sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Como eu dou nota a um filme?



O processo de dar notas a filmes pode ser muitas vezes puramente subjetivo. Ou seja, unicamente baseado numa percepção de quem está dando a nota. Por exemplo: Se eu adorei um filme a nota será entre 9 e10, se achei bom entre 7 e 8, se achei razoável entre 5 e 6, e se julguei ser ruim, a nota será menor ou igual a 4.

O problema desse sistema de notas mais subjetivo é que na maioria das vezes ele se baseia apenas no quanto a pessoa gostou ou não do filme. E convenhamos que uma nota baseada apenas no gosto pessoal pode distorcer drasticamente. Dependendo muito dos gostos pessoais do avaliador. Por exemplo:  se uma pessoa que não gosta de filmes de super-heróis está avaliando um filme do gênero, provavelmente ela dará uma nota baixa ao longa, mesmo que se trate de um bom filme.

Trocando em miúdos, o grande problema desse tipo de avaliação é que a mesma é muito simplista, leva em conta apenas 1 dentre uma série de critérios para dar nota a uma produção cinematográfica.  Mesmo se o filme não me entreter de forma satisfatória, ele pode ter uma série de outras qualidades que eu devo levar consideração no momento de avalia-lo.

Existem vários fatores que fazem um filme bom ou ruim. E mesmo em filmes ruins é possível enxergar qualidades, assim como se pode notar defeitos em filmes bons. Mas afinal de contas, quais seriam esses fatores?

São todos os elementos que quando juntos compõe uma obra cinematográfica. Roteiro, direção, fotografia, edição, montagem, trilha sonora e atuações. É claro que existem outros diversos aspectos da produção de um filme, como direção de arte, maquiagem, edição e design de som, continuidade e etc. Porém, eu opto por levar em conta nas minhas avaliações apenas aqueles que eu tenho um maior entendimento.

Portanto, eu avalio primeiro cada elemento separadamente e depois componho a nota final com a soma de todos eles. Cada fator tem um peso, conforme a sua importância segundo a minha visão



Seguem abaixo os elementos avaliados e o que eu levo consideração no momento de avalia-los:



Roteiro: 

Um bom roteiro deve desenvolver de forma eficaz a narrativa e os personagens, além de ter diálogos interessantes. A narrativa não precisa obrigatoriamente ser tão inventiva, se conseguir contar a história de forma competente já está valendo. Porém, uma história original e que tenha pontos de virada que surpreendam o expectador são um bônus. É isso que diferencia um roteiro bom de um excelente.

Não nos esqueçamos também dos diálogos e dos personagens, que quanto mais realistas forem melhor. Mesmo se os personagens forem seres fantasiosos como ETs e monstros, elementos humanos e camadas de personalidade enriquecem o personagem, e facilitam a identificação com o público. Além disso, eles devem ter uma serventia para o desenvolvimento da narrativa. As ações de todos presentes no filme devem influenciar a trama de alguma forma, caso contrário eles são inúteis dramaturgicamente falando.

Quanto aos diálogos, vale o mesmo falado para os personagens. Quanto mais crível melhor. Diálogos bons não soam artificiais, eles devem parecer com algo que é falado na vida real. O ritmo e profundidade dos mesmos também é muito importante. Diálogos que falam  nas entrelinhas são um ponto fortíssimo; jogos de palavras, metáforas e sugestões são ótimas formas de dizer algo além do que está sendo falado literalmente. E por fim, os diálogos não podem ser redundantes em relação ao que está sendo mostrado nas imagens. Quando um personagem fala ou pensa:  “estou muito triste,” ao mesmo tempo em que a câmera mostra ele chorando, então esta cena está sendo redundante. Um bom roteiro presume a inteligência do expectador, e prefere deixar as coisas subtendidas em detrimento de explicar tudo mastigado.



Direção:



O diretor é o maestro de um filme, ele que escolhe como filmar o roteiro, o que mostrar e como mostrar. Uma boa direção trabalha em prol do desenvolvimento da história, mas também se preocupa com a qualidade imagética do que está em tela.

Mas o que torna uma direção excelente é o aspecto autoral do cineasta, a sua marca registrada, sua assinatura. Todos os grandes diretores da história do cinema possuem um jeito peculiar de filmar que os diferencia de um diretor comum. Tarantino adora usar violência exagerada, contra plongés e diálogos cotidianos e engraçados. Enquanto que Kubrick prezava pela perfeição simétrica de seus enquadramentos, além de exigir o máximo dos seus atores.

Outro fator que contribui para uma direção de destaque, são as metáforas e rimas visuais, que quando utilizadas de forma inteligente tornam um filme ainda mais interessante



Fotografia:  



Além de esteticamente bela uma boa fotografia também deve ter um propósito narrativo. Não adianta nada o filme mostrar lindas paisagens e cores se as mesmas não conversam com o roteiro e a direção. A paleta de cores e a iluminação utilizadas devem ajudar a contar a história, seja de forma objetiva ou simbólica. Por exemplo: um filme pode utilizar de uma iluminação baixa para contar uma história que se passe predominantemente a noite, e reforçar os tons pretos das roupas e cabelos dos personagens para sugerir um clima dark.





Trilha Sonora/ Sonoridade:

Podem existir filmes com pouca ou nenhuma trilha sonora, mas não existe filme sem som ou silêncio. Por isso a opção de avaliar esses 2 componentes de forma agrupada.

Uma boa trilha sonora deve conter músicas que se encaixem com o que está sendo mostrado em cena. Deve complementar o que está na imagem, sem ser redundante, assim como foi falado no caso dos diálogos. Uma boa trilha é orgânica, não soa forçada e ainda por cima contribui narrativamente. Agora, uma ótima trilha faz tudo isso, e ainda por cima é marcante, tem canções impactantes e que ficam na memória do expectador.

No caso da sonoridade, o uso apropriado e realista de sons conferem um maior realismo a cena, além de poderem ser utilizados com um significado simbólico. Outro fator a ser levado em consideração é o uso do silêncio. Saber dosar a ausência de som proporciona uma maior dramaticidade, tensão ou suspense da cena. Mas antes de tudo é preciso de muita sensibilidade para saber o momento de usar ou não esse recurso.



Edição/Montagem:



Avalio esses dois fatores em comum pois os mesmos estão muito ligados um ao outro. Enquanto que a edição cuida dos cortes, a montagem se encarrega de “montar o quebra-cabeça”, ou seja dispor as cenas em uma sequência que seja mais apropriada.

Uma edição e montagem ruins podem acabar com um filme que tinha tudo para ser bom. As duas tem influência direta no ritmo de um longa-metragem, e até na percepção do expectador, vide o famoso Efeito Kuleshov :


Além disso, a montagem pode ser utilizada de diversas maneiras afim de enganar ou sugestionar o expectador. Podendo inclusive ser usada para conferir simbolismo e relação de causa e efeito através de transições de cenas e sequências que impliquem em alguma lógica.



Efeitos Visuais:



Esse item é avaliado apenas em filmes que utilizam esse recurso, e que a sua qualidade dependa diretamente do quão bom são os efeitos. Como por exemplo em filme de super-heróis e ficção científica.

Em tempos de Computação gráfica sendo usada a exaustão em Hollywood, qualquer artificialidade percebida pela audiência se torna um problema para o filme. Um bom efeito visual deve parecer real, isso facilita a imersão de quem assiste ao filme.

Mas o que faz um efeito visual excelente é o seu impacto visual. Algo que impressione o expectador, seja pela sua grandiosidade, seja pelo seu ineditismo confere um ar diferente a produção.


Atuações:

Uma boa atuação expressa antes de tudo verdade no que está sendo dito, não imprimi artificialidade e ao mesmo tempo cativa a audiência. Conseguir transmitir sentimentos é muito importante, seja através da fala, ou então da expressão facial e corporal.

O que diferencia uma boa de uma grande interpretação, e a capacidade de emocionar que o ator/atriz passa em frente as câmeras, e muito disso vem do realismo com que atua.





Há ainda mais 3 critérios de avaliação que não são técnicos, mas são vitais no momento de se dar nota a um filme. São eles:





Atendimento as Expectativas:

Muito da qualidade percebida de um filme vem das expectativas criadas ao redor dele. Um filme que cria muito alarde nos trailers e na divulgação de marketing, terá muitas dificuldades de pelo menos igualar as expectativas criadas. Por outro lado, um filme de baixo orçamento não criará altas expectativas, e portanto, terá uma maior chance de atingi-las.

Outro fator determinante no atendimento as expectativas diz respeito a maneira como o filme foi vendido nos trailers e nos materiais promocionais. Se o filme é sugerido como um terror na divulgação mas na verdade se mostra um drama, então esse filme não cumpriu as suas expectativas.

Além disso, é importante levar em conta que as expectativas de uma produção cinematográfica dependem diretamente do seu gênero e público alvo. A expectativa de um filme infantil, é que divirta, e no máximo ensine alguma lição de moral para as crianças. Diferente de um filme “cabeça”, em que se espera alguma reflexão mais profunda



Valor de Entretenimento:

Diz respeito a capacidade que o filme tem de entreter o público. Filmes divertidos e leves, como aventura e comédias de qualidade, levam vantagem nesse quesito. Mas longas que prendem a atenção do expectador também entretém.

Por outro lado, filmes com um ritmo mais lento, além de longas com cenas perturbadoras tendem a causar desconforto no expectador, seja ele através do cansaço, nojo ou medo.



Valor Intelectual:

Se refere a profundidade intelectual do filme. O quanto ele faz o expectador refletir, e o quanto trata de forma competente e inteligente de temas filosóficos, de crítica social, ou psicológicos.

Porém, de nada adianta encher de temas profundos se os mesmos não têm coesão com a história. Tudo deve estar conectado, e atendendo a uma sequência válida de argumentos de forma a fazer o expectador refletir.

Um filme com o valor intelectual alto, é aquele que você se pega pensando e refletindo sobre o que viu mesmo após algumas horas ou até mesmo dias depois de o assistir.



Fórmula de cálculo da nota:

Por fim, a nota final do filme é calculada através da seguinte fórmula abaixo

NOTA  DO FILME = (Nota Roteiro x 1) + (Nota Direção x 1) + (Nota Atuações x 1) + (Nota Edição e Montagem x 1) +(Nota Fotografia x 0,6) + (Nota Trilha Sonora ou sonoridade  x 0,6) + (Nota Atendimento as Expectativas x 1,6) + (Nota Valor de Entretenimento x 1,6) + (Nota Valor Intelectual x 1,6)

Caso o filme tenha efeitos visuais, então esse elemento é levado em consideração na avalição, tendo peso = 0,5. Para compor esse peso são descontados 0,1 dos pesos da Fotografia, Trilha Sonora/Sonoridade, Atendimento as Expectativas e Valor de Entretenimento e Intelectual









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