sábado, 11 de março de 2017

Logan


A exemplo de Batman: Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Deadpool e Capitão América: Soldado Invernal, Logan transcende o gênero de filme de super-herói. O longa funciona muito bem também como um road movie, e principalmente como um drama.

Dirigido por James Mangold, o filme é a despedida de Hugh Jackman do papel que o consagrou em Hollywood. A história se passa em 2024, onde um Logan mais velho, debilitado fisicamente e amargurado pelo passado, vive na surdina depois da quase extinção dos mutantes. Ele acaba se tornando um motorista de limusine para se sustentar e também ao Professor Xavier, que se tornou um velho doente e que não consegue mais controlar os seus poderes. No entanto, tudo muda quando o caminho de Logan se cruza com o da jovem mutante Laura, e ele acaba se vendo obrigado a cruzar os EUA em uma viagem de carro para salvar a garota.

A despedida de Jackman do papel não poderia ter sido melhor. Com direito ao melhor filme do mutante já produzido. Logan é disparado o melhor filme do Wolverine no cinema, e possivelmente também o melhor do universo dos X-Men. Conforme dito no 1° parágrafo, o filme consegue o raro feito de ultrapassar o gênero de filme de herói, e é isso que o torna tão bom. Não que ser apenas um filme de super-herói seja algo ruim, pelo contrário,
existem excelentes filmes que se concentram 100% no gênero, como  Vingadores, os Batman de Tim Burton e o 2 primeiros Homem Aranha de Sam Raimi. No entanto, quando uma obra, seja ela um filme, um livro ou desenho ultrapassa os limites do seu próprio gênero, essa obra se torna algo maior, mais rico e consequentemente mais interessante.

E esse é justamente o caso de Logan. O filme consegue ser ao mesmo tempo um bom entretenimento e um bom filme dramático. O Wolverine sempre foi um personagem extremamente interessante, cheio de camadas e possibilidades de abordagem. No entanto, nenhum dos filmes anteriores do mutante conseguiu explorar tanto o potencial do personagem. Alguns foram mais bem-sucedidos, outros menos, porém o melhor Wolverine do cinema é sem dúvidas o que é mostrado em Logan. No Logan de James Mangold o protagonista é aproveitado em todas as suas facetas: herói, assassino, lobo solitário, “chucrão”, amargurado e principalmente humano. Sim, essa é a versão mais humana do mutante, que ao mesmo tempo em que é bruto e violento, é também triste e protetor.

Alíás, o grau de realismo é um ponto em que o filme acertou bastante. Além da profundidade do protagonista, o longa estende o realismo para a abordagem dos outros personagens principais, e principalmente para a forma em que a violência é mostrada. As sequências de ação são muito boas, com um alto grau de violência nua e crua, em que são mostrados membros sendo decepados e muito derramamento de sangue. Esse é outro ponto em que Logan se difere dos outros filmes da franquia dos X-Men. O longa é extremamente violento, e não faz questão nenhuma de glorificar a violência, pelo contrário, ela é usada como um instrumento importante para intensificar o drama do filme.

O drama do filme também é intensificado bastante pelas grandes atuações, que são um dos pontos altos do longa. O grande destaque fica é claro com Hugh Jackman, que transmite muito bem toda a amargura de um homem que sofreu muito na vida e que não tem mais vontade de viver. A grande atuação de Jackman é ajudada e muito pela direção de Mangold que usa bastante dos close ups para focar na expressão do ator. Sem falar na maquiagem muito bem-feita que envelheceu o personagem com cicatrizes e rugas, mas sem deixar de mostrar a expressão de Jackman.

Apesar da grande atuação de Hugh Jackman, Patrick Stuart como o Professor Xavier e Dafne Keen como Laura também estão muito bem. Stuart já demostrou em vários outros papeis que é um grande ator, mas a exemplo de Hugh Jackman, Logan foi a melhor oportunidade de mostrar todo o seu potencial na franquia dos mutantes. O ator consegue passar muito bem a ideia que o professor já não é mais o mesmo, sofrendo de uma certa demência, descontrolado, mais ao mesmo tempo mantendo a essência bondosa do personagem dos outros filmes.

Se já era esperado grandes atuações de atores consagrados como Jackman e Stuart, o mesmo não se pode dizer da jovem Dafne Keen, que em seu primeiro grande trabalho no cinema já impressiona apesar de ter apenas 12 anos. A atriz mirim transita muito bem por uma série de sentimentos diversos, como medo, raiva, tristeza e amor. A relação dela com Logan e com o Professor Xavier são responsáveis pelos momentos mais tristes e bonitos do filme.

Apesar de ter uma infinidade de pontos positivos, o filme não é perfeito. O roteiro que é muito competente para construir os personagens principais, falha em relação aos coadjuvantes e principalmente em relação ao vilão do filme. Os personagens secundários e o vilão têm pouca profundidade, não são carismáticos e consequentemente não são muito interessantes. Em relação ao vilão, a ideia que dá é que a história poderia ter sido desenvolvida sem ele. O drama de um Logan debilitado e amargurado é muito mais forte que as barreiras impostas pelo antagonista. É claro que o roteiro precisava de um chamado para a ação (momento da história em que algo acontece para chamar o protagonista relutante para a aventura), no entanto, poderia ter sido pensada uma solução melhor, ou então um vilão mais profundo e interessante.

Apesar desse deslize, o filme não perde muito em qualidade, e muito menos em entretenimento. Com uma direção competente, grandes atuações e uma abordagem visceral e realista, Logan é um dos melhores filmes de super-herói dos últimos anos e até agora um dos melhores filmes de 2017. O longa irá agradar tanto os exigentes fãs de quadrinhos, quanto quem queira apenas uma boa diversão.


NOTA:  8,75


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