética estar longe de ser bela, a filmagem simples dá ao filme um tom de filme festivo familiar, quase como se um membro da família estivesse operando a câmera para gravar para a posteridade a reunião de família. De certa forma o estilo Dogma 95 passa uma maior veracidade para a história, complementando muito bem o roteiro.
Apesar do estilo de filmagem mais “cru”, Vinterberg trabalha muito bem os enquadramentos e os movimentos de câmera. O diretor se mostra arrojado ao conseguir criar tensão mesmo com poucos recursos técnicos. A cena da filha do Patriarca, Helene, se sentindo aterrorizada por um suposto fantasma da irmã no quarto é muito inteligente, utilizando da câmera subjetiva e do jogo de “mostra – não mostra” para criar tensão.

Quanto as atuações, estas são extremamente competentes. O clima tenso e desconfortável do filme, vem muito das interpretações. Como se trata de uma história sobre uma família dinamarquesa, é de se esperar relações mais frias e impessoais, característica dos povos escandinavos. Os atores cumprem muito bem o papel de passar essa frieza, mesmo, no entanto, o grande trunfo das suas interpretações está na quebra dessa impessoalidade, nos momentos de raiva, de tristeza e de embate. Os destaques ficam por conta de Ulrich Thomsen, no papel do filho Christian, Henning Moritzen como o pai Helge e Thomas Bo Larsen como o irmão mais novo de Christian, Michael.

Por fim, Festa de Família é um filme extremamente simples tecnicamente, porém extremamente bem escrito e dirigido. O estilo de filmagem “sem firulas” do Dogma 95 casa muito bem com a proposta do filme, mostrar a família tradicional além das aparências, mostra-la de dentro, sem filtros, da forma mais realista possível. O filme recebeu grande reconhecimento da crítica internacional, tendo vencido o conceituado prêmio do júri do Festival de Cannes. Portanto, se você está à procura de um filme realista, impactante e sem distrações técnicas, Festa de Família é uma boa pedida!





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